Casagrande entre o Senado e a unidade: um xadrez político em curso
Se conseguir juntar todos em torno de um nome, Casagrande consolidará sua liderança política mesmo fora do cargo.
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em 15 de jun de 2025, às 18h49

Ao afirmar que seu “desejo é juntar todo mundo” para 2026, o governador Renato Casagrande (PSB) joga luz sobre o maior desafio de seu projeto político: manter a unidade de um grupo que já começou a se mover por conta própria. A declaração, feita em entrevista à Revista Exame, é emblemática de um líder que, embora ainda no comando do Palácio Anchieta, sente o peso das ambições em ebulição dentro de seu próprio campo político.
Casagrande sabe que construiu um legado respeitável. A boa avaliação do governo e a visibilidade nacional conquistada à frente do Consórcio Brasil Verde conferem-lhe um capital político que poucos no Espírito Santo têm hoje. Mas capital político, como se sabe, precisa ser convertido em poder concreto, e 2026 está cada vez menos distante. É nesse tabuleiro que o governador precisa decidir se mantém a batuta da orquestra até o fim da sinfonia ou se sai do palco para buscar um novo posto no Senado, arriscando deixar a partitura cair nas mãos de músicos com ambições próprias.
O vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), por exemplo, não esconde mais seu apetite. Já em campanha disfarçada, percorre o estado e mostra força. O ato em Cariacica, com milhares de apoiadores e o respaldo do prefeito Euclério Sampaio, foi um recado claro: há vida própria, musculatura eleitoral e uma pré-candidatura consolidada ganhando forma. A pergunta que fica é: se Casagrande sair, Ricardo herdará a cadeira de governador e se tornará automaticamente o nome da situação? A resposta parece ser “sim”, mas não sem resistências internas.
Arnaldinho Borgo, prefeito de Vila Velha, ainda sem partido, tenta mostrar que não será apenas um coadjuvante no jogo. Publicou artigo, viaja pelo interior e quer marcar território. O ditado é antigo: “quem não é visto, não é lembrado”. Borgo sabe disso e tenta pavimentar seu caminho em meio a um terreno já bastante disputado.
E há ainda Da Vitória, deputado federal do PP, que tem ao seu lado ninguém menos que Marcelo Santos, presidente da Assembleia Legislativa e agora aliado formal na futura Federação União Progressista. É uma dupla com força de fogo político e potencial para influenciar diretamente a escolha do sucessor governista. A entrada de Da Vitória na disputa adiciona complexidade a um jogo que Casagrande desejaria muito mais simples.
Enquanto isso, no campo adversário, Lorenzo Pazolini (Republicanos), prefeito da Capital, intensifica sua presença no interior. Ganhou o apoio público de Paulo Hartung, um movimento que não pode ser subestimado. O ex-governador continua sendo um nome de peso e seu gesto é simbólico: ele aposta em Pazolini como alternativa real de poder fora do eixo casagrandista.
No mesmo campo, mas com muito menos ímpeto, surge Magno Malta, figura que ainda tenta encontrar espaço sob o guarda-chuva do bolsonarismo capixaba. Sua possível candidatura ao governo pelo PL é um aceno à polarização, mas sem estrutura, Malta segue mais no campo das intenções do que da viabilidade.
Renato Casagrande está, portanto, diante de um dilema crucial: manter-se no governo, gerindo o processo de sucessão com as rédeas nas mãos, ou deixar o posto e arriscar ver seu projeto de continuidade ser atropelado por disputas internas? Sua fala em São Paulo foi mais do que um desejo por unidade, foi um aviso. O jogo começou antes da hora e, como em todo bom jogo de xadrez, a antecipação pode ser fatal se os movimentos seguintes não forem calculados com precisão.
Se conseguir juntar todos em torno de um nome, Casagrande consolidará sua liderança política mesmo fora do cargo. Mas se errar a mão, corre o risco de assistir de fora a fragmentação de um campo que ele próprio ajudou a construir.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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