Bolsonaro lidera no ES, mas o mar da eleição está revolto

Em resumo, Bolsonaro lidera, Lula resiste, e o “novo” ainda não nasceu.

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Por mais que Brasília tente recitar a ladainha do “país pacificado”, o termômetro eleitoral no Espírito Santo mostra um cenário que ferve em plena pré-campanha. Pesquisa IPESES/AQUINOTICIAS.COM, colhida entre 7 e 9 de julho, escancarou um favoritismo folgado de Jair Bolsonaro: 42,6% dos entrevistados escolheriam o ex-presidente se a eleição fosse hoje. É um placar que dispensa narrativas conspiratórias, mas não garante jogo ganho, porque a mesma sondagem traz sinais de desgaste que podem virar tsunami.

Primeiro, a rejeição. Lula amarga, de longe, o índice mais alto (50,5%), enquanto Bolsonaro estaciona em 27,6%. A leitura simplista seria concluir que o petista virou persona non grata na terra capixaba. Mas o dado embute outro aviso: quem detém quatro em cada dez intenções de voto também carrega quase três em cada dez eleitores que não o suportam. Para um Estado com histórico de alternância e voto independente, esse teto pode se transformar em teto de vidro.

O “terceiro caminho”, tão falado em mesas redondas, continua órfão. Tarcísio de Freitas (6,2%) e Ratinho Junior (2,8%) não somam nem metade do que Bolsonaro larga na frente, pior, sequer unem o Centro-Sul que juram representar. Ciro Gomes, eterno surfista de maré baixa, patina nos 5,3%. Em outras palavras: a janela para surgirem nomes capazes de furar a bolha bolsonarista ou a rejeição antipetista está cada vez mais estreita. Quem chegar tarde demais terá de bater na porta do condomínio da polarização – e pagar o condomínio caro da relevância.

Vale observar o tamanho dos “nem-nem”. Brancos, nulos e indecisos somam 18,4%. É um oceano de desalento eleitoral que pode, de repente, virar correnteza. Bolsonaro precisa provar que não é apenas a nostalgia de um passado recente; Lula precisa convencer de que ainda encarna futuro possível; e os novatos, bem, esses precisam primeiro existir para além dos algoritmos.

Há, entretanto, um fator que as planilhas não capturam: a paciência do eleitor capixaba com a guerra cultural carioca-paulista importada via redes sociais. O Estado, acostumado a se orgulhar do “espírito de conciliação”, pode virar laboratório de uma vacina contra a polarização, ou, ironicamente, se tornar cabo-eleitoral involuntário do embate que diz detestar. Se os caciques locais não ocuparem esse vácuo com agenda própria, correm o risco de assistir, das arquibancadas, a mais uma final disputada por forasteiros.

Em resumo, Bolsonaro lidera, Lula resiste, e o “novo” ainda não nasceu. Mas, como ensinam as vilas de pescadores do litoral capixaba, mar calmo nunca fez bom navegador. E eleição, meus caros, é maré: vira quando menos se espera.

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Diorgenes Ribeiro
Diorgenes Ribeiro

Formado em Licenciatura em Geografia, é Pós-graduação em Educação Ambiental e Jornalismo. Atualmente estuda Administração. Com vasta experiência na área, já atuou na gestão privada e pública.

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM