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Especial

Mãe e filha na luta pelo direito das pessoas com deficiência

A maioria da população não sabe, mas a batalha das pessoas com deficiência por mais acessibilidade e inclusão é um desafio constante, mesmo com a existência de diversas leis

Por Redação

5 mins de leitura

em 16 de mar de 2023, às 10h12

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Por Adrieny Couto

Todos os dias, milhões de pessoas com deficiência cruzam com barreiras causadas pela falta de acessibilidade. Isso ocorre em diversos momentos, seja pela falta de rampas de acesso ou restaurantes sem cardápio em braile e até um vídeo sem legenda e tradução para Libras (Língua Brasileira de Sinais).

A maioria da população não sabe, mas a batalha das pessoas com deficiência por mais acessibilidade e inclusão é um desafio constante, mesmo com a existência de diversas leis.

E foi após o nascimento de sua primogênita Luísa, atualmente com 19 anos, que Mônica Pitanga precisou fazer dessa luta, uma de suas motivações de vida. Hoje, mãe e filha, moradoras de Cachoeiro de Itapemirim, travam juntas uma batalha por mais respeito e direitos.

Influenciadora digital, palestrante e uma forte defensora das melhorias que espera no mundo, Luísa reconhece que foi sua mãe que a incentivou, desde o início, para que agora ela pudesse ter sua própria vez. “Minha mãe é minha maior referência. Antes de eu me atinar que era necessário lutar pelos meus direitos, ela já fazia isso e me levava junto. No começo, eu não tinha coragem de falar, mas ela já fazia isso e me mostrava que essa era uma forma de provocar mudança. Hoje sei que antes de mim vieram muitas mulheres super potentes com deficiência, as quais não tive conhecimento durante minha infância e adolescência, mas que hoje são grandes referências e pessoas que norteiam muito a minha caminhada”, conta.

Educadora parental e palestrante, Mônica conta que o nascimento da Luísa foi uma reviravolta em sua vida e, dividiu todos os detalhes no livro “Pontos de Afeto: Lições da Maternidade Atípica”, de sua autoria, para ajudar outros pais que passam por vivências semelhantes a dela.

“Conheci o Bruno, meu marido, quando tinha 15 anos. Logo começamos a namorar e estamos juntos até hoje. Ele, que era de Niterói, veio para Cachoeiro em 2000 e nos casamos em 2001. Em 2003, fomos pais da Luísa. O nascimento dela foi uma reviravolta na minha vida, até porque nós duas quase morremos. O nascimento dos meus outros filhos foi muito importante, mas a Luísa foi um divisor de águas na minha vida”.

Luta por acessibilidade

Comunicativa e com vontade de provocar mudança, Luísa segue lutando sempre pelo que acredita, mesmo sendo difícil. E acredita que ter a mãe junto com ela, realizando esse trabalho, é fundamental.

“Não vou dizer que é um trabalho super confortável e que não é cansativo, são passos de formiguinha. Mas existem momentos que vemos que tudo vale a pena, geralmente quando recebo mensagens de pessoas com deficiência ou de pais e mães agradecendo que de alguma forma eu ajudei aquela pessoa a lidar melhor com alguma questão de si própria. E mais do que o carinho que recebo, fico feliz quando de alguma forma nossa pressão como ativista, como movimento, causa uma mudança concreta, garantia de direito ou até uma reforma por acessibilidade, esse feedback é muito gratificante. Poder dividir isso com a minha mãe é fundamental, pois nós nos apoiamos, principalmente nos momentos de fraqueza, em que achamos que não vamos conseguir”.

Já Mônica atribui à filha, toda coragem para seguir firme em seu propósito. “Lutar pela diversidade e inclusão são minha missão de vida, é o que me move a continuar construindo uma sociedade mais justa. Cada pessoa que passa pela minha vida impacta de alguma maneira e me ensina algo. Amo conhecer histórias de vida e aprender com elas. Mas a Luísa me provoca a pensar fora da caixa e me faz crescer como ser humano”.

Mulheres com deficiência

Sobre a comemoração do Dia da Mulher e a importância da data, principalmente para mulheres com deficiência, Luísa é enfática e diz que a data é uma comemoração política, que deve ser vista como um momento para mobilizar outras pessoas e reivindicar por direitos, principalmente de mulheres com deficiência.

“Eu acho que a comemoração do Dia da Mulher é muito importante, mas não é só sobre comemorar ou dar presente, é preciso entender que essa data é um dia político, de reflexão sobre exigências das mulheres que ainda precisam de atenção da sociedade. Nós precisamos ouvir mulheres com deficiência, pois suas demandas são gritantes. Estamos muito longe da dignidade, do respeito e de uma vida digna como mulher e como pessoa com deficiência. É um dia muito importante para que a sociedade deixe ecoar as nossas reflexões”.

Sobre o futuro, Luísa conclui dizendo que ainda falta muito para que a data seja comemorada em sua plenitude: “Falta muita coisa ainda. Para mulheres com deficiência ainda falta, infelizmente, que as suas deficiências não sejam apagadas; que a sociedade entenda e celebre que Frida Kahlo foi uma mulher com deficiência; que Maria da Penha, nome dado a lei que protege mulheres no Brasil, é uma mulher com deficiência; é entender que mulheres com deficiência tem história e fazem história; que elas produzem e contribuem com a sociedade. Falta dignidade, afinal, se uma mulher com deficiência precisar denunciar algum caso de violência doméstica, pode encontrar uma delegacia sem acessibilidade, tanto física quanto comunicacional. Então falta muito, falta que a mulher com deficiência tenha direitos reprodutivos, direitos de se relacionar e opinar sobre o próprio corpo; de ter o cuidado que ela precisa garantido; de ter poder de escolha sobre o próprio corpo, por mais que ela não consiga fazer sozinha tarefas básicas do dia a dia e precise do apoio de terceiros; falta muita coisa e, por isso, que acredito na importância desse dia e da nossa luta diária também”.

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