O mês de conscientização sobre o Autismo

Abril Azul é mais do que um mês de conscientização sobre o autismo; é um convite para refletirmos sobre o significado real da inclusão

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em 31 de mar de 2025, às 11h52

Foto: Ilustrativa/Pixabay
Foto: Ilustrativa/Pixabay

Por Eduardo Machado

Abril Azul é mais do que um mês de conscientização sobre o autismo; é um convite para refletirmos sobre o significado real da inclusão. Falar sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) dentro do contexto escolar não é apenas discutir diagnósticos e estratégias pedagógicas, mas, acima de tudo, reafirmar um compromisso com o acolhimento, o respeito e a dignidade de cada estudante. Em um mundo onde as diferenças ainda são frequentemente vistas como obstáculos, precisamos lembrar que a educação deve ser um espaço de pertencimento, onde cada aluno, com suas particularidades e formas de ser, encontre um ambiente que o reconheça e valorize.

O autismo é uma condição neurológica que afeta a maneira como a pessoa percebe e interage com o mundo ao seu redor. O espectro é amplo, o que significa que cada indivíduo tem suas próprias necessidades, desafios e talentos. Alguns alunos podem ter dificuldades para compreender sutilezas da linguagem, interpretar expressões faciais ou estabelecer vínculos sociais; outros podem ter hiperfoco em determinados assuntos, demonstrando um conhecimento profundo em áreas específicas. Há aqueles que se sentem sobrecarregados por barulhos, luzes intensas ou mesmo por mudanças na rotina, pois a previsibilidade traz conforto e segurança. Diante dessa diversidade, o papel do professor não é “consertar” ou “ajustar” esses alunos ao modelo tradicional de ensino, mas sim construir um ambiente onde eles possam aprender e se desenvolver de acordo com suas necessidades.

A sala de aula deve ser um espaço de acolhimento e sensibilidade, onde cada aluno autista se sinta respeitado e seguro. Para isso, pequenas mudanças na prática pedagógica podem fazer uma grande diferença. Criar rotinas estruturadas e previsíveis ajuda esses estudantes a se organizarem mentalmente e a se sentirem mais confiantes. Utilizar recursos visuais, como quadros com horários e atividades do dia, permite que compreendam melhor o que está por vir. Evitar mudanças bruscas, sempre explicando antecipadamente qualquer alteração na rotina, reduz a ansiedade e fortalece a relação de confiança entre aluno e professor.

A comunicação também precisa ser adaptada com carinho e paciência. Muitos alunos autistas podem ter dificuldades em processar comandos muito longos ou abstratos, então o ideal é utilizar frases diretas, reforçar verbalmente as instruções e, quando possível, apoiar-se em imagens ou gestos. Além disso, é fundamental respeitar o tempo de resposta do aluno, evitando apressá-lo ou cobrar interações forçadas. Cada pessoa tem seu ritmo próprio, e a escola precisa aprender a caminhar junto com cada estudante, ao invés de exigir que todos sigam o mesmo passo.

Outro aspecto essencial é a socialização. Muitas crianças e adolescentes autistas querem se conectar com os outros, mas podem não saber exatamente como fazer isso dentro dos padrões sociais comuns. Em vez de forçar interações ou tentar “ensinar” comportamentos considerados normativos, o mais importante é criar um ambiente onde essas relações aconteçam de forma natural e respeitosa. Ensinar a turma sobre empatia, sobre diferentes formas de comunicação e sobre a importância da inclusão ajuda a construir um espaço escolar mais humano e acolhedor para todos.

E não podemos esquecer de algo fundamental: a valorização das singularidades. Em vez de focarmos apenas nas dificuldades, precisamos reconhecer as habilidades únicas que muitos alunos autistas possuem. Alguns têm uma memória excepcional, outros se destacam em raciocínio lógico, criatividade ou artes. O papel do professor é perceber essas potencialidades e usá-las como pontos de partida para a aprendizagem. Quando um estudante sente que sua forma de ver o mundo é respeitada e valorizada, ele se torna muito mais engajado no processo educativo.

Mais do que um mês de conscientização, o Abril Azul deve ser um lembrete de que a inclusão não pode ser apenas uma ideia bonita no papel. Ela precisa ser uma prática cotidiana, construída com respeito, paciência e afeto. A escola tem o poder de transformar vidas, e essa transformação começa quando enxergamos cada aluno não como alguém que precisa se encaixar, mas como alguém que merece ser aceito exatamente como é. Educar é, antes de tudo, um ato de humanidade. Que possamos fazer do ambiente escolar um lugar onde todos tenham espaço para aprender, crescer e, acima de tudo, serem felizes.

** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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