Especial

Tradição e orgulho: o passado glorioso dos clubes de Cachoeiro

Dentre tantos clubes que fizeram história em Cachoeiro, três se sobressaíram

Por Jonathan Gonçalves

11 mins de leitura

em 06 de abr de 2025, às 16h23

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Em 25 de março de 2025, Cachoeiro de Itapemirim comemorou seus 158 anos de emancipação política e, como falar da capital secreta do mundo, sem ressaltar os clubes de futebol da cidade, que levaram o nome do munícipio para o cenário estadual e nacional.

Dentre tantos clubes que fizeram história na terra do rei, três acabaram se sobressaindo, inclusive, levantando diversos títulos no estado.

Cachoeiro Futebol Clube

Fundado em 9 de janeiro de 1916, o Cachoeiro Futebol Clube foi o primeiro clube do município a se sagrar campeão estadual, no ano de 1948, quando derrotou o Vale do Rio Doce, na grande decisão. Na época, o presidente da equipe era Gumercindo Moura.

Além da grande conquista do Capixabão, o clube empilhou títulos municipais e regionais, inclusive, bateu na trave em outras quatro oportunidades, sendo vice-campeão capixaba três vezes (1930, 1944 e 1950) e ficando com a segunda colocação da Copa Espírito Santo uma vez (2013). No ano de 2000, o clube conquistou a segunda divisão do Campeonato Capixaba.

Outro momento marcante na história do clube, foi quando enfrentou o Fluminense na Copa do Brasil em 2001. Na ocasião, o clube fidalgo perdeu para o Flu por 1 a 0 no Espírito Santo e chegou a abrir o placar na volta, dentro do Maracanã. Porém, o clube carioca virou o jogo de volta para 2 a 1, se classificando para a próxima fase. Mesmo com a eliminação, a equipe cachoeirense se impôs e jogou de igual para igual, o que inflamou ainda mais a torcida do Cachoeiro, que não abandonava o clube por nenhum motivo.

Cachoeiro vai voltar aos gramados?

Desde 2014, o clube está inativo, mas, até quando os torcedores vão esperar pela volta do Cachoeiro? Segundo Edson Luiz, atual presidente do clube fidalgo, atualmente o Cachoeiro se encontra em uma situação delicada, por conta das dívidas.

Foto: Divulgação/cachoeirofc.com.br

“A gente se propôs a fazer um trabalho mais administrativo. Então, quando se fala sobre a volta do Cachoeiro, infelizmente, não está dentro do nosso programa de trabalho. A gente tem uma diretoria com o objetivo de realizar um saneamento administrativo e financeiro no clube”, frisou o presidente.

Edson comentou também que além das dívidas, outras questões estão atrapalhando a volta da equipe cachoeirense, como bloqueios judiciais, falta de apoio e gestões anteriores ruins.

Assim, o planejamento atualmente está totalmente focado em acertar as questão administrativas do clube. “Estamos verificando com está a questão da negociação da dívida, como nós podemos parcelar, pagar e liquidar isso. Nós estamos vendo como angariar recursos, sem gerar novas despesas. A diretoria está montada e estamos fazendo um trabalho de alteração do estatuto. Ou seja, queremos arrumar a casa”, ressaltou Edson.

Perguntado sobre uma possível volta do clube aos gramados, o presidente do clube fidalgo respondeu: “Nosso trabalho é mais de estruturação do que da volta do Cachoeiro. Talvez possa vir até uma equipe amadora ou de base. Mas, a parte profissional ainda está longe. São muitos problemas e dívidas, não é nosso objetivo entrar de qualquer forma em uma competição estadual, gerar caixa negativo e repetir os erros passados”, finalizou Edson, presidente do Cachoeiro.

Estrela de Cachoeiro Futebol Clube

Em 15 de dezembro de 2003, o jornalista Jackson Rangel fundou o Estrela de Cachoeiro Futebol Clube LTDA, que mesmo com o nome parecido, nunca teve nenhum tipo de ligação com o Estrela do Norte FC.

Estrela de Cachoeiro
Na foto, o presidente Zezé Perrela, do Cruzeiro, na época, e seu irmão, o diretor Avilmar Perrela, celebrando junto com Jackson Rangel a parceria de cessão de jogadores na Toca da Raposa. Foto: Divulgação.

Já no ano seguinte, em 2004, o clube empresa disputou seu primeiro campeonato profissional, onde chegou até a final e conquistou o título da Série B do Campeonato Capixaba. O Estrela de Cachoeiro foi derrotado apenas uma vez na competição, contudo, aquele foi o único ano de atuação do clube.

