Liderança de Ricardo Ferraço e Casagrande expõe força do atual governo

O levantamento do Instituto de Pesquisas e Estatística do Espírito Santo (IPESES) serve de combustível para uma análise nada protocolar.

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em 12 de jul de 2025, às 11h48

Foto: Mateus Fonseca | Governo ES
Foto: Mateus Fonseca | Governo ES

Por mais que o calendário eleitoral ainda aponte 2026 como um porto distante, a bússola do eleitorado capixaba já indica duas rotas claras, e ambas passam por nomes que administram, hoje, as engrenagens do Palácio Anchieta. O levantamento do Instituto de Pesquisas e Estatística do Espírito Santo (IPESES) serve de combustível para uma análise nada protocolar: Ricardo Ferraço, vice-governador recém-turbinado pelo MDB, e Renato Casagrande (PSB), governador em fim de segundo mandato, avançam a passos largos rumo a 2026. A pergunta que resta é se seus adversários conseguirão, até lá, trocar o pneu com o carro em movimento.

Ricardo Ferraço: vantagem folgada e narrativa pronta

Com 32,8% das intenções de voto para o Governo, Ferraço abre mais de 11 pontos sobre o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (21,8%). Quem conhece a política capixaba sabe que o vice-governador não opera no improviso. À sombra de Casagrande, recolheu dividendos herdando parte do “capital de estabilidade” construído desde 2019, mas foi além: converteu-se em voz moderada em tempos de radicalização nacional.

Sua rejeição (14,2%) até chama atenção, é a segunda maior, logo atrás de Da Vitória, mas, em política, rejeição sem alternativa sólida vira voto útil. E é exatamente aí que o jogo aperta para Pazolini. A prefeitura da capital ainda não lhe garantiu densidade estadual; falta-lhe musculatura fora da Grande Vitória. Arnaldinho Borgo surge em terceiro (15,2%), porém ameaça se tornar figurante caso não nacionalize discurso e base.

Ricardo, por outro lado, carrega um ativo invisível: a máquina estadual, parcialmente compartilhada graças à convivência harmoniosa com Casagrande. Seus opositores tentam carimbá-lo de “governismo lavado”, mas o eleitor médio, hoje, parece preferir a previsibilidade de quem já conhece o caminho das pedras.

Casagrande: o sobrevivente em ascensão ao Senado

No Senado, a paisagem é ainda mais clara. Renato Casagrande aparece com 41% das intenções de voto, praticamente o triplo de Sérgio Meneguelli (13,9%). O governador, que já atravessou crises hídricas, pandemia e tarifaços inesperados vindos dos EUA, converteu a gestão de danos em ativo eleitoral. É o “maratonista” que, prestes a entregar a faixa, avisa que ainda tem fôlego para a próxima volta.

Nem mesmo a entrada de Paulo Hartung altera o pêndulo: Casagrande mantém 36,8%, enquanto o ex-governador patina em 9,4%. Se Hartung sonhava com o retorno triunfal, o pesadelo atende pelo nome do seu sucessor. Casagrande domina não só o recall de quem está no exercício do cargo, mas também o sentimento-chave de 2025: segurança. Em meio a ruídos nacionais, o eleitor quer porto firme, e o socialista vende justamente isso.

Em rejeição, ele marca discretos 8,9%, superado por Fabiano Contarato (17,5%), Maguinha Malta (15,9%) e Marcos do Val (10,8%). A mensagem é cristalina: o antipetismo residual não se cola ao governador, e o desgaste natural de dois mandatos não se traduz em fadiga eleitoral. Um feito raro.

Adversários presos ao parapeito

Os números de Da Vitória, tanto para o governo (5,4%) quanto para o Senado (4,5%), reforçam o diagnóstico: ainda que muito falado nas bancadas de Brasília, o deputado não é percebido como contraponto local. Sua rejeição (líder para o governo, 17,1%) sinaliza que a verborragia congressual nem sempre se converte em simpatia popular. Já Pazolini e Arnaldinho têm cancha municipal, mas padecem quando o mapa extrapola os limites urbanos. Eles precisam, com urgência, abandonar o discurso de “prefeito que deu certo” e ofertar visão estadual robusta.

Por que a dianteira é deles?

Consistência administrativa

Tanto Ricardo Ferraço quanto Casagrande surfam na percepção de que o Espírito Santo atravessou crises nacionais sem sobressaltos. A estabilidade fiscal, repetida ad nauseam em relatórios do Tesouro, virou palavrinha mágica no cartão de visitas de ambos.

Baixo índice de polarização

Em terra onde o “flaflu ideológico” rende poucos dividendos, os dois cultivaram imagem conciliadora. Ricardo e Casagrande dialogam com ambas vertentes políticas, seja de esquerda, direita ou extrema-direita. Para o eleitor, isso soa como “governabilidade garantida”.

Estrutura de comunicação testada

A máquina estadual, afeita as campanhas em massa e a narrativas de cooperação com municípios, deu lastro midiático. Hoje, o governo fala direto com o interior, grande gargalo dos prefeitos metropolitanos.

O que pode virar o jogo?

Crise econômica prolongada que corroa o discurso de segurança fiscal.

Escândalos de gestão, improváveis, mas sempre possíveis.

Terceira via agressiva, um outsider com carisma real, não fabricado em laboratório de marketing.

Pano rápido…

Se a eleição fosse hoje, Ricardo Ferraço e Renato Casagrande caminhariam para consolidar uma dobradinha inédita: vice que se torna governador com quase “herança benigna” do titular, e titular que escala um degrau acima, rumo ao Senado, com voto de gratidão. Há quem chame de continuísmo. O eleitor capixaba, ao que parece, chama de tranquilidade. E, em tempos de turbulência nacional, tranquilidade vale ouro — e voto.

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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