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Saúde e Bem-estar

AVC poderá causar quase 10 milhões de mortes anualmente no mundo até 2050

A estimativa prevê que o número de vítimas da condição poderá passar dos 6,6 milhões registrados em 2020 para 9,7 milhões em 2050

Por Estadão

6 mins de leitura

em 10 de out de 2023, às 08h59

Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

O número de mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC) no mundo poderá aumentar 50% e chegar a quase 10 milhões até 2050 se ações de monitoramento e prevenção não forem aprimoradas, alerta um estudo feito pela Organização Mundial do AVC e publicado nesta segunda-feira (9), no periódico científico Lancet Neurology.

A estimativa prevê que o número de vítimas da condição poderá passar dos 6,6 milhões registrados em 2020 para 9,7 milhões em 2050, com um aumento superior em países de renda baixa e média, grupo do qual o Brasil faz parte. Os dados de 2020 indicam que 86% dos óbitos daquele ano ocorreram nos países mais pobres. Em três décadas, esse porcentual deverá chegar a 91%, dizem os pesquisadores, e as mortes ficarão ainda mais concentradas nessas nações.

De acordo com a projeção, o cenário também levaria a um aumento de mais de 100% nos custos diretos e indiretos do AVC. Estima-se que os gastos com tratamento e reabilitação, somados às perdas de renda causadas pelas pessoas mortas e com sequelas, passe de U$ 891 bilhões (R$ 4,5 trilhões) para U$ 2,3 trilhões (R$ 11,8 trilhões) entre 2020 e 2050.

Os pesquisadores ressaltam que o AVC, que já é a segunda causa de morte no mundo, vem aumentando “de forma alarmante” entre pessoas jovens e de meia-idade (abaixo dos 55 anos). Os cientistas também ressaltam que o problema é ainda a terceira causa de incapacidade e uma das principais causas de demência.

De acordo com o estudo, entre as principais explicações para o aumento de mortes por AVC, em especial nos países de renda média e baixa, estão o alto número de casos de hipertensão arterial não diagnosticada ou não controlada, dificuldade de acesso a serviços de saúde de qualidade, investimentos insuficientes em prevenção dos fatores de risco, poluição do ar e estilo de vida pouco saudável.

Além disso, a alta prevalência de doenças infecciosas agudas que ainda atingem países mais pobres gera uma sobrecarga no sistema de saúde que dificulta a assistência adequada a pacientes com doenças crônicas que aumentam o risco de um AVC porque o sistema nem sempre consegue dar conta de atender os pacientes com os dois tipos de enfermidades.

Neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Leandro Gama lembra ainda que, em todo o mundo e também no Brasil, o acelerado envelhecimento populacional também aumenta a chance de ocorrência do AVC. “Quanto mais idosa a população, maior o risco. Como a expectativa de vida está aumentando, a gente vê o aumento do número de AVCs”, diz o especialista, que ressalta que a idade avançada somada ao aumento de fatores de risco agrava o cenário.

Principais fatores de risco para o AVC
Especialistas explicam que cerca de 80% dos acidentes vasculares cerebrais são do tipo isquêmico, caracterizado pela obstrução da circulação sanguínea em artérias do cérebro. Os outros 20% são do tipo hemorrágico, quando um vaso sanguíneo se rompe.

Em especial para o AVC isquêmico, há fatores de risco claros que, se controlados, diminuem bastante o risco do problema:

– Pressão alta

– Diabetes

– Colesterol alto

– Obesidade

– Dieta não saudável

– Sedentarismo

– Tabagismo

“A principal formas de reduzir o risco é o controle rigoroso dos fatores, com check up regular para controle da pressão arterial, diabetes; evitar o tabagismo e o sedentarismo, e aí entra a questão da atividade física, que é uma das principais formas de evitar o AVC, tanto a aeróbica quanto a musculação”, diz Gama.

No estudo, os especialistas destacam ainda a necessidade de políticas públicas em quatro pilares: monitoramento, prevenção, cuidados de urgência e emergência e reabilitação para os pacientes com sequelas.

No campo da prevenção, além das recomendações para autocuidado e conscientização dos indivíduos sobre fatores de risco, os pesquisadores ressaltam a importância de medidas governamentais para frear o aumento dos fatores de risco. Entre elas, está maior taxação de produtos alimentícios não saudáveis, como sal, álcool, bebidas açucaradas, gorduras trans etc.

“Um dos problemas mais comuns na implementação das recomendações de prevenção e cuidados do AVC é a falta de financiamento. … Essa tributação não só reduziria o consumo destes produtos – e, portanto, levaria à redução do AVC e de outras doenças não transmissíveis importantes – mas também geraria uma grande receita suficiente para financiar programas e serviços de prevenção do AVC e de outras doenças graves”, afirmou, em nota à imprensa, a Valery L. Feigin, professora da Universidade de Tecnologia de Auckland, Nova Zelândia, e copresidente da comissão autora do estudo.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde disponíveis no portal Datasus, o número de mortes por AVC chegou a 106,9 mil no ano passado, aumento de 6% em relação aos 100,2 mil óbitos registrados dez anos antes, em 2012.

Sinais e sintomas do AVC

De acordo com a Sociedade Brasileira de AVC, os principais sinais e sintomas de um acidente vascular cerebral, que exigem o socorro imediato, são:

– Fraqueza ou formigamento na face, braço ou perna, especialmente em um lado do corpo

– “Boca torta” ao falar

– Confusão mental, alteração da fala ou “fala enrolada”

– Alteração da visão, com embaçamento ou visão dupla, em um ou ambos os olhos

– Alteração súbita do equilíbrio ou da coordenação / tontura ou desequilíbrio para andar
– Dor de cabeça muito forte, súbita, sem histórico de dor anterior

Se identificar os sintomas acima, procure um hospital imediatamente porque a intervenção rápida é fundamental para salvar o paciente e evitar sequelas.

No caso do AVC isquêmico, o mais comum, é feito o tratamento de reperfusão, que, com o uso de medicamentos anticoagulantes ou realização de um cateterismo, pode dissolver o coágulo formado nos vasos cerebrais, normalizando a circulação e evitando a morte de células neuronais. As chances de sucesso, no entanto, são maiores quando a intervenção é feita em até quatro horas após o início do problema.

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