Saúde e Bem-estar

Clonazepam: uso contínuo do calmante mais vendido preocupa especialistas

Dependência de clonazepam cresce entre idosos e revela solidão e falta de acolhimento.

A foto mostra Rivotril
FOTO: Redes Sociais

O clonazepam, conhecido comercialmente como Rivotril, é o calmante mais vendido no Brasil. Só em 2024, foram 39 milhões de caixas comercializadas, de acordo com a Anvisa. O remédio, indicado para crises de ansiedade, insônia e epilepsia, transformou-se, dessa forma, em parte da rotina de milhões de idosos — e em um problema silencioso de dependência.

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Nos consultórios, médicos relatam-se histórias semelhantes: pacientes que usam o medicamento há anos, sem lembrar quando começaram. O efeito rápido e eficaz reforça o hábito, mas o uso contínuo causa prejuízos sérios, como perda de memória, confusão mental e risco de quedas.

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Por que o clonazepam virou rotina

O Brasil vive um envelhecimento solitário e ansioso. O baixo custo — menos de R$ 6 por caixa — e a ampla distribuição pelo SUS facilitaram, desse modo, o acesso. Com o tempo, o calmante passou a ser usado não só para tratar sintomas clínicos, mas também para aliviar solidão, luto e dor emocional.

“O medicamento acalma, mas não resolve a causa. Quando o corpo se adapta, a dose deixa de fazer efeito e a pessoa aumenta por conta própria”, alerta a psiquiatra Simone Kassouf, da rede Somente.

O geriatra Pedro Curiati, do Sírio-Libanês, explica que o metabolismo mais lento dos idosos favorece o acúmulo da substância no organismo, o que aumenta o risco de dependência e confusão mental.

O ciclo da dependência

O uso prolongado altera a química cerebral. O corpo aprende a relaxar apenas com o remédio e, ao tentar parar, o paciente sente o chamado efeito rebote — ansiedade e insônia intensificadas. Por isso, o desmame deve ser lento e supervisionado por um médico.

A psiquiatra Camilla Pinna, da UFRJ, destaca que o tratamento ideal combina acompanhamento psicológico e mudanças de rotina: prática de atividades físicas, exposição à luz natural, horários fixos para dormir e redução do consumo de café e telas à noite.

Um retrato do envelhecimento brasileiro

A geração que começou a usar clonazepam nos anos 1990 envelheceu com ele. Muitos têm dependência física e emocional, sustentada por décadas de prescrição facilitada e pouca informação.

“O remédio virou parte da identidade de quem envelheceu com ele”, diz o psiquiatra Tales Cordeiro, da USP. Hoje, o desafio é duplo: tratar a dependência e acolher o sofrimento emocional que levou ao uso.

Caminhos para uma virada segura

Os especialistas reforçam que nunca se deve suspender o clonazepam de forma abrupta. A retirada gradual, feita com orientação médica, reduz riscos e melhora o sono natural com o tempo.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é o tratamento mais eficaz, mas ainda tem acesso restrito no sistema público. Pequenas mudanças no estilo de vida, aliadas ao apoio familiar, podem reduzir o uso e devolver autonomia.

Com base nas informações do portal Globo.

Formada em Letras e Direito, com especialização em Linguística, Literatura e Publicidade & Propaganda. Possui experiência em Gestão Pública e Pedagógica. Atua na editoria de Saúde e Bem-Estar do AQUINOTICIAS.COM, na plataforma Viva Vida.