A comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, está em ritmo de preparativos para a tradicional festa Raiar da Liberdade, que neste ano completa 135 anos de existência. Há mais de meio século sob comando da mestra de caxambu Maria Laurinda Adão, a comemoração começa às 17h deste sábado (13).
Nesse misto de celebração e protesto, o público poderá ver de perto a atuação de alguns dos grupos que compõem o patrimônio cultural do estado, com apresentações de folias de reis, charola e bate-flechas de São Sebastião, boi pintadinho, quadrilha, entre outras manifestações. O grande destaque são os grupos de jongo e caxambu, em especial o Caxambu Santa Cruz, anfitrião da festa, do qual Maria Laurinda é mestra.
“Eu participo dessa festa desde que era criança. Naquela época, era organizada pelos meus avós, e depois pela minha mãe”, afirma Maria Laurinda. Sua irmã Adevalmira, que é responsável por comandar o toque do instrumento caxambu durante as rodas, acrescenta ser “uma honra iniciar a roda de caxambu, acendendo da fogueira”.
Segundo a tradição oral, a celebração começou em 13 de maio de 1888, por ocasião da assinatura da Lei Áurea. Considerada a mais antiga festa da cultura tradicional do Espírito Santo, em breve será declarada patrimônio cultural imaterial do estado, a partir de um projeto de inventário realizado com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 012/2020, de valorização de patrimônios imateriais registrados e reconhecidos, da Secretaria da Cultura (Secult).
Neuza Gomes Ventura, uma das mestras do Caxambu Santa Cruz, afirma que é preciso sempre comemorar o 13 de maio, porque não se pode nunca esquecer que durante séculos o povo negro foi escravizado com a permissão do Estado brasileiro.
“Para mim, essa data não deve ser comemorada, e sim, relembrada como uma das datas símbolo da resistência do povo negro. A abolição foi uma grande conquista do povo negro, e só foi possível com muita luta dos negros escravizados”, ressalta Genildo Coelho Hautequestt Filho, gestor de projetos da Associação.
Desde 2000, o Raiar da Liberdade no quilombo Monte Alegre é organizado em parceria com a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense. Neste ano, é realizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC) e também com recursos do Funcultura, ambos da Secult. O evento conta ainda com patrocínio da EDP.
Durante o Raiar da Liberdade, haverá também mais uma edição dos projetos Roda do Mês (contemplado pela Lei Rubem Braga, da Prefeitura de Cachoeiro) e Difusão da Identidade Caxambuzeira (também com recursos do Funcultura). Com o objetivo de contribuir para o fortalecimento do caxambu, por meio desses projetos os adultos transmitem às crianças e aos adolescentes da comunidade seus ensinamentos de forma prática. Além disso, há uma interação entre diferentes grupos de caxambu, que se encontram para trocar experiências e fortalecer suas identidades por meio das rodas.
Programação do Raiar da Liberdade
17h – Missa celebrada pelo padre Daniel Nyanydh e pela equipe de música da Pastoral Afro da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim
18h – Abertura do 135º Raiar da Liberdade
18h30 – Mesa de debate “Direito à cultura dos povos e comunidades tradicionais: dever do Estado”, com Rosimar Domingos, mestra do Caxambu do Horizonte; Luciene Carla Francelino, professora de História da rede municipal de ensino de Cachoeiro de Itapemirim; Camila Valadão, deputada estadual e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Espírito Santo
19h30 – Lançamento do livro “Memórias do Caxambu Santa Cruz”, de Genildo Coelho Hautequestt Filho, Luan Faitanin Volpato e Rosângela Venturi Barros
20h – Apresentação de grupos de Patrimônio Imaterial
21h – Feijoada comunitária
22h – Encerramento
Como chegar a Monte Alegre
Siga pela BR-482, no sentido Cachoeiro x Alegre. Vire à direita no trevo de Burarama. Após passar pela sede do Incaper, vire à direita em uma estrada não pavimentada e continue seguindo por mais 8km nessa mesma estrada (que passa por dentro da Floresta Nacional de Pacotuba), até chegar ao quilombo.
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