Apesar da vitória por 3 a 0 do Santos sobre o Bahia, com boa atuação na Vila Belmiro nesta quarta-feira (10), o técnico Odair Hellmann foi para a coletiva de imprensa sabendo que não conseguiria falar apenas sobre o jogo, já que o clube virou um dos assuntos da semana por causa do zagueiro Eduardo Bauermann, investigado por participar de um esquema de apostas esportivas. Questionado sobre o assunto, o treinador lamentou o envolvimento do jogador que conhece desde criança, mas defendeu que ele seja usado como exemplo para que casos como esse não se repitam.
“O que tem que ser feito, julgado e levado em frente cabe à Justiça. Há passos jurídicos que o clube precisa respeitar. Eu sou treinador de futebol, entro no aspecto de dizer que todos ficamos tristes. Conheço o Eduardo desde os dez anos de idade, é um companheiro, um atleta que vocês (imprensa) também conhecem, têm a mesma percepção e análise a respeito dele. Mas, como qualquer ser humano, como eu, como você, como nós todos aqui, cometeu um erro. Se julgado, comprovado e associado, que pague a sua pena, que tenha a responsabilização, isso serve para nós todos. Isso é um parte. A outra é nós temos que seguir adiante, ir em frente. Somos Profissionais, a resposta foi o hoje”, afirmou.
Odair acredita que seja necessária uma reflexão coletiva de todos os setores envolvidos para encontrar formas de impedir condutas impróprias no esporte. Para ele, as punições precisam ser severas, mas é preciso tomar cuidado com acusações injustas que podem surgir na esteira dos casos comprovados.
“Claro que deixa todo mundo triste. Nós fazemos parte de uma paixão que é o futebol. Neste momento, não tem tristeza maior, seja minha, de vocês ou do torcedor. Há uma tristeza geral pelo processo todo. Tomara que esse passo sirva de exemplo e a gente possa corrigir o rumo. Que a gente possa dar um outro passo, não apenas como demos de concentração, de foco, de repostas pra nós mesmos, mas que a gente possa pegar isso para nós do futebol e que sirva de exemplo. Que a gente trilhe o caminho que o esporte nos traz”, disse.
“O que acaba acontecendo é que uma situação dessa todos vão para o mesmo pacote. Daqui a pouco, começam a surgir situações na rede social que alguém fez, aquele não fez. Cria um ambiente em que se desconfia de todo mundo. temos de unir os culpados, pegar isso como exemplo e levar adiante. Ver forma como as casas de apostas, individualmente as pessoas para que isso não aconteça mais. Uma punição severa. Não podemos, neste momento, criar ilações, porque se não a gente não para. Nós precisamos dar o passo seguinte, todos juntos. Se a gente ficar em dúvida, perdemos tudo. Punição para quem tem que ser punido”, concluiu.
Antes da coletiva de Odair, o capitão do Santos, Alison, também falou sobre o caso, sem se aprofundar muito. Apenas admitiu que o elenco ficou ‘chateado’ com a situação “Essa resposta foi muito importante, representa muito a vitória de hoje para o nosso grupo, para o Santos. Não estamos num momento fácil. É um momento difícil, não dá para negar. Os últimos acontecimentos chatearam muito a gente. Também sentimos, é nítido, não posso negar aqui, mas nossa vida continua. É jogo atrás de jogo”, disse.
O CASO
Conversas interceptadas pelo Ministério Público de Goiás apontam a participação de Eduardo Bauermann em um esquema de apostas. Em diálogo por aplicativo de mensagens, ele é cobrado por um integrante de uma quadrilha de apostadores por não ter forçado um cartão amarelo em jogo contra o Avaí, em novembro do ano passado. Em seguida, pedem que o defensor santista compense sendo expulso contra o Botafogo. Nos sites de apostas, é possível apostar se determinado jogador será advertido.
A investigação do MP revelou como foram feitas as negociações, trato e distrato do esquema de manipulação de resultados que buscava afetar jogos das Séries A e B do Campeonato Brasileiro e partidas do Paulistão e do Campeonato Gaúcho deste ano. Na denúncia, a que o Estadão teve acesso, os apostadores mostram como audácia e ameaças permearam a relação dos apostadores com os jogadores de futebol cooptados pela quadrilha.
No caso de Bauermann, ficou acordado que o jogador santista receberia ao menos R$ 50 mil para provocar a punição contra o Avaí, mas ele não recebeu cartão. O descumprimento do combinado deixou o empresário Romarinho, um dos integrantes do grupo de apostadores, muito irritado. “Você vai pagar todo o meu prejuízo”, escreveu em uma mensagem para o zagueiro.
De acordo com as conversas reveladas pelo MP, Bauermann acionou seu empresário Luiz Taveira para ajudar a resolver a situação. As mensagens seguintes mostram que o problema teria sido contornado. Então, na véspera do duelo com o Botafogo, o empresário Romarinho realizou uma videochamada com Bauermann, em 9 de novembro, para tramarem o que, nas palavras dele, seria uma “coisa boa”. Romarinho e Bauermann efetuam a chamada de vídeo para acertar detalhes da armação. O encontro virtual está registrado em um print tirado durante a conversa.
No duelo com o Botafogo, Bauermann cumpre o novo acordo e recebe um cartão vermelho após o apito final, por reclamação. Porém, o zagueiro desconhecia uma regra das casas de apostas que invalidam advertências recebidas após o término da partida. O empresário, então, cobra que o zagueiro devolva os R$ 50 mil pagos antecipadamente. Bauermann diz que está “correndo atrás para conseguir pagar esses R$ 800 mil (valor que arrecadaria caso a aposta fosse validada) que você falou” e chega a oferecer seu passe para compensar.
Estadao Conteudo
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