O último cortejo de Francisco
Acabei de tomar conhecimento de uma notícia que me atravessou feito oração sussurrada no escuro. A jornalista Mirti Medeiros, entre lágrimas
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em 29 de abr de 2025, às 16h06

Por Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Acabei de tomar conhecimento de uma notícia que me atravessou feito oração sussurrada no escuro. A jornalista Mirti Medeiros, entre lágrimas, contou: o Papa Francisco foi enterrado num lugar esquecido, dentro da Basílica Santa Maria Maior — não nos altares dourados, mas num canto abandonado.
O cortejo saiu da Basílica de São Pedro. Do coração da Igreja. E seguiu até o coração de Maria. Na entrada da Basílica dedicada à Virgem, quem o recebeu não foram cardeais nem chefes de Estado. Foram os pobres. Os sem-teto. Os invisíveis. Os que, no seu pontificado, tiveram nome e rosto.
Francisco se despediu como viveu: perto dos que ninguém queria por perto. Como se dissesse, mais uma vez, que o Evangelho não precisa de palácio — precisa de chão. Que o sucessor de Pedro pode sim repousar ao lado dos esquecidos, porque foi ali que ele sempre insistiu em estar.
Muitos estranharam o enterro. Esperavam um túmulo de mármore, uma cripta nobre, um descanso à altura do cargo. Mas Francisco nunca quis o cargo. Quis o peso. Quis a responsabilidade. Quis a cruz. E agora, no seu último gesto, escolheu que até o próprio corpo se tornasse pregação.
Não são poucas as vezes em que ele falou de uma Igreja pobre para os pobres. Não era metáfora. Era direção. Ele apontou com palavras, com gestos e agora, com a morte, fincou esse pedido na terra — literalmente. Seu túmulo será onde ninguém vai por costume, mas onde Cristo vai por missão.
E talvez, quando o povo simples estiver ali, rezando perto daquela pedra gasta e sem placa dourada, alguém entenda: ali jaz um Papa que acreditou mesmo que o céu começa quando a gente se curva para levantar quem caiu.
O último cortejo de Francisco será, talvez, o mais silencioso. Mas não o menos poderoso. Porque enquanto o mundo se despede dele, ele continua ensinando. Mesmo sem voz, continua pregando.
E o Evangelho — aquele das Bem-Aventuranças, da misericórdia, do lava-pés, do pão dividido — não será enterrado com ele. Porque esse tipo de vida não morre. Só se espalha.
*** Pe. José Carlos Ferreira da Silva é Mestre em Ciências da Religião, Psicólogo, Escritor e Jornalista, Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Atualmente é Vigário Episcopal para Comunicação e Pároco da Paróquia Nosso Senhor dos Passos na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES).
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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