Quem vai colher o café que está no pé? O apagão da mão de obra no agro
Não é mais novidade para ninguém que há, em todos os setores produtivos da economia, um grande apagão de mão de obra
5 mins de leitura
em 22 de abr de 2025, às 09h51

Por Wesley Mendes
Não é mais novidade para ninguém que há, em todos os setores produtivos da economia, um grande apagão de mão de obra, ou seja, não se encontra ninguém para trabalhar.
O debate em torno da falta de mão de obra se intensifica, seja na construção civil, na indústria, no comércio ou serviços, há escassez de mão de obra e não seria diferente no agro e em todas as suas cadeias produtivas, mas com impacto marcante agora no momento da colheita do café.
A colheita de café no Espírito Santo é o momento de maior oferta de emprego no nosso agro capixaba, cachoeirense e Sul capixaba. No Sul do Estado estão os cafés de montanha, que apesar da aplicação da nova tecnologia de terraceamento, a nossa topografia ainda é um grande desafio e inviabiliza a mecanização da colheita causando uma quase total dependência do trabalho humano.
Ao Norte do Estado a situação não é menos grave, porém, tem sido enfrentada com a mecanização utilizando a chamada “recolhedora de café”, quando se trata do café conilon, equipamento possível de ser utilizado em virtude da topografia plana, mas também com a contratação de mão de obra externa, vinda dos estados do nordeste principalmente.
Mas se falta mão de obra, onde estão essas pessoas?
Em meio ao debate surgem questões como os programas sociais, o principal deles o Bolsa Família, que tem papel social importante, mas que impede o emprego formal daqueles inscritos do CAD ÚNICO, para estes o emprego formal os impediria de continuar recebendo o apoio governamental.
Então, tomando como base os dados oficiais de Cachoeiro de Itapemirim, cidade de onde escrevo, vamos observar os principais números do Cadastro único.
Cachoeiro de Itapemirim, cidade com 185.786 habitantes, hoje, com dados atualizados até o mês de março de 2025, tem um total de 72.748 pessoas cadastradas na base do CAD ÚNICO.
Deste total 61.260 pessoas identificadas como beneficiárias do Bolsa Família em suas várias modalidades, ou seja, 32,97% da população atual de Cachoeiro de Itapemirim.
Fonte: https://cecad.cidadania.gov.br/painel03.php#
A insegurança jurídica e a remuneração do trabalho na colheita do café
Importante mencionar: Não há nenhuma circunstância, por mais cômoda que possa parecer, que justifique e contratação ilegal de mão de obra no agro, temos uma lei trabalhista rígida e muito eficaz, portanto, não há colheita farta ou preço de café que justifique tal risco, ou o mal exemplo.
Mesmo assim o que encontramos são trabalhadores temporários oferecendo seus serviços, porém condicionam isso ao NÃO REGISTRO legal exigido pela lei, mas todos os contratantes são orientados pelos Sindicatos Rurais a não realizarem esta modalidade de “acordo”. O maior perfil encontrado e daqueles que não querem mesmo o trabalho da colheita para não perderem o Bolsa Família.
Essa escolha é difícil de entender, pois os ganhos com a colheita do café, hoje, são muito atrativos para uma mulher ou homem que se propõe a trabalhar. Um trabalhador treinado é capaz de colher 10 sacas de café por dia, e recebe por isso R$ 50,00 por saca, valores de hoje, ou seja, R$ 500,00 por dia de trabalho.
A colheita do café, em média, dura 90 dias trabalhados, então, ao final da colheita, um trabalhador dedicado pode chegar a faturar R$ 45.000,00, certamente valor bem maior do que os R$ 800,00 mês, em média, do Bolsa Família. Vá entender.
A capacitação é a porta de saída do Bolsa Família?
Por mais incrível que possa parecer nós vimos durante a semana partir do governo federal, governo do Partido dos Trabalhadores, a provocação do debate sobre a porta de saída do Bolsa Família o programa social, que aliás, tem sido usado nos debates políticos eleitorais como pauta principal para a decisão do voto, afinal 54 milhões de brasileiros recebem algum auxílio governamental, e eles votam.
Ao debatermos a transição para o mercado de trabalho dos beneficiários do Bolsa Família fica claro que a conta está pesada demais, que o pagador não aguenta mais pagar, e que uma solução social séria, digna e definitiva precisa ser encontrada, pois a força de trabalho do Brasil parece-me estar presa a um programa social que não tem nenhuma regra de transição e nenhuma expectativa de prosperidade para aqueles brasileiros que dele dependem, mas que precisam voltar ao mercado de trabalho, se não por uma questão econômica, pela dignidade humana ao menos.
Todos os setores produtivos têm papel fundamental para a construção desta tão esperada “porta de saída” ou transição, pois temos o Sistema “S”. Mantidos por empresas e produtores rurais os “S” existem para qualificar mão de obra e a gestão de pequenas empresas e propriedades rurais, e é chegada a hora do debate produtivo entre governos, trabalhadores, empresários e entidades representativas para chagarmos a um modelo de transição que garanta comida na mesa e dê dignidade a quem quer trabalhar, construindo uma sociedade de valores e não favores e que dê o mínimo de esperança a quem empreende e gera emprego no Brasil.
Ao final quero, em homenagem, citar o homem que viveu sua vida dedicada aos mais pobres, aos indefesos da sociedade e ao serviço da igreja:
“A pobreza não se combate com o assistencialismo, não! Assim ela a anestesia, mas não a combate. Ajudar os mais pobres com dinheiro deve ser um remédio provisório para enfrentar as emergências. O objetivo verdadeiro deve ser permiti-lhes uma vida através do trabalho, a porta é o trabalho. A porta para a dignidade do homem é o trabalho.”
Papa Francisco 1936-2025
** Wesley Mendes é produtor rural, gestor de Recursos Humanos e presidente do Sindicato Rural de Cachoeiro de Itapemirim.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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