Por Pammela Volpato
Todos os dias, as mulheres enfrentam diversos desafios, seja em casa, no trabalho, entre amigos e em muitos outros lugares. Mas o que poucos sabem é a história de cada uma delas: seus sonhos, suas conquistas e os obstáculos que tiveram que superar no caminho.
Aos 35 anos de idade, a cachoeirense Rosi Gouveia é uma digital influencer de sucesso. Com quase 50 mil seguidores no Instagram, ela fala sobre moda e beleza e tem uma média de 15 contratos fixos de clientes mensais. Autêntica, segura e dona de uma personalidade única, ela tem consciência do quanto influencia a vida das pessoas e leva essa questão a sério. “É uma responsabilidade muito grande, por isso sou o mais sincera e honesta possível. Honestidade e caráter não têm preço, é o que eu tenho de mais precioso. O meu trabalho prospera por conta da minha credibilidade”.
O sucesso no mundo digital aconteceu naturalmente e de forma gradativa, mas não foi fácil. Rosi, que foi uma das primeiras a trabalhar com mídias sociais no Sul do Estado, conta que na verdade começou nesse ramo por acaso, de forma despretensiosa.
Natural de Cachoeiro e formada em Fisioterapia, ela morou em Vitória por 15 anos e sempre foi apaixonada por moda. Ainda na faculdade, as amigas sempre perguntavam sobre suas roupas e pediam dicas. “Quando estudava eu não tinha grana sobrando e comprava muita coisa em lojas de departamento, mas fazia combinações legais, o que gerava e interesse das amigas no que eu vestia”.
Quando voltou para Cachoeiro, uma grande dificuldade foi encontrar roupas, pois na época ainda não haviam lojas de departamento por aqui. “Só se achava roupa muito cara ou muito barata, daquelas sem qualidade. Meu estilo era bem diferente das pessoas daqui e as redes sociais não eram populares como hoje, então eu sempre chamava a atenção com meus looks diferentes. Eu ainda trabalhava com fisioterapia e meu marido começou a me incentivar a trabalhar com moda, pois onde íamos as pessoas comentavam sobre isso comigo, pediam dicas”, relembra.
O início como influencer
Como a moda era um assunto que amava, Rosi então decidiu abrir uma loja. Mas ela ficou apenas um ano com o empreendimento pois não se identificou com o negócio. Foi aí que, há uns sete anos, uma loja de sapatos a procurou e fez uma proposta de divulgação dos seus produtos. “Eles me dariam os calçados para eu fazer propaganda no meu Instagram. Na época eu estava grávida e depois que minha filha nasceu eu vi uma oportunidade de fazer disso o meu trabalho e comecei a estudar. Começou por prazer e evoluiu para um trabalho sério”.
A digital influencer conta que fez vários cursos e começou a consumir muito mais conteúdos de moda e beleza. No início ela não ganhava dinheiro e foi difícil se inserir no mercado e conquistar a credibilidade que tem hoje. “Nessa época o mercado de digital influencer estava começando, era tudo muito novo. Foi um trabalho de formiguinha mesmo, mas acho que minha grande sacada foi ter investido nos estudos e buscado conteúdo. Tudo o que eu falo é com embasamento, eu leio e estudo bastante, acompanho desfiles, lançamentos, afinal este é um universo que me atrai”.
Hoje esse é um trabalho consolidado e reconhecido. Nos segmentos de beleza e alimentos, por exemplo, os influenciadores têm enorme poder tanto na apresentação de novos produtos, quanto na alavancagem de vendas. Pesquisas recentes apontam que os influenciadores são a segunda fonte de informações para a tomada de decisão na compra de um produto.
Ciente desta responsabilidade, a influencer explica que é muito criteriosa na hora de fechar seus contratos e só indica produtos que conhece e gosta. “Sou extremamente sincera nesse quesito, jamais vou fazer propagando de alguma coisa que eu não conheça ou que não tenha qualidade. Um exemplo muito claro foi de quando eu emagreci. Algumas empresas de remédios queriam que eu divulgasse os produtos, dizendo que eles me fizeram perder peso, mas eu não aceitei porque emagreci fazendo dieta e atividade física. Eu poderia ter ganhado muita grana, mas que mentira seria isso? Essa não é minha postura e tenho muito orgulho”, afirma.
Mesmo sabendo que consegue influenciar muita gente, Rosi conta que não busca ser uma inspiração. “Não me vejo como inspiração, eu sou uma mulher comum, como todas as outras e procuro ter muita responsabilidade e cuidado com que eu posto. Eu sinto muito prazer no que eu faço, me sinto realizada, mas é um trabalho, é desgastante também”.
Mesmo sendo um trabalho sério, que demanda muito tempo e dedicação, ainda existem preconceitos. “Algumas pessoas não veem o que eu faço com um trabalho, acham que é só ir lá tirar uma foto e ponto, mas não é assim, existe toda uma preparação, montagem de conteúdo, além da criatividade para estar sempre atraindo o público. Existe também um machismo, sabe? Meu marido é médico e tem gente que acha que ele me sustenta, que o meu trabalho não é financeiramente remunerado. Não teria problema algum se fosse verdade, mas nunca foi, eu sempre trabalhei, sempre tive o meu dinheiro.”
Família
Casada há dez anos, ela é mãe de Valentina, de 7 anos, e também tem seu compromisso como dona de casa. “Eu tenho ajuda, mas sou eu que organizo tudo, faço compras, levo a filha para escola e cursos. Sou como todas as mulheres que se desdobram para dar conta de tudo. Sempre tento ter tempo de qualidade com minha família, mas às vezes falta alguma coisa, é a maternidade real mesmo”.
Para a influencer, o principal desafio da profissão é não deixar de ser real. “Faço o possível para não me tornar mecânica, não profissionalizar demais. Vejo o excesso de profissionalização como uma coisa ruim, nós somos seres humanos e é isso que as pessoas querem ver, não uma máquina”.
Outro desafio é produzir conteúdos de qualidade para manter os seguidores. “Mais difícil que conquistar seguidores é conseguir mantê-los. Os seguidores são os primeiros contratantes, sem eles não existiriam os trabalhos. E produzir conteúdo exige muita criatividade, as pessoas buscam cada vez mais informação e não apenas o entretenimento puro e simples”.
Para finalizar, Rosi ressalta que é difícil ser mulher nos dias atuais. “Estamos muito distante de ter conquistado um espaço de igualdade, de posicionamento e de respeito, acredito que ainda temos muito espaço para conquistar, mas para isso a mulher tem que se valorizar, se respeitar, nunca se sentir inferior. As mulheres são muito fortes e conseguem fazer coisas que os homens nunca conseguiriam. Não é fácil, mas é um privilégio”, finaliza.
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