Saúde e Bem-estar

Saúde mental das mulheres negras: veja os desafios desse grupo

A psicanálise amefricana oferece uma nova abordagem para entender o sofrimento psíquico das mulheres negras, considerando a realidade de desigualdades sociais e raciais.

Beatriz Fraga Beatriz Fraga

A foto mostra mulheres negras relacionando-as ao tema saúde mental
FOTO: Freepik

Em Julho das Pretas, mês dedicado às mulheres negras da América Latina e Caribe, há a urgência de se repensar a saúde mental das mulheres negras. É importante pensar esse caso dentro de uma perspectiva mais justa e inclusiva. Infelizmente, a psicanálise tradicional, ainda tem marcas da visão brancocêntrica e eurocêntrica. Ela não está preparada para compreender o sofrimento psíquico gerado pelas desigualdades estruturais que afetam essa população.

Desigualdades que afetam a saúde mental das mulheres negras

Mulheres negras, no Brasil, enfrentam múltiplos desafios de saúde mental, muitos dos quais têm raízes em desigualdades históricas. Elas são mais vulneráveis a doenças crônicas, violência e têm menos acesso à saúde preventiva, além de serem as principais vítimas de mortalidade materna. A combinação de racismo e machismo cria, assim, um ambiente de sofrimento psíquico coletivo, que precisa considerar esses fatores estruturais.

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De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, 10,4% das mulheres negras relataram ter sido diagnosticadas com depressão. Esse é um número alarmante que destaca, principalmente, os efeitos das desigualdades sociais. A psicanálise, centrada na experiência do homem branco europeu, não leva em consideração as vivências das mulheres negras. Elas enfrentam uma realidade marcada pelo racismo e pela precariedade social.

A psicanálise amefricana: uma nova abordagem

Com base em estudos de Edlamar França, psicanalista negra, a área precisa romper com sua visão colonizadora. Ela propõe a psicanálise amefricana, uma abordagem que considera as contribuições das culturas africanas, indígenas e europeias. Conforme França, pensadoras como Lélia González e Virgínia Bicudo ajudaram a moldar uma nova forma de entender o sofrimento psíquico de um povo diverso como o brasileiro. A psicanálise amefricana reconhece que o inconsciente do povo brasileiro é profundamente influenciado por essas diferentes matrizes culturais e, por isso, propõe uma escuta mais inclusiva e sensível.

Caminhos para a transformação: políticas públicas e solidariedade

Dessa forma, acredita-se que o enfrentamento dos desafios psíquicos das mulheres negras deve passar por mudanças estruturais e coletivas. A mobilização social e a criação de políticas públicas que reduzam as desigualdades de gênero e raça são fundamentais para garantir, desse modo, um espaço mais acolhedor e igualitário para essas mulheres. A psicanálise, segundo especialistas, precisa se abrir para novas perspectivas e aceitar que as questões raciais e históricas afetam diretamente a saúde mental.

Destaca-se, também, a importância de iniciativas como a Revista de Psicanálise Bô Kibunda, que busca repensar a psicanálise à luz das contribuições culturais e intelectuais negras. Além disso, devem ser organizados ciclos de debates para fomentar um entendimento mais profundo sobre as experiências das mulheres negras e os desafios psíquicos que elas enfrentam.

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