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Jornalista morre aos 26 anos; entenda o motivo

Tereza diz que Beatriz encheu a casa de agitação desde o primeiro momento de sua chegada.

Por Estadão

5 mins de leitura

em 10 de nov de 2024, às 17h22

Foto: Reprodução | Rede social
Foto: Reprodução | Rede social

Beatriz chegou à família Capirazi com um ano e três meses de idade. Sua mãe biológica a alugava para que a usassem para pedir esmolas na rua e uma denúncia ao conselho tutelar a colocou em um abrigo onde ficou por um ano, até que acabasse na casa da professora Maria Tereza Bergamin e do projetista Ariovaldo Arcas Capirazi, na Lapa, em São Paulo.

O casal, que havia perdido um filho ainda em gestação, partiu para a adoção, um desejo que sempre esteve na cabeça de Tereza. “O primeiro presente que minha cunhada deu à Beatriz foi um livrinho”, diz Tereza. “Foi um gesto que se repetia todos os anos e, com o passar do tempo, ela se tornou uma pessoa apaixonada por ler e escrever, vivia com livros para cima e para baixo.”

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Repórter do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) desde abril, Beatriz Capirazi, de 26 anos, morreu às 2 horas da manhã deste domingo, de parada cardiorrespiratória. Egressa do 12º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão/Broadcast em 2022, ela foi repórter do jornal O Estado de S. Paulo na cobertura de ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) e atualmente era responsável pela área de saúde na Agência Estado.

Segundo a mãe, Beatriz começou a passar mal com crise de ansiedade, tontura e dificuldade respiratória na segunda-feira, 4 de novembro. Apesar de ter feito exames que não constataram problemas cardíacos, teve novas idas e vindas ao hospital, mas voltou a piorar no sábado. Desmaiou e recebeu massagem cardíaca feita pelo pai, mas quando o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os bombeiros chegaram à casa para os procedimentos de emergência, Beatriz não respondeu.

Tereza diz que Beatriz encheu a casa de agitação desde o primeiro momento de sua chegada. Com olhos grandes e escuros, era a cara da mãe, tanto que “a madrinha nem se conformava”, diz ela. Tinha o cabelo grosso e cacheado, que adorava e era motivo de briga porque só queria cortar “um dedinho”. Adorava coxinha, pastel e brigadeiro. Era exigente, muito risonha e perfeccionista.

Todos os colegas confirmam esse traço da personalidade de Bia, como era conhecida na redação. “Ela era muito preocupada em não deixar a gente na mão, em fazer sempre mais”, diz Beth Moreira, que trabalhava diretamente com Bia no Broadcast. “Bia sempre fazia mais, além do que havia sido pedido, era muito proativa e trazia uma luz à editoria, sempre com uma boa história, uma frase engraçada, essas sacadas de jovens, que renovam a gente.”

No curso de focas, como são chamados os postulantes à carreira de jornalista, por exemplo, Bia recebeu a missão de fazer um projeto especial sobre criptomoedas e tokenização, um assunto bastante árido. “Passei alguns especialistas, indiquei um curso e ela voltou com muito, mas muito mais”, afirma Luana Pavani, editora do Broadcast e mentora de Bia durante o programa. “Era o tipo de repórter que a gente tem de falar: ‘ó, tá bom, já pode parar’. A gente chamava ela no curso de ‘Bia, a incansável’.”

Carla Miranda, editora do Estadão e coordenadora dos Cursos de Jornalismo há 12 anos, diz que Bia sempre foi uma das grandes promessas de sua turma, em 2022. Tanto que se tornou um destaque, ficou no Grupo Estado desde o primeiro momento e foi disputada em várias editorias das empresas. “Ela era muito determinada, sabia o que queria”, diz. “Mas, ao contrário de muita gente que é muito firme e se afasta do grupo, ela criou uma relação próxima e era muito ligada aos colegas.”

Os amigos do curso de focas tinham dificuldade em falar sobre a Bia na manhã deste domingo, por conta da emoção. “Fizemos o curso juntos e ela se tornou minha melhor amiga em São Paulo”, diz Jean Mendes, analista de mídias sociais do Broadcast. “Éramos sempre os primeiros a chegar no Estadão, tomávamos café juntos todos os dias e eu admirava como ela era dedicada a todas as missões que eram entregues, ao mesmo tempo em que sabia trabalhar em equipe e era falante, comunicativa e brincalhona.”

Renata Leite, também companheira de curso, diz que apesar de ser mais jovem, Bia a acolheu com palavras e conhecimento e foi a primeira pessoa com quem trabalhou a falar de adoção, uma situação vivida por ambas. “Nossas histórias eram muito parecidas e tínhamos planos de fazer algumas pautas sobre o tema”, diz Renata. “Trocávamos muitas experiências e ela era muito preciosa para mim.”

O fato de ter sido adotada marcou Beatriz. Na faculdade, ela escreveu o livro “Vidas Sucateadas – Um olhar sobre a devolução de crianças adotadas”, no qual colheu depoimentos de jovens que passaram por essa situação, bem como com psicólogos e especialistas. Passou meses, inclusive, frequentando a Vara da Família e da Juventude para essa pesquisa. Ela tinha planos de escrever um segundo livro, com as pessoas que saem dos abrigos na maioridade, sem ter opção de onde ir.

Tereza diz que houve muitos momentos nos quais Beatriz encheu os pais de orgulho. Ela entrou na Unip, na qual cursou Jornalismo, em terceiro lugar e se graduou com honras. “Talvez o maior orgulho tenha sido quando na formatura, bastante simples, o professor Sergio Braga nos disse que ela era uma aluna brilhante, com um grande futuro no Jornalismo e que ele queria ter uma aluna como ela em cada sala”, diz Tereza.

Na última semana, o cachorro da família, um fox paulistinha por quem Beatriz era apaixonada, “passou o tempo todo jururu e estava irreconhecível, sem latir, mesmo com toda a movimentação pela casa”, segundo Tereza.

Na sexta e sábado, mãe e filha passaram a noite assistindo ao drama “Sorriso real” na Netflix no condomínio em Carapicuíba, na grande São Paulo, para onde se mudaram quando Beatriz tinha sete anos. “Rimos demais”, afirma Tereza. “Eram cenas bobas e leves, mas adoramos.”

Bia será velada no Cemitério da Lapa, a partir das 10 horas da segunda-feira, 11, e o enterro será às 14h30 do mesmo dia.

Estadão Conteúdo

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