As mulheres já representam quase 60% do quadro de colaboradores das cooperativas do Espírito Santo, e a cada dez diretores ou gerentes desses negócios, três são mulheres com mais de 30 anos. É o que aponta a edição mais recente do Anuário do Cooperativismo Capixaba. Mas para além de números, as mulheres têm construído carreira e histórias inspiradoras graças às oportunidades de trabalho que encontram no movimento cooperativista.
Um exemplo é a trajetória da Renata Eller, que mora com a sua família no município de Afonso Cláudio. Atualmente, ela é vice-presidente e conselheira de Administração de uma cooperativa de transporte escolar do município de Afonso Cláudio, a Cooptac. No dia a dia, Renata verifica carros de cooperados, vai até as escolas atendidas pela sua coop, delega funções para colaboradores nos escritórios e participa de reuniões.
Renata também já foi presidente e fez parte do Conselho Fiscal de sua cooperativa e sente orgulho por essa trajetória e pela oportunidade de ocupar cargos de liderança. Foi por meio da coop que ela aprendeu a dirigir e conquistou estabilidade financeira. “Quando comecei a trabalhar na Cooptac, eu tinha uma kombi que vivia quebrando, mas fui persistente. Continuei trabalhando e hoje tenho uma frota de quatro carros. Eu e meu marido fazemos transporte escolar junto com outros cooperados com muito orgulho, pois é desse trabalho que tiramos a nossa renda”, conta com orgulho.
No segmento do transporte escolar, a presença de homens ainda é predominante, mas esse fator não tirou a vontade de Renata de prosperar em sua vida profissional com o apoio do cooperativismo. “Foi com muito trabalho, persistência e dedicação que cheguei até aqui. Ser uma mulher conselheira durante muitos anos é bastante desafiador. Às vezes até passamos por momentos de desânimo, mas persistimos no caminho do cooperativismo, trabalhando de forma coletiva e buscando o melhor para todos”, relata.
O espaço conquistado pela Renata reflete um momento em que cada vez mais mulheres entram no mercado de trabalho e ascendem a cargos de liderança. No cooperativismo não é diferente. Foi devido a essa abertura que Nadya Bronelle conseguiu se profissionalizar e se tornar um exemplo para outras mulheres que acompanham o seu trabalho.
Hoje Nadya é coordenadora de cooperados da Cooabriel, coop do segmento da cafeicultura no município de São Gabriel da Palha. Ela também representa o Espírito Santo no Comitê Nacional das Mulheres Cooperativistas – mais conhecido como Elas pelo Coop, do Sistema OCB, um grupo criado para estimular a participação de mulheres nas coops brasileiras. Além disso, ela coordena o Núcleo de Mulheres da Cooabriel.
O avô de Nadya foi um dos fundadores da coop de café. Ela cresceu ouvindo os benefícios de fazer parte do movimento cooperativista. Por isso, em 1999 ela ingressou na coop, incialmente trabalhando na área de atendimento aos cooperados, substituindo o encarregado do setor, que estava de férias. Depois, veio o trabalho em tempo integral na coop, até ela chegar ao seu cargo atual.
“Além de a Cooabriel estar abrindo várias possibilidades para as mulheres ocuparem cargos de liderança, outros três fatores foram essenciais para eu chegar aonde estou: a minha dedicação e conhecimento sobre o meu setor; estar preparada para assumir o meu cargo; e ter amor pela cooperativa e por todos os projetos que envolvem os cooperados e suas famílias”.
Nadya acredita que o coop lhe permitiu conquistar diversos objetivos profissionais e pessoais. “Tudo o que sou e tenho deve-se ao cooperativismo, um modelo de negócio que já foi muito masculino, mas que tem dado cada vez mais abertura para a participação das mulheres. Todos ganham com isso: a mulher, pelo seu reconhecimento; o cooperativismo, ao fortalecer seus valores de equidade; e as cooperativas, que pluralizam mais as opiniões em suas decisões”, avalia.
INCENTIVO À LIDERANÇA FEMININA DESDE CEDO
Não é apenas no mundo dos adultos que a participação de mulheres tem sido incentivada no âmbito do cooperativismo. Quem prova isso é Nicole Gonçalves, uma estudante de 13 anos que já está praticando os princípios do cooperativismo e a liderança feminina desde jovem.
Nicole é a vice-presidente de uma cooperativa mirim do município de São Gabriel da Palha, a Coop-União. Nesse ambiente, alunos da cooperativa educacional Coopesg atuam de forma voluntária sob a supervisão de um professor orientador, desenvolvendo atividades administrativas, produzindo itens coletivamente e desenvolvimento ações solidárias para a comunidade. Na prática, é uma cooperativa semelhante a qualquer outra, mas sem fins lucrativos e conduzida por alunos.
A jovem acredita que a oportunidade de assumir uma função de liderança desde cedo contribuirá para a sua formação. “Essa experiência vai me ajudar muito no futuro, pois despertou em mim um senso de responsabilidade e compromisso. Essa posição também me ajudou a desenvolver a minha oratória, meu senso de liderança e a minha autoconfiança”, relata.
Nicole sabe que, ao estar em uma posição de liderança, incentiva outras meninas a também terem coragem para assumir o protagonismo. “A minha participação incentivou outras estudantes a assumirem cargos de liderança, tanto que na próxima gestão da Coop-União, uma menina vai assumir a presidência”, revela.
Sua visão madura sobre a importância da equidade de gênero mostra o quanto o cooperativismo pode contribuir para a formação dos jovens, por meio de iniciativas como as coops mirins. “Estamos acostumadas a ver homens assumirem cargos importantes, pois é um hábito nosso não imaginarmos mulheres nesses cargos. Porém, somos tão capazes quanto qualquer pessoa para assumir esses espaços”, conclui Nicole.
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