Cada um por si: a economia global entra em modo de sobrevivência

O mundo caminha para uma nova ordem econômica, e as decisões tomadas hoje ecoarão por gerações.

4 mins de leitura

em 02 de abr de 2025, às 23h42

por João Paulo Alóchio Lucas

Com os olhos do mundo voltados para as tentativas de acordos de cessar-fogo em Gaza e na Ucrânia, uma nova guerra econômica está sendo deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em suas recentes investidas tarifárias, Trump assume o papel de xerife da economia mundial, buscando impor sua visão sobre as negociações entre os principais blocos econômicos e mirando, em especial, os países que formam os BRICS.

Tendo a China como principal alvo, Trump tenta conter a ascensão de Pequim e sua crescente influência global, especialmente na América Latina e Central. O aumento das tarifas sobre produtos chineses e a pressão sobre empresas ocidentais para reduzirem sua dependência da manufatura chinesa são apenas algumas das estratégias para minar o poder econômico do gigante asiático.

A resposta chinesa, por sua vez, não tardou: investimentos estratégicos em infraestrutura, novas parcerias comerciais e a ampliação da Iniciativa do Cinturão e Rota reforçam a determinação de Pequim em consolidar sua posição de liderança no cenário global.

Entretanto, os desdobramentos do “tarifaço” de Trump não se limitam ao embate sino-americano. Antigos aliados ocidentais, antes alinhados à Casa Branca, agora reavaliam sua posição e buscam reduzir a dependência econômica e militar dos EUA.

A União Europeia, por exemplo, tem fortalecido laços com parceiros regionais, investindo em acordos comerciais alternativos e promovendo maior autonomia em setores estratégicos como energia e tecnologia. O que antes era pautado por encontros amistosos e fotografias institucionais, agora dá lugar a trocas de farpas e discursos contundentes.

Diante desse novo cenário, o mundo testemunha um processo de fragmentação. As grandes potências, que antes buscavam a globalização como um modelo de interdependência mútua, agora adotam posturas protecionistas e revisionistas, reforçando blocos regionais e priorizando interesses nacionais. O multilateralismo, outrora defendido como a chave para a estabilidade global, cede espaço a um ambiente de tensões geopolíticas e disputas comerciais acirradas.

Os reflexos desse realinhamento econômico já começam a ser sentidos nos mercados financeiros e nas cadeias de suprimentos globais. Empresas que dependem de componentes chineses buscam alternativas em outros mercados emergentes, enquanto os Estados Unidos tentam reindustrializar setores estratégicos para reduzir a dependência de importações. A União Europeia, por sua vez, investe cada vez mais em inovação e energia renovável, buscando consolidar sua posição como um polo econômico autossuficiente.

Nesse sentido, o impacto dessa fragmentação econômica também se reflete no Sul Global. Países da América Latina, África e Sudeste Asiático, que antes se beneficiavam das disputas entre grandes potências para atrair investimentos, agora enfrentam o desafio de se posicionar nesse novo jogo geopolítico. Para essas nações, a chave será equilibrar interesses e evitar cair em armadilhas de dependência excessiva de um único bloco econômico.

A grande questão que se impõe é: até que ponto essa ruptura será benéfica para os países envolvidos? Se, por um lado, a diversificação de parcerias pode gerar maior autonomia, por outro, a escalada de barreiras tarifárias e sanções pode resultar em um período prolongado de incertezas e instabilidade econômica. 

O futuro da economia mundial está em jogo, e o desfecho dessa disputa determinará não apenas o equilíbrio de poder global, mas também os rumos do desenvolvimento econômico nas próximas décadas. O mundo caminha para uma nova ordem econômica, e as decisões tomadas hoje ecoarão por gerações.

** João Paulo Alóchio Lucas é Jornalista e entusiasta das ciências exatas. Economia e geopolítica são temas recorrentes em sua atuação editorial.

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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