Argentina:Suprema Corte confirma condenação de Cristina Kirchner
A decisão do mais alto tribunal do país representa um desfecho judicial emblemático para uma das figuras mais influentes do peronismo nas últimas décadas.

A Suprema Corte da Argentina rejeitou nesta terça-feira (10) o recurso da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e confirmou sua condenação a seis anos de prisão, com a imposição de inabilitação política perpétua. A decisão do mais alto tribunal do país representa um desfecho judicial emblemático para uma das figuras mais influentes do peronismo nas últimas décadas.
Receba as principais notícias no seu WhatsApp! clique aquiO julgamento, conduzido pelos ministros Horacio Rosatti, Carlos Rosenkrantz e Ricardo Lorenzetti, analisou o pedido da defesa da ex-mandatária, que contestava as decisões anteriores de tribunais inferiores. Cristina Kirchner havia sido sentenciada por irregularidades em 51 contratos de obras públicas na província de Santa Cruz — berço político da família Kirchner.
A ex-presidente, que governou o país entre 2007 e 2015 e foi vice de Alberto Fernández até o fim de 2023, foi responsabilizada por administração fraudulenta e por causar prejuízos ao erário público. A defesa alega perseguição judicial com motivações políticas, tese que tem sido sustentada por Kirchner em discursos recentes. Em declarações públicas, ela chegou a acusar a Suprema Corte de agir como “guarda pretoriana do poder econômico”.
Na véspera do julgamento, a líder peronista afirmou que, no atual cenário argentino, “ser presa é um certificado de dignidade”. A fala reflete uma estratégia de enfrentamento político, em meio à narrativa de lawfare (uso da Justiça para fins políticos) adotada por parte da oposição ao governo atual.
Com a decisão da Corte, o processo retorna ao Tribunal Oral Federal Nº 2, responsável pela execução da pena. A qualquer momento, Cristina poderá ser convocada para o início do cumprimento da sentença. Como tem mais de 70 anos, sua defesa poderá solicitar a conversão da pena em prisão domiciliar, o que dependerá de decisão judicial no prazo de até cinco dias após o pedido.
Além do impacto jurídico, a decisão frustra os planos políticos da ex-presidente. Na semana passada, ela havia anunciado pré-candidatura a deputada pela província de Buenos Aires, nas eleições previstas para 7 de setembro. Caso eleita, voltaria a ter foro privilegiado, mas a inelegibilidade imposta pela Suprema Corte agora a impede de disputar qualquer cargo eletivo.
A confirmação da condenação encerra, ao menos juridicamente, uma das disputas mais emblemáticas do cenário político argentino contemporâneo, e reacende o debate sobre o papel do Judiciário nas disputas entre kirchnerismo e setores conservadores da política nacional.