O valor da diversidade cultural na escola

Quando a escola se propõe a conhecer e valorizar outras culturas, ela se transforma num lugar de escuta verdadeira

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em 10 de abr de 2025, às 14h27

Foto: Reprodução/Intermet
Foto: Reprodução/Intermet

Por Eduardo Machado

Em tempos de incertezas e conflitos cada vez mais evidentes, a escola permanece sendo um dos últimos espaços onde é possível cultivar, de forma profunda e consciente, valores que podem transformar o mundo. Dentre esses valores, o respeito pela diversidade cultural é, sem dúvida, um dos mais urgentes e necessários. Falar sobre a importância de conhecer outras culturas no ambiente escolar não é apenas defender um conteúdo a mais no currículo, mas sim reivindicar uma postura ética, humana e inclusiva diante da vida e do outro.

A diversidade cultural não é um adorno da sociedade; ela é o seu próprio tecido. Cada pessoa que entra numa escola — seja aluno, professor, funcionário, mãe, pai ou cuidador — carrega consigo uma história, uma bagagem simbólica feita de afetos, crenças, práticas e saberes. Ignorar essa diversidade é apagar a singularidade do sujeito. É dizer, mesmo que silenciosamente, que há um modelo padrão de existência que deve ser seguido — e todos os outros precisam se adaptar ou desaparecer. É por isso que o compromisso com o conhecimento e o respeito às diferentes culturas deve estar no centro do fazer pedagógico.

Quando a escola se propõe a conhecer e valorizar outras culturas, ela se transforma num lugar de escuta verdadeira. Passa a ser possível, por exemplo, não apenas estudar os povos indígenas como um conteúdo do passado, mas ouvir a fala de um aluno indígena em sala, aprender com a sabedoria ancestral que ele carrega, compreender seus tempos, seus silêncios, sua forma de estar no mundo. Passa a ser possível acolher a fé de matriz africana com a mesma dignidade com que se acolhe qualquer outra expressão religiosa, e reconhecer que o racismo cultural precisa ser enfrentado com coragem e consciência.

A abertura à diversidade cultural também nos obriga a olhar com mais cuidado para os estudantes em situação de migração, para as famílias que vieram de outras partes do Brasil ou do mundo e que muitas vezes enfrentam barreiras linguísticas, econômicas e emocionais. Ao invés de vê-los como “alunos que precisam se adaptar”, a escola deve ser espaço de acolhimento ativo, onde as diferentes línguas, modos de vestir, formas de se alimentar, de aprender e de expressar afeto sejam respeitadas e, mais do que isso, valorizadas.

Essa valorização não acontece apenas com projetos pontuais, mas com uma mudança de olhar. Ela acontece quando o professor entende que seu papel não é apenas ensinar conteúdos, mas também ensinar convivência, ensinar cuidado, ensinar a difícil arte de viver junto sem apagar o outro. A educação para a diversidade cultural é, portanto, uma educação para a empatia. É ensinar às crianças que o diferente não é uma ameaça — é uma possibilidade de crescimento. Que há muitas formas de ser, de pensar, de viver, e que nenhuma delas é superior à outra por si só.

E aqui entra um ponto essencial: a inclusão só é verdadeira quando é também cultural. Muitas vezes falamos sobre inclusão em termos físicos, pedagógicos, legais — e tudo isso é necessário. Mas se não formos capazes de incluir as culturas dos sujeitos que compõem a escola, estaremos apenas promovendo uma inclusão superficial, que não transforma o sentimento de pertencimento de ninguém. A criança só se sente incluída quando percebe que aquilo que ela é — em sua história, em sua origem, em seu modo de viver — é bem-vindo e respeitado.

Incluir é, nesse sentido, escutar. É permitir que vozes que por tanto tempo foram caladas finalmente possam falar. É reconhecer que o currículo, muitas vezes eurocentrado, precisa ser revisto, ampliado, atravessado por outros saberes. É aceitar que nós, educadores, também estamos sempre aprendendo. E que não há nenhuma vergonha em dizer: “eu não sabia disso, mas quero aprender com você”.

Num mundo tão marcado por divisões, preconceitos e intolerâncias, formar estudantes que respeitam outras culturas é uma das maiores contribuições que a escola pode dar à sociedade. Porque esses estudantes — mais do que bons alunos — serão bons cidadãos, bons colegas, bons profissionais, bons seres humanos.

Por isso, que nossas salas de aula não sejam espaços de uniformização, mas sim jardins de pluralidade. Que possamos ensinar nossos alunos a se encantarem com o que é diferente, a escutarem com o coração aberto, a compreenderem que a riqueza do mundo está justamente na sua diversidade. E que, nesse caminho, a escola não apenas prepare para o futuro — mas ajude a curar as feridas do presente. Porque cada vez que uma criança aprende a respeitar outra por aquilo que ela é, estamos um passo mais perto de um mundo mais justo, mais sensível e mais bonito.

** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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