“Criei um clube empresa para provar que era eficaz a gestão nesse formato, já que fui presidente do Cachoeiro FC, que era gerido por Conselho. Então, aprendi que muitas opiniões para tomar uma decisão prejudica o clube e o time em disputa”, frisou Jackson.

Armando Zanata com a camisa do Estrela de Cachoeiro. Foto: Divulgação

Segundo o jornalista, uma diretoria empresarial é mais eficiente no futebol, por isso, as SAFs estão elevando o nível de futebol brasileiro atualmente. “Não criei o clube para ser campeão, como foi, para fechá-lo. Eu tinha meus compromissos como editor proprietário de um meio de comunicação e, na época, após vencermos a segunda divisão, recebi uma proposta de compra de uma empresário, que expressou amplo desejo de assumir o clube para disputar a primeira divisão, o que não aconteceu. Talvez, sabendo que ele não fosse comprar, teria prosseguido com o time”, ressaltou.

Na época, o Estrela de Cachoeiro tinha uma parceria com o Cruzeiro, de Minas Gerais, onde o time mineiro sedia jogadores ao clube cachoeirense. “Eu estava com vários projetos jornalísticos em curso, esse detalhe, pouca gente tem conhecimento. Foi um time formidável, que só perdeu uma partida. A sensação de precursor de clube empresa foi motivacional e uma realização pessoal de provar o que era uma teoria antes do sucesso”.

Jackson ressaltou não ter o desejo de retornar com o clube, pois, segundo o mesmo: “O Futebol Capixaba é um poço sem fundo de despesas. Os capixabas torcem, apaixonadamente, pelos times do Rio de Janeiro. Essa estatística é desanimadora, porque o empresário não investe nessa condição de pouco perspectiva de retorno. Fiz minha parte como desportista”, finalizou.

Além de fundar o Estrela de Cachoeiro, o jornalista já foi diretor do Estrela do Norte FC e presidente do Cachoeiro FC.

Estrela do Norte Futebol Clube

No dia 16 de janeiro de 1916, em uma casa, próxima ao colégio Liceu Muniz Freire, nascia o Estrela do Norte Futebol Clube. Desde então, o Alvinegro do Sumaré vem deixando sua marca na história do futebol capixaba, arrastando multidões de torcedores apaixonados pelo clube cachoeirense, independente da fase que o clube esteja passando.

Naquela casa, estavam: Laurentino Lugon, Mário Sampaio, Orlando Nunes, Amphilófio Braga, João Viana, Estulano Braga, Deusdedit Cruz, Fernando Reis e Francisco Penedo, e ali foi fundado o clube mais tradicional do sul do estado. Aliás, Francisco Penedo foi o primeiro presidente da história do Estrela.

O nome Estrela do Norte vem do fato da primeira sede do clube ser no lado norte da cidade. Aliás, as primeiras cores do clube foram verde e amarelo, e a primeira ascensão do clube a nível nacional foi em 1996, quando disputou o Campeonato Capixaba da Segunda Divisão daquele ano, que ficou conhecido nacionalmente como “o menor campeonato do mundo”, por conta de ter sido disputado por apenas dois times. Estrela se sagrou campeão, vencendo o Sport Club Capixaba na final.

Por volta da década de 30, o Estrela saiu de um bairro para outro, e até hoje joga no Estádio Mário Monteiro, conhecido popularmente como Sumaré, que aliás, tem o mesmo nome do bairro que atua o alvinegro.

Bandeira balançando no Estádio Sumaré - Estrela do Norte FC
Foto: Jonathan Gonçalves

Fatos históricos sobre o Estrela

O historiador Marcos Corrêa, participou de uma entrevista com o AQUINOTICIAS.COM, onde relatou os principais momentos, bons e ruins, da linda história do clube alvinegro.

Segundo Marcos, o clube carrega em seu nome e escudo uma herança simbólica. Inicialmente verde e amarelo, o Estrela adotou as cores preto e branco por conta do Botafogo, que era o clube de coração de alguns dos fundadores. A “Estrela” remete ao planeta Vênus, a estrela dalva, que era vista ao amanhecer pelos remadores do Botafogo. Já o “Norte”, faz referência ao lado da cidade onde foi fundado, em oposição ao sul, onde está o centro atual.

Muitos nomes conhecidos no município e no estado assumiram a presidência do clube alvinegro, como: Raul Sampaio, Newton Braga, Anacleto Ramos, Mário Monteiro, Alfredo Duarte, Theodorico de Assis Ferraço, entre muitos outros. Inclusive, sob a direção de Ferraço, o Alvinegro do Sumaré recebeu o Botafogo, contudo, foi derrotado por 6 a 2.

