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SOS Mata Atlântica vê risco alto mesmo com queda no desmate

Os dados são do Atlas da Mata Atlântica e do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), divulgados nesta segunda-feira (12) pela Fundação SOS Mata Atlântica.

Por Diorgenes Ribeiro

4 mins de leitura

em 12 de maio de 2025, às 14h42

Foto: Reprodução | Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Reprodução | Fernando Frazão/Agência Brasil

Apesar da queda de 14% na área total desmatada na Mata Atlântica em 2024, a destruição das chamadas matas maduras — mais ricas em biodiversidade e essenciais para o estoque de carbono — teve redução modesta de apenas 2%. Os dados são do Atlas da Mata Atlântica e do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), divulgados nesta segunda-feira (12) pela Fundação SOS Mata Atlântica.

A fundação avalia que o ritmo de redução ainda está aquém do necessário para atingir o objetivo do desmatamento zero. As perdas continuam elevadas, especialmente em regiões historicamente críticas, e afetam áreas de vegetação nativa avançada, consideradas insubstituíveis para o equilíbrio climático e ambiental.

O diretor executivo da SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto, alerta que o desmatamento segue como uma das principais ameaças ao futuro do bioma. Ele lembra que a Mata Atlântica abriga cerca de 70% da população brasileira e responde por mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

“No contexto das crises globais do clima e da biodiversidade, somadas às tragédias ambientais e às recorrentes crises hídricas no Brasil, a degradação da Mata Atlântica amplia o risco de colapso dos serviços ecossistêmicos essenciais à qualidade de vida, à segurança alimentar e à economia do país”, afirma.

Impacto das perdas

O levantamento coordenado pela SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) aponta que a área de mata madura desmatada passou de 14.697 hectares em 2023 para 14.366 hectares em 2024. Embora a queda pareça tímida, a destruição representa a emissão de cerca de 6,87 milhões de toneladas de CO₂ equivalente — volume comparável às emissões anuais de Camarões ou do Distrito Federal.

Já o SAD, desenvolvido em parceria com o MapBiomas, que também monitora áreas em regeneração e desmatamentos menores, registrou 71.109 hectares desmatados em 2024, frente a 82.531 no ano anterior. A queda foi de 14%, mas com um alerta: embora o número de eventos tenha diminuído (de 7.396 para 5.693), a média de área desmatada por ocorrência subiu de 11,2 para 12,5 hectares, indicando desmatamentos mais concentrados.

Piauí e Bahia lideraram o ranking de desmate no bioma, com 26.030 e 23.218 hectares, respectivamente.

Agropecuária e irregularidades fundiárias

A expansão da agropecuária em propriedades privadas permanece como o principal fator de pressão sobre o bioma. De acordo com a SOS Mata Atlântica, mais de 70% das áreas desmatadas em 2024 estavam em terras privadas ou sem registro fundiário formal, o que evidencia falhas na regularização e fiscalização.

Segundo Guedes Pinto, é essencial aplicar com rigor a Lei da Mata Atlântica, que só permite supressão vegetal em casos excepcionais, de utilidade pública ou interesse social.

“A principal dificuldade está na prevenção e na fiscalização do desmatamento ilegal, que responde pela maior parte da destruição do bioma. Além disso, ainda há financiamento público e privado para atividades agropecuárias que desmatam ilegalmente”, destaca. “O Estado e o setor privado ainda falham em impedir que recursos cheguem ao desmatamento ilegal e em responsabilizar os infratores.”

Desastres naturais impulsionam destruição no Sul

No Rio Grande do Sul, o desmatamento aumentou, puxado principalmente pelos deslizamentos provocados pelas fortes chuvas de maio de 2023. O estado registrou 3.307 hectares de perda florestal em 2024, frente a 962 hectares no ano anterior.

Segundo a SOS Mata Atlântica, os deslizamentos foram a principal causa de perda de vegetação no bioma nesse período. O fenômeno ocorre principalmente em áreas de relevo acidentado, como serras e morros, onde chuvas intensas saturam o solo e provocam escorregamentos, levando junto a cobertura vegetal.

Entre as áreas mais afetadas estão a região serrana do Rio Grande do Sul, a Serra do Mar em São Paulo e as serras do Rio de Janeiro.

Além disso, eventos climáticos extremos também impactaram áreas protegidas em São Paulo e no Rio de Janeiro, incluindo Unidades de Conservação.

“É urgente ampliar o foco da proteção ambiental. O desmatamento provocado por efeitos climáticos já é mensurável e ameaça até mesmo áreas protegidas. Sem uma ação coordenada entre preservação, uso da terra e adaptação climática, continuaremos repetindo a equação do desastre”, alertou Guedes Pinto.

*Com informações da Agência Brasil.

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