Anticoncepcional causa infertilidade? veja o que dizem os especialistas
Segundo Petracco, o que realmente interfere na fertilidade é o envelhecimento ovariano.

O anticoncepcional oral, além de prevenir a gravidez, trouxe benefícios importantes para a saúde feminina, como o controle do ciclo menstrual e a redução de sintomas hormonais. No entanto, é comum que surja a dúvida: o uso prolongado da pílula pode afetar a fertilidade?
Receba as principais notícias no seu WhatsApp! clique aquiO endocrinologista e especialista em reprodução assistida Álvaro Petracco, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), esclarece que não há relação entre o uso de anticoncepcionais e a infertilidade. Segundo ele, o método não reduz a reserva ovariana nem causa danos permanentes. “Durante o uso contínuo, os ovários apenas entram em repouso funcional, deixando de ovular temporariamente por efeito dos hormônios”, explica.
Leia também: Nova pílula reduz em até 60% o risco de AVC em hipertensos
De acordo com o médico, após a suspensão do anticoncepcional, o corpo leva de dois a três meses para restabelecer o equilíbrio hormonal e retomar a ovulação de forma natural. O tempo pode variar conforme o tipo de método e o histórico de saúde de cada mulher, mas, na maioria dos casos, a fertilidade retorna rapidamente.
O ginecologista e especialista em reprodução humana Adelino Amaral reforça que não há evidências científicas de que o uso prolongado da pílula comprometa a capacidade de engravidar. “A maioria das mulheres volta a ovular em poucas semanas. Quando há dificuldade para conceber, o problema geralmente já existia antes, mas só se torna perceptível após interromper o uso”, destaca.
Idade e fatores de saúde influenciam mais que o anticoncepcional
Segundo Petracco, o que realmente interfere na fertilidade é o envelhecimento ovariano. Com o passar dos anos, a quantidade e a qualidade dos óvulos diminuem, especialmente após os 35 anos. Muitas mulheres atribuem a dificuldade de engravidar ao uso da pílula, quando o motivo, na verdade, está no avanço da idade ou em condições pré-existentes, como endometriose, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e obstrução das trompas.
O especialista explica que o anticoncepcional pode mascarar sintomas dessas doenças, já que o ciclo regular induzido pelos hormônios dá a falsa impressão de que está tudo bem. Quando o método é interrompido, os sinais dessas condições podem se tornar evidentes.
Em geral, o retorno à fertilidade acontece de forma rápida, mas há exceções. O uso do anticoncepcional injetável à base de medroxiprogesterona pode atrasar a ovulação por até um ano. Já métodos como DIU hormonal, pílula tradicional ou implante tendem a permitir uma recuperação mais imediata.
Durante a pausa, o retorno da menstruação regular, o muco cervical transparente e as cólicas menstruais leves indicam que o corpo voltou ao funcionamento natural. Caso o ciclo permaneça irregular por mais de três meses, a orientação é procurar o ginecologista.
Avaliação e acompanhamento
Para medir a fertilidade após o uso prolongado do anticoncepcional, os médicos recomendam suspender o método e aguardar de dois a três ciclos antes de realizar exames como a dosagem do hormônio antimülleriano e a contagem de folículos antrais, que avaliam a reserva ovariana.
Amaral destaca que o acompanhamento médico varia conforme a idade. Mulheres com menos de 35 anos podem tentar engravidar naturalmente por até um ano antes de procurar ajuda especializada, enquanto aquelas acima dos 35 devem buscar avaliação após seis meses sem sucesso.
Os especialistas ressaltam que o anticoncepcional foi um marco no controle reprodutivo e deve ser usado de forma consciente. Para Petracco, o mais importante é o acompanhamento periódico da saúde reprodutiva. “A pílula permite planejar o momento ideal para a maternidade, mas esse processo precisa ocorrer com informação e acompanhamento médico adequado”, conclui.