Outro capítulo importante foi a conquista do terreno do Estádio Sumaré. Adquirido em 1942, o espaço enfrentou pressões para ser desocupado nos anos 1950, mas o governo do Espírito Santo, na gestão de Jones dos Santos Neves, doou oficialmente a área ao clube em 1951. Desde então, o Sumaré se tornou a casa do Estrela, e recebeu o nome de Estádio Mário Monteiro, em homenagem ao presidente responsável por diversas melhorias entre 1949 e 1953.

Estádio Sumaré - Estrela do Norte FC
Foto: Jonathan Gonçalves

Marcos comentou também sobre outros grandes nomes que fizeram parte da história do Estrela. “Entre os ícones do clube, é impossível não citar Seu Zezinho, que foi zelador, treinador e diretor do Estrela a partir da década de 1920. Ele deixou um legado que formou jogadores e homens, como Jair Bala, que brilhou no América-MG e passou pelo Flamengo, onde sofreu um acidente que lhe rendeu o apelido de “Jair Bala”. Outro grande nome é Kiko, o “Zico do Sumaré”, símbolo do clube nos anos 1980”, frisou.

Apelido curioso

Jair Bala iniciou sua carreira no Estrela, nas mãos de Seu Zezinho, após isso, foi para a América-MG, onde foi campeão mineiro em 1971. Lá, ele foi o artilheiro, porém, seu apelido veio após atuar pelo Flamengo. Quando chegou ao rubro-negro, acabou levando um tiro acidental, após ir até a sala de um diretor do clube e a arma disparar e acertar acidentalmente sua virilha. Após o ocorrido, o jogador foi para o Botafogo e, Gérson Canhotinha de Ouro, para diferenciar o atleta de Jairzinho, o Furacão, colocou o apelido do mesmo de “Jair Bala”.

Foto: Reprodução/Instagram/@america_mg

Campeonato Capixaba de 2014

O título mais importante do Estrela aconteceu apenas em 2014, quase um século após a fundação. Sob a presidência de Adilson Conte, o clube venceu o Linhares na final do Capixabão, empatando em casa e vencendo fora por 1 a 0. A conquista lavou a alma da torcida, que esperava por esse momento há décadas. O time, que contava com uma base sólida e um treinador experiente, foi considerado uma das sensações da competição.

Títulos e momentos importantes

Segundo Marcos, os períodos mais marcantes do Estrela foram entre 1964 e 1968, onde conquistou quatro títulos sulinos, e também, entre 2002 e 2006, com três conquistas da Copa Espírito Santo. No entanto, o clube também viveu fases difíceis, como o afastamento do Capixabão entre 1971 e 1977, e a recente queda para a Série B do Campeonato Capixaba, em 2024.

Rivalidade com o Cachoeiro FC

Sem sombra de dúvidas, o maior clássico do município era Cachoeiro x Estrela do Norte e, o historiador Marcos Corrêa comentou sobre como era o embate naquela época. “No passado, o embate principal era contra o Cachoeiro. Então, hoje em dia, faz falta essa rivalidade. O pessoal não se odiava, mas tinha aquela rivalidade boa de um pra outro, que falta hoje em dia”.

Torcidas organizadas

Os torcedores do Estrela do Norte são um show à parte, sempre comparecendo no Estádio Sumaré e empurrando o clube em suas conquistas. Umas das primeiras torcidas organizadas do Alvinegro do Sumaré foi a Kadylestrela, que surgiu quando o clube voltou a disputar a primeira divisão do Capixabão, após ficar seis anos afastado da competição.

Atualmente, duas torcidas organizadas do Estrela se destacam no cenário estadual, a Torcida Jovem Estrela e a Torcida Máfia Estrelense, que até hoje, faça chuva ou faça sol, empurram o clube através de muita cantoria e vibração, direto das arquibancadas.

O que esperar do futuro do Estrela?

Atualmente, o futuro do Estrela passa pelas mãos de Anderson Grasseli, neto de Seu Zezinho. Contudo, sob o comando do ex-presidente Bruno Mazzocco, o Estádio Sumaré foi remodelado. Agora, Grasseli aposta em sua experiência com categorias de base, para reformular o Estrela do Norte através da lapidação das jovens joias cachoeirenses. “Ele está focado nas categorias Sub-15 e Sub-17, sonhando com um Estrela forte e autossuficiente nos próximos anos”, ressaltou Marcos.

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