Especial

Mãe, o diagnóstico não te define: você é mais que o câncer!

Mães com câncer de mama seguem firmes, provando que um diagnóstico não as definem.

Por Beatriz Fraga

6 mins de leitura

em 11 de maio de 2025, às 10h48

Foto: Redes sociais
Foto: Redes sociais

Neste domingo, Dia das Mães, não falamos apenas de afetos agendados ou de clichês. Vamos além. Celebramos mães reais, que enfrentam a vida com garra. Mães que não param, mesmo quando recebem um diagnóstico como o câncer de mama.

Se elas sentem medo? Sentem, mas avançam. Não se deixam definir pela doença. São mulheres que, independente da religiosidade, vivem a arte descrita por Sérgio Sampaio: ” O coração de Deus é feminino/é a força de toda a criação/capricho do destino, a mãe da invenção…”.

Dessa forma, Elisete de Paula Pires, professora e supervisora pedagógica aposentada, fala sobre a própria experiência: “A dor e o cansaço, de vez em quando, batem forte. Vem a fragilidade, mas nunca posso deixar isso ficar acima de quem eu sou. Eu sou Elisete, mulher, mãe, avó, filha, irmã, cunhada, tia e sou feliz, isso é que importa.”

A identidade vai além de qualquer laudo médico

Um diagnóstico pode iniciar um tratamento, mas não encerra quem a pessoa é. Os especialistas reconhecem isso. A vida de uma mulher envolve muito mais do que qualquer rótulo clínico.

Cada mãe oncológica carrega uma história moldada por: experiências vividas (ontogênese); herança biológica (filogênese), além dos valores e dos aportes culturais que a cercam. Portanto, a identidade dela nunca caberá num papel e/ou num momento.

O câncer de mama desafia, mas o cuidado acolhe

Muitas mulheres convivem com o preconceito, o medo e o silêncio. Mas elas não estão sozinhas. Em Cachoeiro, o Setor de Oncologia do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI) reúne uma equipe multidisciplinar que escuta, cuida e caminha junto. Médicos, psicólogos, terapeutas, enfermeiros e ouros profissionais atuam lado a lado. Eles ajudam a reorganizar rotinas, lidar com emoções e a fortalecer o autocuidado.

A ressignificação do câncer de mama

Ressignificar o tratamento da mulher é o que defende Dra. Sabina Aleixo, médica oncologista do HECI: “Neste mês das mães, lembramos com carinho e admiração das mulheres que enfrentam o câncer de mama com coragem — enquanto continuam sendo mães, profissionais, cuidadoras.

O diagnóstico assusta. Ele traz medo, angústia e exige mudanças drásticas. São exames, consultas, cirurgias, quimioterapia, queda de cabelo… nada disso é fácil. Mesmo assim, vemos mulheres que continuam cuidando da casa, dos filhos, muitas vezes ainda trabalhando. São exemplos que nos inspiram todos os dias.

No HECI, nós, da equipe médica, buscamos tornar esse caminho mais leve. Sabemos que não há glamour nesse processo. O tratamento oncológico é duro, mas nosso compromisso é estar ao lado delas — sempre. Nem todos os casos terão cura, mas em todos os casos há força, há dignidade, há esperança. E há cuidado. Porque juntas, equipe e paciente, conseguimos atravessar essa jornada com mais humanidade. A todas as mães em tratamento, o nosso respeito. Continuem firmes. Vocês são a razão pela qual estamos aqui todos os dias.

Foto: Divulgação/ HECI

Pires confirma a fala da doutora: ” A existência de equipe multidisciplinar e da Casa de Apoio aos Pacientes com Câncer (GAPCCI) oferece muito mais que hospedagem, alimentação, transporte. Disponibiliza dignidade, acolhimento e igualdade. Ali, não há preconceito: o olhar que antes julgava a cabeça raspada como sinal de fim, hoje reconhece a beleza da reinvenção.

Eu estou em tratamento e sigo tomando Tamoxifeno. Escolhi me amar, amar meu cabelo curtinho e meu corpo em luta. Reaprendi a me olhar com orgulho, a me ver linda — viva, ativa, plena.”

Segundo ela, o maior desafio não é a doença, mas o preconceito, o capacitismo, que tenta calar, limitar e excluir. E é justamente contra isso que ela luta, para continuar servindo, opinando, construindo.

O autocuidado precisa se tornar prioridade

Muitas mães mantêm jornadas duplas ou triplas. Colocam todos à frente de si mesmas. Porém, o tratamento contra o câncer exige energia física e equilíbrio emocional. O cuidado com a própria saúde precisa entrar na rotina — com disciplina, apoio e orientação profissional. Autocuidado não significa abandonar responsabilidades, mas garantir condições reais de enfrentá-las.

Desse modo, Dra. Marina Balarini, psicóloga formada na Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca: “Quem cuida de quem sempre cuidou? Para muitas mulheres, especialmente mães, o diagnóstico de câncer representa um abalo profundo. Acostumadas a cuidar de todos — filhos, casa, trabalho — elas adoecem e, muitas vezes, se veem sem apoio.

É preciso repensar o materno como responsabilidade coletiva, não apenas da mulher. O cuidado precisa ser partilhado — pelo pai, pela família, pela sociedade. Ao receber um diagnóstico, essa mulher não deve carregar uma sentença de morte, mas sim ser acolhida por uma rede de amor, dignidade e suporte.

Cada mulher viverá esse processo de forma única. Mas o sofrimento se intensifica quando faltam condições básicas: saúde de qualidade, alimentação, rede de apoio. Mulheres pobres, negras, chefes de família enfrentam a doença em desigualdade. Por isso, antes de falar em câncer de mama, precisamos perguntar: de quais mães estamos falando? E garantir que todas, sem exceção, recebam não só tratamento médico, mas também respeito, escuta e cuidado real.”

Foto: Redes sociais

Valorize o que não aparece no prontuário

A mulher diagnosticada continua sendo um ser global e complexo: profissional, mãe, amiga, cidadã. Ela planeja, toma decisões e busca alternativas. A vida não para, apenas se reorganiza, por isso, neste Dia das Mães, ofereça mais do que afeto: ofereça apoio. Acolher essa mulher por inteiro é o melhor presente que você pode dar.

Para você que está experienciando essa luta, segue um presente único de Elisete: “O diagnóstico não nos define. Ele nos desperta. Falo com você que, assim como eu, já recebeu um diagnóstico de câncer. Ele assusta, mas também pode abrir horizontes. Encare-o com coragem — com medo, se for preciso — mas siga em frente.

A vida é esse intervalo precioso entre o nascer e o partir. E nesse tempo, aprendemos que tudo é passageiro, até mesmo a dor. Ser paciente oncológico é ser alguém que vê mais fundo, que deseja ser reconhecido como pessoa capaz, inteira, viva. O diagnóstico não é sentença. É um convite à ressignificação. A jornada continua — e há um horizonte imenso esperando por nós.”

Para amanhã e sempre: feliz Dia das Mães para todas que enfrentam o câncer de mama!

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