Histórias que inspiram!

Conheça a história de Daniel, o jovem autista graduado em Administração

Através de muito incentivo, estudo e informação, a família de Daniel conseguiu romper barreiras

Daniel
Foto: Márcia Leal

Um cachoeirense de 26 anos tem mostrado que o Espectro de Autismo não é uma barreira para a realização de sonhos e de alcançar os objetivos. Daniel Sardenberg é o primeiro com Transtorno de Espectro de Autismo (TEA) a se graduar em Administração em Cachoeiro de Itapemirim.

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Desde muito cedo Telma Sardenberg notou as diferenças no desenvolvimento do filho Daniel, na época com seis meses. Ele não acompanhava nada com o olhar, não costumava sorrir e não gostava de ser embalado pela mãe para dormir, preferia dormir sozinho no berço.

Telma percebeu que, em ambientes de muito som ou até mesmo o sino da igreja, causava ao menino muita sensibilidade. Daniel deixou o aleitamento materno e não aceitava nenhum alimento que não fosse mamadeira. Nesse mesmo tempo passou a vomitar tudo que comia e por causa disso perdeu muito peso e a peregrinação de médicos em médicos começou.

Até os onze meses nenhum diagnóstico havia sido passado à família de Daniel, apenas a prescrição médica para ajudar na alimentação. Mas, a irritabilidade e a insônia do menino deixavam a família preocupada.

Com um ano e quatro meses, Telma encontrou um profissional que trocou todo medicamento de Daniel e o acompanhou de 15 em 15 dias. Além disso, ela passou a frequentar um grupo com vários profissionais, como: psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagoga. Prestes a completar três anos, Daniel foi diagnosticado com Espectro de Autismo.

Não foi fácil para a família entender toda a situação, porque além de todos os cuidados médicos, o quadro de Daniel já estava ficando em grau severo. O menino não entrava em nenhum ambiente que tivesse muitas pessoas, como: igrejas e restaurantes, e não adiantava tentar, pois a situação ficava muito pior. Nessa época não era comum falar abertamente sobre o transtorno e muitos profissionais não entendiam como esse transtorno se dava em muitas pessoas.

Telma foi para São Paulo para participar de reuniões e palestras para aprender mais sobre o assunto. Conheceu outras mães e pais, e dividiu experiências em vários simpósios, conferências e congressos, tudo para aplicar de maneira mais eficaz o amor no formato que o Daniel se sentiria seguro e respeitado.

Aos quatro anos o menino ainda não falava, e Telma encontrou uma fonoaudióloga que poderia ajudar nessa jornada já que nessa fase, Daniel já iria frequentar a pré-escola.

“Sessões de terapias foi só isso que ele fez, não existia nenhum tratamento específico para autista, então fiz o que tinha na época, bem convencional. Adquiri muito conhecimento na forma de lidar e aplicava nele, e junto com essas terapias os resultados nessa área foi muito bom”, contou.

Escolas chegaram a recusar o estudante

Nenhuma escola naquela época estava preparada para receber um aluno com o Espectro de Autismo e Daniel já foi recusado em algumas escolas. Telma se sentiu magoada com a situação. Foi um momento doloroso e a lei de inclusão era recente e só era praticada deficientes físicos. Rampas, banheiros especiais e nenhum profissional com conhecimento para lidar com um autista. Além disso, Telma ouviu de uma pedagoga para desistir do filho, pois ele jamais aprenderia a ler e escrever.

“Isso me deu uma força muito grande para buscar mais conhecimento ainda, fui visitar em São Paulo uma escola que aceitava autistas e observei todo método pedagógico deles”, continua.

Telma retornou para Cachoeiro com material pedagógico especial, mas nada foi aplicado pelos profissionais em sala de aula. Com muita insistência, ela conseguiu matricular o filho em uma escola que o acolheu e que se mobilizou em aplicar as tarefas especiais para inseri-lo na vida escolar.

Daniel conseguiu chegar ao ensino médio com maestria e tudo isso porque família e escola trabalhavam juntas pelo mesmo objetivo. O menino era o primeiro autista a estar naquela escola e isso abria caminhos para que outros pais e mães se sentissem acolhidos.

E após realizar o Enem, Daniel chegou à faculdade cursando Administração e não foi fácil. Além da adaptação com vários outros jovens, as leis para alunos de Espectro de Autismo precisavam ser aplicadas e a família precisava mostrar à instituição que conhecia, e que Daniel não estava desamparado.

Enquanto estudava Daniel, realizou estágio em grandes empresas que o acolheram e desenvolveram ações que incluíam o jovem dentro da instituição. A equipe passou a entender um pouco mais sobre o autismo na partilha do dia a dia com Daniel.

Um dos muitos sonhos do Daniel era tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), desejo que vinha sendo adiado por dificuldades para realizar o teste psicotécnico, necessário no processo de habilitação, e hoje é mais um objetivo alcançado.

“Neste ano, ele refez o teste e tirou a pontuação máxima. A psicóloga da clínica credenciada atribuiu o resultado ao desenvolvimento cognitivo conquistado com a ajuda do trabalho que ele realizava no estágio”, disse Telma.

As dificuldades foram muitas enfrentadas por Daniel e pela família, mas nenhum diagnóstico foi desanimador o suficiente para parar uma mãe que queria o melhor para o filho. Agora, Daniel é habilitado, graduado em Administração pela Faculdade Multivix, de Cachoeiro de Itapemirim, e uma inspiração para muitos jovens.

Fotos: Marcia Leal Fotografia

Formada pela Universidade Vila Velha em 2013, atuou como repórter, produtora e assessora de imprensa na TVE. Também exerceu a função de locutora e produtora da Rádio Cidade do Rock, foi editora na revista Valor e como radialista da Rádio Espírito Santo.