Saúde e Bem-estar

Dia Mundial do TDAH: banalização nas redes sociais atrasa diagnóstico

O alerta do neurocientista vai além do comportamento aparente. Segundo ele, os danos causados por esse consumo digital excessivo não se limitam à distração momentânea

Por Redação

3 mins de leitura

em 09 de jul de 2025, às 11h24

 Foto Ilustrativa (Reprodução/FreePik
Foto Ilustrativa (Reprodução/FreePik

O Dia Mundial de Conscientização sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), celebrado em 13 de julho, reacende um alerta crítico: a banalização do TDAH nas redes sociais, impulsionada por conteúdos rasos, autodiagnósticos e popularização irresponsável de sintomas complexos.

De acordo com o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, Pós PhD em neurociências e especialista em comportamento humano, essa onda de desinformação digital tem feito com que muitas pessoas acreditem ter TDAH simplesmente por apresentarem dificuldades de foco, ansiedade ou impulsividade, sintomas que também são efeitos colaterais diretos da hiperestimulação digital.

“O uso constante de redes sociais, com estímulos rápidos, recompensas instantâneas e sobrecarga sensorial, provoca um estado de atenção fragmentada e ansiedade contínua. Isso imita os sintomas do TDAH, mas não é TDAH. É uma disfunção criada por hábitos digitais nocivos”, explica o Fabiano.

Quando o cérebro deixa de consolidar memórias: o risco invisível da era digital

O alerta do neurocientista vai além do comportamento aparente. Segundo ele, os danos causados por esse consumo digital excessivo não se limitam à distração momentânea, mas afetam a estrutura neuroquímica do cérebro.

“A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar e se remodelar. Quando exposto repetidamente a estímulos de curto prazo e atenção volátil, o cérebro se ajusta a essa lógica. Com isso, perde a capacidade de manter a atenção sustentada, o que afeta diretamente a memória de trabalho, responsável por manter informações ativas por tempo suficiente para consolidar a memória de longo prazo”, destaca.

A consequência disso é o emburrecimento funcional de uma geração: jovens com dificuldade crescente de pensar criticamente, refletir em profundidade ou reter conhecimento.

Além disso, o pouco uso do hipocampo, região central para a memória e aprendizado, pode levar à sua atrofia, aumentando riscos de transtornos cognitivos, depressão e até demência precoce.

Diagnóstico de TDAH exige profundidade e responsabilidade

Fabiano de Abreu Agrela reforça que o diagnóstico de TDAH é clínico, fundamentado em critérios rigorosos estabelecidos por organizações internacionais de saúde, e não pode ser feito por vídeos curtos, quizzes online ou conteúdos de influencers.

“Diagnosticar um transtorno neurobiológico complexo exige análise de histórico familiar, persistência dos sintomas desde a infância e impacto funcional em várias áreas da vida. É um processo sério, que exige formação e responsabilidade profissional”, disse.

Banalizar o TDAH é deslegitimar quem realmente vive com o transtorno

A popularização do diagnóstico não apenas dificulta o tratamento correto, como estigmatiza quem realmente tem TDAH.

Pessoas afetadas passam a ser vistas como distraídas, desorganizadas ou desinteressadas, quando, na verdade, enfrentam desafios profundos de autorregulação e desempenho cognitivo.

Cuidados recomendados: Hábitos que ajudam a reequilibrar o cérebro

O neurocientista recomenda que, diante de sintomas como falta de foco, inquietação ou procrastinação, as pessoas reavaliem seus hábitos digitais antes de buscar qualquer diagnóstico. E sugere práticas imediatas:

Redução consciente do tempo de tela

  • Atividades físicas regulares;
  • Hobbies offline e práticas criativas;
  • Qualidade de sono e rotinas estruturadas;
  • Avaliação profissional com especialistas em neurociência e saúde mental.

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