Política Nacional

Pressionado, Lula libera verbas e busca estabilidade política

A movimentação do governo indica uma tentativa de reconquistar apoio e blindar-se de novas derrotas, mas revela, ao mesmo tempo, a fragilidade da articulação política em um Congresso cada vez mais dividido e com apetite por recursos orçamentários.

Por Diorgenes Ribeiro

3 mins de leitura

em 20 de jun de 2025, às 10h19

Foto: Reprodução | Ricardo Stuckent/PR
Foto: Reprodução | Ricardo Stuckent/PR

Sob pressão de parlamentares e diante de um cenário de instabilidade política, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelerou a liberação de emendas individuais nesta semana, empenhando mais de R$ 625 milhões. Mais da metade desse montante foi direcionada a deputados e senadores de partidos do Centrão, bloco informal que tem sido decisivo para a governabilidade.

De acordo com levantamento do portal Metrópoles, PSD, União Brasil e MDB lideram a lista de maiores beneficiários, concentrando, juntos, R$ 241 milhões em emendas. Quando somadas às indicações de PP e Republicanos, o volume destinado às cinco principais siglas do Centrão ultrapassa R$ 347 milhões, o equivalente a 55% do total empenhado desde o último domingo (16).

Em contrapartida, o PT, partido do presidente, recebeu R$ 70 milhões, enquanto o PL, de Jair Bolsonaro, ficou com R$ 69,5 milhões.

Orçamento e tensão institucional

A liberação ocorre no rastro da aprovação tardia da Lei Orçamentária de 2025, que só foi sancionada em abril após meses de impasse entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). O texto previa R$ 50,4 bilhões em emendas parlamentares, sendo R$ 24 bilhões em emendas individuais.

A tensão entre os Poderes se intensificou no ano passado, quando o então ministro do STF, Flávio Dino, determinou medidas para garantir mais transparência na execução das emendas — o que gerou reações duras no Parlamento e acirrou a crise institucional.

Crise na base aliada e derrotas recentes

A estratégia de liberação de recursos ocorre em meio a um momento político sensível para o Planalto, que enfrenta dificuldades para manter coesão em sua base parlamentar. Com a queda de popularidade e medidas impopulares em debate, o governo viu partidos com ministérios na Esplanada votarem contra interesses do Executivo em pautas-chave.

Na esteira da operação da Polícia Federal que investiga irregularidades no INSS — usada pela oposição para mobilizar uma CPMI —, o governo sofreu nova derrota com o avanço de um projeto que pode barrar o decreto presidencial de aumento do IOF. A urgência da proposta foi aprovada na Câmara na última segunda-feira (16).

No dia seguinte, os parlamentares analisaram uma série de vetos presidenciais pendentes desde 2022. Embora o governo tenha conseguido adiar votações mais sensíveis, foi derrotado em pautas caras ao agronegócio, como a manutenção de isenções fiscais para os Fiagros e os FIIs dentro da reforma tributária, além de enfrentar resistência à regulamentação das eólicas offshore — onde o Planalto tentava eliminar “jabutis” inseridos pelo Congresso.

A movimentação do governo indica uma tentativa de reconquistar apoio e blindar-se de novas derrotas, mas revela, ao mesmo tempo, a fragilidade da articulação política em um Congresso cada vez mais dividido e com apetite por recursos orçamentários.

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