Guerra de gigantes; fome dos pequenos
Enquanto os grandes disputam poder, quem sente fome e adia o sonho da casa própria ou escolhe entre pagar a conta de luz ou comprar carne é o brasileiro médio
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em 16 de abr de 2025, às 16h05

por João Paulo Alóchio Lucas
É fácil pensar que guerras distantes e decisões de políticos estrangeiros não dizem respeito ao cidadão comum aqui no Brasil. Mas essa visão é, além de equivocada, enganosa. O “tarifaço” de Donald Trump, iniciado durante seu primeiro mandato e reaceso agora com seu retorno à presidência dos EUA, alinhado a conflitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia, afetam diretamente o custo de vida de cada brasileiro – do arroz à gasolina, do aluguel ao pão de cada dia.
O chamado “tarifaço” é, na prática, uma série de aumentos de impostos sobre produtos importados, especialmente vindos da China. O argumento de Trump é proteger a indústria americana. Na prática, isso causa um efeito cascata.
Quando os EUA encarecem produtos chineses, as empresas buscam alternativas – e olham para países como o Brasil. Pode parecer uma oportunidade. Mas o que acontece, muitas vezes, é que o Brasil vira um “plano B” instável: não tem a mesma escala de produção, nem o mesmo nível de investimento, e logo se vê pressionado a aumentar preços para compensar a nova demanda.
Além disso, com menos produtos chineses no mercado global, os preços sobem. O aço, por exemplo, ficou mais caro. Isso afeta desde a construção civil até o preço de carros e eletrodomésticos. Ou seja: o brasileiro paga a conta de uma guerra comercial entre gigantes.
A guerra na Ucrânia, por sua vez, gerou um aumento brutal no preço de combustíveis e fertilizantes. A Rússia, além de produtora de petróleo, é uma das maiores fornecedoras de insumos agrícolas. Com as sanções e o conflito, o barril de petróleo disparou e os fertilizantes ficaram escassos. Resultado? A gasolina passou de R$ 7 em muitos postos, e o agronegócio – base da nossa economia – sofreu para manter a produtividade. Isso afeta o frete, o preço dos alimentos, e a inflação no mercado interno.
Basta ir ao supermercado para sentir o impacto: o tomate, que custava R$ 4, hoje chega a R$ 10. O botijão de gás já ultrapassou os R$ 150 em algumas regiões. E não, isso não é só “coisa do Brasil”.
Nesse ‘tiroteio’ econômico, o cidadão brasileiro sofre os efeitos das decisões internacionais sem ter voz ou voto. Somos vítimas de uma economia global interligada, mas sem as ferramentas para nos proteger. E ainda temos um governo muitas vezes omisso, que prefere culpar “heranças” ou crises externas do que agir para blindar minimamente a população.
Enquanto os grandes disputam poder, quem sente fome e adia o sonho da casa própria ou escolhe entre pagar a conta de luz ou comprar carne é o brasileiro médio. Está na hora de enxergar que política internacional não é papo de diplomata: é questão de sobrevivência.
Não dá mais para tratar guerras e tarifaços como “notícias lá de fora”. O mundo está interligado – e o nosso bolso está no meio dessa encruzilhada. É hora de exigir mais preparo e menos improviso dos nossos líderes. Porque, no fim das contas, quando os gigantes brigam, é o pequeno que apanha.
** João Paulo Alóchio Lucas é Jornalista e entusiasta das ciências exatas. Economia e geopolítica são temas recorrentes em sua atuação editorial.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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