Bancos encerram centenas de contas de apostas ilegais

Ao longo deste ano, o mercado brasileiro de apostas online vive uma guinada significativa. Não apenas pelo aumento expressivo de quem aposte no desportos, mas também pelo endurecimento do sistema financeiro contra operações suspeitas. Prova disso: segundo levantamento da empresa de pagamentos Pay4Fun, bancos e fintechs encerraram 483 contas de pessoas físicas e jurídicas por suspeita de envolvimento com apostas clandestinas, um recorde que evidencia a atuação coordenada entre instituições financeiras e poder público para frear o mercado ilegal.

Essa ação intensiva acontece num contexto em que a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda reforça a regulamentação das apostas de quota fixa e exige conformidade não apenas das plataformas, mas também dos meios de pagamento. A portaria de março de 2025 obriga bancos e fintechs a encerrar contas de casas de apostas não autorizadas, e a comunicar ao órgão casos suspeitos em até 24 horas.

O que torna o encerramento de contas tão relevante

O bloqueio de cerca de 500 contas em 2025 representa mais que um dado isolado: simboliza o fortalecimento do arcabouço normativo e regulatório que passa a vigorar no setor. Essa medida atua diretamente em três frentes:

• Desarticulação financeira do mercado ilegal: sem acesso a contas bancárias, depósitos e saques, as operações clandestinas se tornam inviáveis.
• Proteção do sistema financeiro: evita que contas “laranjas” ou “frias”, usadas para lavagem de dinheiro, fraudes e evasão, permaneçam ativas.
• Reforço da credibilidade do mercado regulado: para o público e para investidores, ver que há controle real reduz o risco e aumenta a confiança no setor.

De fato, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) instituiu novas normas a partir de outubro de 2025 para que bancos cancelem imediatamente contas suspeitas, sejam elas ligadas a apostas ilegais, a fraudes ou contas criadas apenas para movimentar recursos de plataformas não autorizadas. Segundo o presidente da Febraban, Isaac Sidney, a iniciativa representa um “marco no processo de depuração de relacionamentos tóxicos” no sistema financeiro e visa cortar o fluxo usado por organizações criminosas para lavagem de dinheiro e golpes digitais a quem aposte no desportos.

Conexão com o mercado legal: apostas reguladas ganham força

Essa ofensiva contra o mercado ilegal não ocorre por acaso, mas em simultâneo com o amadurecimento do mercado regulado de apostas de quota fixa: sites autorizados, domínio específico “.bet.br”, compliance, fiscalização da SPA e monitoramento de operações financeiras. Esse ambiente sinaliza estabilidade e segurança, fatores que atraem tanto usuários quanto investidores.

Com a migração de apostadores para plataformas legalizadas de aposte no desportos, as casas autorizadas ganham massa crítica de jogadores, o que contribui para o crescimento da receita formal e favorece parcerias com bancos, fintechs, mídia e clubes esportivos. Essa profissionalização encoraja o investimento em tecnologia, atendimento ao cliente, transparência e responsabilidade, elementos fundamentais para consolidar o setor no Brasil. Simultaneamente, ao derrubar sites clandestinos e encerrar contas associadas a eles, o governo e o sistema financeiro reduzem a concorrência desleal e garantem que o dinheiro circulante seja tributado e regulado, fortalecendo a arrecadação e a legitimidade do mercado.

E os números recentes provam que a estratégia funciona

O encerramento de 483 contas suspeitas é a ponta visível de um esforço mais amplo. No primeiro semestre de 2025, o Brasil já contabilizava 17,7 milhões de apostadores ativos em plataformas autorizadas de quota fixa, um volume expressivo que demonstra o grau de adesão à oferta legal. Paralelamente, mais de 15 mil sites ilegais foram retirados do ar pela fiscalização da Anatel, desde o final de 2024.

Esses dados, combinados com a ação coordenada entre governo, reguladores, bancos e fintechs, indicam que o Brasil não está apenas regulando apostas, mas organizadamente erradicando a informalidade, fortalecendo o mercado legal e entregando maior proteção aos consumidores e ao sistema financeiro.

Implicações para o futuro do setor

Para o consumidor

• Maior segurança jurídica e financeira: apostas em plataformas regulamentadas com garantia de que os pagamentos e saques serão processados corretamente.
• Proteção contra fraudes e golpes: o risco de operar em sites clandestinos aumenta quando há medida ativa de bloqueio e fim de pagamento.
• Transparência e responsabilidade: apostas feitas dentro da lei permitem o controle, acompanhamento e acesso a suporte e canais oficiais de reclamação.

Para o mercado e economia

• Aumento da arrecadação tributária e contribuição formal ao Estado.
• Atração de investimentos nacionais e internacionais, com crescimento de empresas de tecnologia, fintechs, e integração com o sistema bancário.
• Fortalecimento da indústria de apostas legalizadas e profissionalização do setor, com padronização, compliance e melhores práticas de governança.

Para o sistema financeiro e regulação

• Evolução no controle de lavagem de dinheiro e fraudes financeiras.
• Validação do papel dos bancos e fintechs como agentes de compliance e proteção do sistema financeiro.
• Estabelecimento de precedente regulatório para outros setores vulneráveis a abusos e ilegalidades.

Um passo decisivo para institucionalizar o mercado de apostas no Brasil

A ofensiva de 2025 contra contas bancárias associadas a apostas ilegais representa mais do que uma ação pontual: simboliza a consolidação de um mercado formalizado, regulado e com controle efetivo. O encerramento de 483 contas suspeitas, combinado com o bloqueio de milhares de sites clandestinos, demonstra que o Brasil está disposto a transformar o setor de apostas em atividade legítima, segura e integrada ao sistema financeiro, e não em fonte de riscos e ilegalidade.

O caminho adiante exige vigilância contínua, cooperação entre reguladores, bancos e fintechs e compromisso com a proteção ao consumidor. Se mantidas as políticas e a fiscalização, o país pode construir um mercado de apostas online robusto, transparente e sustentável.