Política Regional

Caparaó: mães pedem saúde e educação para filhos autistas

Segundo as representantes, a ausência de profissionais especializados compromete seriamente o desenvolvimento das pessoas com TEA.

Por Diorgenes Ribeiro

4 mins de leitura

em 09 de maio de 2025, às 15h34

Foto: Reprodução | Ales
Foto: Reprodução | Ales

Durante sessão na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, realizada nesta quarta-feira (7), três mães de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) utilizaram a Tribuna Popular para fazer um apelo direto aos deputados estaduais. Marília Florindo Amorim, Monique Lara Fontes e Estefânia Angel relataram a precariedade no atendimento especializado na rede pública de saúde da região do Caparaó, especialmente nos municípios de Ibitirama e Iúna, e pediram ações efetivas do parlamento capixaba.

Segundo as representantes, a ausência de profissionais especializados compromete seriamente o desenvolvimento das pessoas com TEA. Entre os serviços mais citados como ausentes estão a terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada), fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento com neuropediatra.

“Não se trata apenas de tratamento, mas de garantir qualidade de vida e desenvolvimento. É tempo de vida que está em jogo”, afirmou Marília Florindo, pedagoga e especialista em educação especial, moradora de Iúna e mãe de uma criança de 3 anos com autismo. Ela também denunciou a existência de um “jogo de empurra” entre a Secretaria Municipal de Saúde e o Serviço Especializado de Reabilitação para Pessoas com Deficiência Intelectual e Autismo (Serdia), vinculado ao Governo do Estado, que, segundo ela, sofre com a falta de profissionais.

A precariedade também se estende ao sistema educacional. Nas escolas da região, faltam cuidadores e profissionais qualificados para lidar com crianças autistas. “A remuneração baixa afasta os profissionais. Não há incentivo para quem quer cuidar”, denunciou Marília.

Monique Lara Fontes, de Ibitirama, mãe de um adolescente de 14 anos com TEA, classificou o cotidiano das famílias como uma luta constante. “É um luto diário, uma batalha pelo futuro. O que será dessas crianças sem o suporte adequado?”, questionou. Para ela, as terapias são fundamentais: “É por meio delas que nossos filhos conseguem evoluir”.

Estefânia Angel reforçou a importância do atendimento especializado com o exemplo do próprio filho, Guilherme, de 18 anos, que se formou técnico em Florestas pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e hoje trabalha na área. O atendimento, no entanto, foi viabilizado apenas por meio da rede particular. “Todo autista tem potencial. Precisamos garantir o acesso às terapias para que eles se tornem adultos funcionais. Muitas mães não conseguem sequer trabalhar, pois precisam se dedicar integralmente ao cuidado dos filhos”, destacou.

A neuropsicopedagoga Dianes Sanguini também participou da tribuna e reforçou a cobrança por políticas públicas efetivas. “As crianças com TEA aprendem, sim, mas dependem de uma rede de apoio que hoje não existe na prática”, alertou.

O requerimento que possibilitou a participação das mães na tribuna foi apresentado pelo deputado estadual Coronel Weliton (PRD), que chamou atenção para a sobrecarga enfrentada pelas mães atípicas. “Muitos pais se omitem e essas mulheres acabam assumindo tudo sozinhas. O Estado precisa fazer sua parte. Pagamos impostos e é dever do poder público garantir a prestação desse serviço”, afirmou.

Envelhecimento populacional em pauta

Também na mesma sessão, a empreendedora Roberta Bellumat, coautora do livro O Dever de Cuidar, utilizou a tribuna para tratar da necessidade de atenção humanizada aos idosos. Ela alertou para o envelhecimento acelerado da população brasileira, com projeções indicando que, em 2030, o número de idosos será superior ao de jovens.

A obra, segundo Roberta, serve como um manual para famílias e profissionais da área, oferecendo orientações práticas e alertando para erros comuns na contratação de cuidadores. “Não basta olhar o valor. É preciso considerar o histórico profissional, o vínculo emocional e as condições do ambiente doméstico”, apontou.

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