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Especial

Dona Maria Miranda de Assis: vencendo um dia de cada vez há 119 anos

Em Cachoeirinha do Rio Pardo – hoje, Irupi, na região do Caparaó Capixaba, nascia Maria Miranda de Assis que completou 119 anos de vida, no último dia 17 de fevereiro

Por Redação

5 mins de leitura

em 06 de mar de 2023, às 09h44

Foto: Marcos Freire
Foto: Marcos Freire

Por Marcos Freire

Há 119 anos atrás, era fundada a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e foi realizada a terceira edição dos Jogos Olímpicos. Já, no Brasil, o Congresso Nacional aprovava a Lei da Vacina Obrigatória contra a Varíola, entre muitos outros acontecimentos. Enquanto isso, em Cachoeirinha do Rio Pardo – hoje, Irupi, na região do Caparaó Capixaba, nascia Maria Miranda de Assis que completou 119 anos de vida, no último dia 17 de fevereiro.

Com certeza, quando nasceu e durante sua vida, Dona Maria não deve ter dado conta de todos esses acontecimentos e nem acreditava que chegaria a uma idade tão avançada. Hoje, morando em São José do Calçado, também na região do Caparaó, lembra de praticamente tudo que viveu, até agora, demonstrando a lucidez e a tranquilidade das almas que trazem só o que há de simples e bom da vida.

Ela nasceu 16 anos após a abolição da escravatura, mas viveu as consequências disso, numa realidade em que a visão preconceituosa da sociedade era ainda maior do que a existente nos dias atuais, 135 anos depois do fim da servidão. Neta de uma indígena da tribo Puri que foi capturada na mata por um fazendeiro, Dona Maria Miranda nasceu da união de Francisco Tomaz de Assis e Antônia Pereira de Azevedo que tiveram outros 15 filhos. Irmãos que ela não sabe onde estão e nem se estão vivos.

Dona Maria Miranda: na casa de famílias desde os 7 anos

Isso porque seu pai faleceu quando ela tinha 3 anos de idade. E, diante das dificuldades da vida, sua mãe entregou seus filhos para a casa de famílias com mais recursos, onde ela só conheceu o trabalho, como forma de sobreviver, em troca de comida e cama. “Minha mãe me deixou com 7 anos na casa de uma família e nunca mais a vi e nem meus irmãos”, conta.

Assim ela viveu, de casa em casa de famílias, até se casar com Cândido Rangel Miranda, quando tinha 22 anos. Com ele, que faleceu há mais de 30 anos, Dona Maria teve 12 filhos, sendo que 10 já faleceram. “Só tenho duas filhas vivas e tem um ano de morto, o último”, relata, demonstrando a força de mulher que a vida lhe ensinou a ter.

Viúva, ela diz não se lembrar quantos netos, bisnetos e tataranetos tem. Mas não deixa de falar que muitos nunca viu, porque grande parte deles nunca a visitou ou a procurou. “De todos, só tenho contato com três netos”, ressalta.

Ela mora há mais de 60 anos na mesma casa em Calçado

E não é difícil de achá-la, porque o endereço é o mesmo há mais de 60 anos, no bairro do Motorista, em São José do Calçado, próximo ao Estádio do time que leva o mesmo nome do bairro. E a casa é branca, com janelas, portas e portão azuis, onde impera a simplicidade de quem vive em paz. Levando a vida como se o lugar ainda fosse do mesmo jeito do passado, quando chegou no local e nada era como hoje. “Em volta da casa, só tinha capoeira e o campo de futebol, mais nada”, recorda.

Dona Maria Miranda coloca que a vida mudou pouco, mas o mundo bastante. “Era tudo mais tranquilo e não tinha tanta violência”, afirma. Por isso, sente saudades de ter mais liberdade para ir e vir, quando “não havia tantas drogas, só tinha bebida”. “E as pessoas eram mais unidas e calmas, mas hoje, qualquer coisa, as pessoas estão brigando, vivem angustiadas e em depressão, a alegria acabou”, enfatiza.

Nas casas por onde passou, desde menina, Dona Maria Miranda sempre trabalhou muito, tanto no ambiente doméstico como na roça. E como foi após o casamento? “Depois que casei, o serviço dobrou, porque tinha que cuidar de tudo, casa, filhos e marido”, rebate, entre risos.

A rotina de quem coloca tudo nas mãos de Deus

Sua rotina pode ter mudado um pouco, aos 119 anos, mas Dona Maria ainda faz praticamente tudo dentro de casa. Ela cozinha, cuida do quintal e alguma coisa dentro da residência, onde mora com uma filha e netos. “Só não vou muito na rua, mas vou na igreja, porque ficar parada é ruim”, afirma.

Atualmente, Dona Maria Miranda precisa de mais cuidados com a saúde, apesar de demonstrar muita vitalidade. Ela conta que cuida mais da alimentação e que sempre recebe a visita da agende municipal de saúde, da Prefeitura de São José do Calçado. Inclusive, está se tratando de um problema de catarata nas vistas, o que tem a limitado em algumas das atividades que gosta de fazer.

Dona Maria nunca bebeu bebidas alcoólicas, mas fumou “muito quando era nova”, apesar de não fazer mais isso. Contudo, não diz se isso ou qualquer outra coisa é receita para se viver tantos anos. “Tudo acontece no tempo de Deus que sempre está me protegendo, dando vida e saúde”, coloca, com sabedoria. “Completei 119 anos e não sei se vou chegar aos 120, mas, graças a Deus, estou vencendo”, conclui a conversa e deixando a mensagem que, em qualquer tempo, se vence um dia de cada vez, seja com 19 ou 119 anos.

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