Tarcísio ensaia voo solo e emerge como herdeiro do bolsonarismo
Comparado à sua fala em abril, quando o discurso girava em torno da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, a fala de Tarcísio neste fim de semana foi nitidamente mais agressiva e ideológica.
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em 30 de jun de 2025, às 16h35

Na Avenida Paulista, durante o ato “Justiça Já” liderado por Jair Bolsonaro neste domingo (29), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez mais do que repetir bordões da direita nacional. Ele aproveitou o palanque bolsonarista para subir o tom contra o presidente Lula, recalibrar o foco político do ato e ensaiar os primeiros passos de um projeto próprio rumo ao Planalto.
Foi o único governador a discursar, em um evento marcado por críticas ferozes ao Supremo Tribunal Federal (STF) — mas, curiosamente, poupou os ministros da Corte. Em vez disso, concentrou sua artilharia no governo federal, o que sinaliza, mais do que fidelidade a Bolsonaro, um cálculo político claro: ocupar o vácuo deixado por um ex-presidente inelegível e cada vez mais ausente das urnas, ainda que onipresente nos palanques.
Comparado à sua fala em abril, quando o discurso girava em torno da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, a fala de Tarcísio neste fim de semana foi nitidamente mais agressiva e ideológica. Do alto do trio elétrico, o governador bradou “Fora, PT” repetidamente, fez críticas contundentes à política econômica do governo Lula, citando inflação, juros altos e aumento de impostos, e reforçou a retórica antipetista que ainda mobiliza uma parcela significativa da base bolsonarista.
Mas o que mais chama atenção na fala de Tarcísio é a escolha das palavras. Ao dizer que “nós vamos vencer” ou que “a resposta virá no ano que vem”, o governador fala por si e por um projeto político que se descola, ainda que sutilmente, da figura de Bolsonaro. O ex-presidente, aliás, foi reverenciado como “grande líder”, mas em um tom mais simbólico do que estratégico. A ausência de figuras como Michelle e Eduardo Bolsonaro fortalece ainda mais a leitura de que Tarcísio é hoje o nome mais viável para herdar a máquina bolsonarista, e adaptá-la a um novo ciclo eleitoral.
Esse discurso, carregado de números e promessas, alinha-se com uma construção de imagem de gestor técnico, moderado nos modos, mas agora claramente mais aguerrido nos conteúdos. E isso tem endereço certo: o eleitorado de direita que está órfão de uma candidatura forte para 2026. Mesmo afirmando publicamente que buscará a reeleição ao governo paulista, Tarcísio deixa aberta a porta para um plano nacional.
A mudança de tom, contudo, não esconde um dado que deve preocupar os estrategistas do bolsonarismo: a adesão popular aos atos vem diminuindo significativamente. Segundo o Monitor do Debate Político da USP, apenas 12,4 mil pessoas estiveram na Paulista neste domingo. Um número irrisório se comparado aos 185 mil reunidos em fevereiro do ano passado no mesmo local. A queda acentuada nas manifestações sugere um desgaste do discurso, do líder e talvez do próprio movimento.
A pergunta que fica é: Tarcísio conseguirá manter viva a chama bolsonarista enquanto tenta construir uma identidade própria? O discurso de domingo mostra que ele está tentando. Mas, ao contrário do que aconteceu em 2018, agora o tempo corre mais rápido, e os aplausos, mais curtos.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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