Cada um por si: a economia global entra em modo de sobrevivência
O mundo caminha para uma nova ordem econômica, e as decisões tomadas hoje ecoarão por gerações.

por João Paulo Alóchio Lucas
Receba as principais notícias no seu WhatsApp! clique aquiCom os olhos do mundo voltados para as tentativas de acordos de cessar-fogo em Gaza e na Ucrânia, uma nova guerra econômica está sendo deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em suas recentes investidas tarifárias, Trump assume o papel de xerife da economia mundial, buscando impor sua visão sobre as negociações entre os principais blocos econômicos e mirando, em especial, os países que formam os BRICS.
Tendo a China como principal alvo, Trump tenta conter a ascensão de Pequim e sua crescente influência global, especialmente na América Latina e Central. O aumento das tarifas sobre produtos chineses e a pressão sobre empresas ocidentais para reduzirem sua dependência da manufatura chinesa são apenas algumas das estratégias para minar o poder econômico do gigante asiático.
A resposta chinesa, por sua vez, não tardou: investimentos estratégicos em infraestrutura, novas parcerias comerciais e a ampliação da Iniciativa do Cinturão e Rota reforçam a determinação de Pequim em consolidar sua posição de liderança no cenário global.
Entretanto, os desdobramentos do “tarifaço” de Trump não se limitam ao embate sino-americano. Antigos aliados ocidentais, antes alinhados à Casa Branca, agora reavaliam sua posição e buscam reduzir a dependência econômica e militar dos EUA.
A União Europeia, por exemplo, tem fortalecido laços com parceiros regionais, investindo em acordos comerciais alternativos e promovendo maior autonomia em setores estratégicos como energia e tecnologia. O que antes era pautado por encontros amistosos e fotografias institucionais, agora dá lugar a trocas de farpas e discursos contundentes.
Diante desse novo cenário, o mundo testemunha um processo de fragmentação. As grandes potências, que antes buscavam a globalização como um modelo de interdependência mútua, agora adotam posturas protecionistas e revisionistas, reforçando blocos regionais e priorizando interesses nacionais. O multilateralismo, outrora defendido como a chave para a estabilidade global, cede espaço a um ambiente de tensões geopolíticas e disputas comerciais acirradas.
Os reflexos desse realinhamento econômico já começam a ser sentidos nos mercados financeiros e nas cadeias de suprimentos globais. Empresas que dependem de componentes chineses buscam alternativas em outros mercados emergentes, enquanto os Estados Unidos tentam reindustrializar setores estratégicos para reduzir a dependência de importações. A União Europeia, por sua vez, investe cada vez mais em inovação e energia renovável, buscando consolidar sua posição como um polo econômico autossuficiente.
Nesse sentido, o impacto dessa fragmentação econômica também se reflete no Sul Global. Países da América Latina, África e Sudeste Asiático, que antes se beneficiavam das disputas entre grandes potências para atrair investimentos, agora enfrentam o desafio de se posicionar nesse novo jogo geopolítico. Para essas nações, a chave será equilibrar interesses e evitar cair em armadilhas de dependência excessiva de um único bloco econômico.
A grande questão que se impõe é: até que ponto essa ruptura será benéfica para os países envolvidos? Se, por um lado, a diversificação de parcerias pode gerar maior autonomia, por outro, a escalada de barreiras tarifárias e sanções pode resultar em um período prolongado de incertezas e instabilidade econômica.
O futuro da economia mundial está em jogo, e o desfecho dessa disputa determinará não apenas o equilíbrio de poder global, mas também os rumos do desenvolvimento econômico nas próximas décadas. O mundo caminha para uma nova ordem econômica, e as decisões tomadas hoje ecoarão por gerações.
** João Paulo Alóchio Lucas é Jornalista e entusiasta das ciências exatas. Economia e geopolítica são temas recorrentes em sua atuação editorial.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
