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Especial

“Nos olham com desprezo”, diz jovem que reivindica Cordão de Girassol

Muniz Freire poderá ser o primeiro município do Estado a disponibilizar gratuitamente o Cordão de Girassol para quem sofre com Deficiências Ocultas.

Por Diorgenes Ribeiro

5 mins de leitura

em 07 de maio de 2024, às 11h22

Foto: Divulgação/Redes Sociais

A jovem Lethicia Saloto de Almeida, de 23 anos, descobriu que sofria de uma deficiência neurodegenerativa, quando tinha apenas 12 anos.

Ela conta que tudo começou quando a equipe pedagógica da escola onde estudava, recomendou a seus pais que ela deveria passar por uma consulta com um neurologista. Ao receber o diagnóstico, Lethicia diz que “doeu de mais, pois era apenas uma criança”.

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Após tomar medicações, concluiu o tratamento. A jovem não queria aceitar o Tremor Essencial. Passados 10 anos, a agora Bacharel em Direito, aceitou o diagnóstico e tenta lidar com sua deficiência.

Ativista do Cordão de Girassol

Atualmente, Lethicia se considera uma ativista da causa das pessoas com deficiência (PcD), e utiliza suas redes sociais para falar e apresentar o que é a Deficiência Oculta para seus seguidores.

“Em outubro de 2023, confirmei meu Tremor Essencial. A minha neurologista me incentivou a lutar pelos direitos das pessoas com deficiências, já que estava me formando em Direito. Isso mexeu muito comigo”, diz.

Vendo a realidade de Muniz Freire, cidade onde vive, com pouco mais de 18 mil habitantes, e passando por um processo de adaptação, Lethicia começou a estudar, pesquisar e compreender o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Nessa busca, ela descobriu a Lei do Cordão de Girassol.

“Comprei o meu cordão, mas não via o atendimento prioritário para quem usava o cordão em minha cidade. Se estou sem ele, não sou identificada como uma pessoa com deficiência”, conta.

A jovem advogada viaja para vários lugares. Esse ano, por exemplo, ao passar férias em Aracruz, no Norte do Estado, na casa de uma tia, onde teve uma experiência que mudou sua forma de ver quem sofre com a Deficiência Oculta.

“Estando lá, fui a um supermercado. Por um momento, esqueci que estava com o Cordão de Girassol, e uma moça de um dos caixas me chamou e disse: ‘Ei, você está com o cordão de girassol, você tem direito ao atendimento prioritário, pode passar na frente’”, explica.

Diante deste fato, ela procurou saber se em sua cidade tinha alguma lei ou instrução parecida. Logo chegou à conclusão de que não tinha nada para dar suporte neste aspecto aos que sofrem desta deficiência.

Redes sociais para conscientizar

A ativista conta que após realizar postagens nas suas redes sociais sobre o que era o Cordão de Girassol e ter feito reclamações, um supermercado da cidade abriu um caixa prioritário para pessoas com deficiências ocultas.

“Após este ocorrido procurei um vereador no município que me deu apoio, juntamente com o prefeito. Após um diálogo foi proposto um projeto de lei para a criação da Lei do Cordão de Girassol em Muniz Freire”, explica.

Hoje ela utiliza suas redes sociais para divulgar e incentivar outras pessoas a conhecerem e buscarem mais informações sobre as deficiências ocultas.

“Nós, que temos transtornos e deficiências ocultas, sofremos com a inviabilidade. Todas as pessoas olham para a gente com um olhar de desprezo. Eu sou uma das poucas que tenho coragem de pegar e falar”, pontua.

Discriminação

No dia a dia, a ativista frisa que já ouviu histórias de pessoas maltratadas por servidores públicos e na iniciativa privada, que são portadores de deficiências ocultas e não tiveram coragem de reclamar.

“Essa lei, que terá meu nome, é muito importante para divulgar a inclusão em Muniz Freire. Diante disso, nossa cidade vai parar e se atentar para a importância do Cordão de Girassol”, frisa a jovem.

Além da identificação, o Cordão de Girassol com carteira de identificação serve não apenas para ter prioridade em atendimentos, mas oferecer o suporte necessário quando o portador necessitar em vias públicas.

Uma pioneira da causa

Com orgulho, Lethicia garante que foi a primeira cidadã munizfreirense a adquirir o Cordão de Girassol. E com sua influência nas redes sociais mais cidadãos foram se interessando e identificando que possuem deficiências e transtornos ocultos, e adquirindo também.

“Agora, quando a lei for aprovada, quem viveu uma vida invisível vai poder ter seu cordão e sua identidade de graça”, continua.

Reconhecimento do Poder Público

Na expectativa de que a Câmara de Vereadores aprove nos próximos dias o projeto de lei, Lethicia diz que Muniz Freire poderá ser o primeiro município do Estado a disponibilizar gratuitamente o Cordão de Girassol para quem sofre com Deficiências Ocultas.

No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande sancionou o uso do Cordão de Girassol como instrumento auxiliar de orientação para identificação de pessoas com deficiências ocultas, em dezembro de 2021.

Já no Brasil, a lei que formaliza o uso da fita com desenhos de girassóis como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas, foi sancionada, em 2023, pelo então presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin.

O que é o Cordão de Girasol?

O Cordão deve consistir em uma faixa estreita de tecido ou material equivalente, na cor verde, estampada com desenhos de girassóis, podendo ter um crachá com informações úteis, a critério do portador ou de seus responsáveis. O crachá contendo as informações pessoais da pessoa com deficiências ocultas, mesmo que não esteja com o Cordão de Girassol, deverá estar obrigatoriamente com o portador do Cordão ou com seu acompanhante.

Conheça as deficiências ocultas

As deficiências ocultas podem ser: auditivas, visuais, intelectuais, paralisia cerebral ou de pessoas que estão dentro do espectro autista, por exemplo; ou doenças como asma e diabete, dentre outras.

Cordão de Girassol
Foto: Divulgação/Internet

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