Por dentro da crise: o racha no PT capixaba
Enquanto isso, a sociedade capixaba, e a própria base petista, assiste a um espetáculo pouco edificante.
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em 17 de jun de 2025, às 16h31

O Partido dos Trabalhadores no Espírito Santo vive talvez seu momento mais conturbado em anos, e não apenas por derrotas eleitorais ou dificuldades de articulação com a sociedade. O que está em jogo agora é a própria identidade e o rumo que a legenda pretende seguir no Estado. E o campo de batalha é o PED 2025, o Processo de Eleição Direta que definirá o novo comando do PT capixaba.
De um lado, a atual presidente estadual, deputada federal Jack Rocha, busca a reeleição defendendo um partido mais protagonista, com candidatura própria ao governo em 2026 e maior presença nas disputas municipais. Rocha credita à sua gestão o aumento de filiados, organização de diretórios e a ampliação do número de candidaturas em 2024. Seu discurso aposta na ideia de avanço institucional, de ocupação de espaço.
No lado oposto, a chapa liderada pelo ex-prefeito de Vitória João Coser e pela deputada estadual Iriny Lopes acusa a atual direção de isolamento político e falta de diálogo com as bases partidárias. Para esse grupo, o PT precisa recuperar sua essência: debate interno, construção coletiva e proximidade com a militância.
O que poderia ser apenas uma disputa saudável de projetos descambou para um episódio lamentável, que beira o vexatório. Durante um debate entre as chapas, na manhã de sábado (14), em Vitória, o clima azedou de vez. Gritos, empurrões e confusão generalizada tomaram conta da reunião. No meio do tumulto, Iriny Lopes caiu e precisou ser hospitalizada. A imagem da parlamentar sendo amparada em meio à confusão simboliza mais que um incidente físico: é o retrato de um partido que perdeu o prumo.
Jack Rocha, em nota, responsabilizou assessores e apoiadores da chapa adversária pela tensão, acusando-os de interromper e tentar intimidar a fala de sua equipe. Já a chapa “A Estrela Tem Que Brilhar”, de Iriny e Coser, lamentou o ocorrido, classificando-o como um acidente em meio a uma tentativa de mediação da própria Iriny. Ambos os lados falam em democracia, mas o episódio revela uma disputa marcada por desconfiança, ressentimento e um claro desgaste interno.
Esse embate não é apenas uma querela local. É um reflexo do momento de fragilidade nacional do PT, que mesmo com Lula na Presidência, enfrenta resistência crescente da opinião pública, tropeços políticos e dificuldades em reconstruir sua imagem em muitas regiões do país.
No Espírito Santo, esse conflito interno lança luz sobre duas visões distintas de partido: uma que quer protagonismo institucional e controle político centralizado; e outra que exige um retorno às raízes da participação e da militância. Ambas legítimas, mas que, no momento, parecem incapazes de coexistir sem atritos.
Enquanto isso, a sociedade capixaba, e a própria base petista, assiste a um espetáculo pouco edificante. O risco é que o PT, em vez de se fortalecer como alternativa de poder, continue se autodesgastando, alimentando divisões que só interessam àqueles que o querem ver fora do jogo.
O partido precisa urgentemente de maturidade para transformar o embate em debate. Se quiser sobreviver com relevância política, será preciso mais do que discursos inflamados. Será preciso união, sem, no entanto, sufocar a divergência. Porque sem democracia interna real, o PT continuará tropeçando… em si mesmo.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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