Cultura

Arte: mural destaca raízes afro-indígena de bairro de Guarapari

A valorização da memória pessoal e coletiva do bairro, que tem cerca de 500 habitantes, é um dos objetivos centrais do projeto

Por Redação

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em 05 de jun de 2025, às 17h28

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Uma pequena comunidade de pescadores artesanais, muito próxima ao balneário de Meaípe, em Porto Grande, Guarapari, vem ganhando destaque pela arte.

A novidade do momento é a pintura em um muro de mais de 200 metros quadrados, com um mural de autoria coletiva da artista internacional multimídia Chris Barreto, do destacado grafiteiro Starley Bonfim e de Wally Almeida, jovem artista autodidata originário de Porto Grande.

A valorização da memória pessoal e coletiva do bairro, que tem cerca de 500 habitantes, é um dos objetivos centrais do projeto Origens, que busca refletir os saberes e fazeres das matriarcas e patriarcas locais, destacando suas raízes negras e indígenas, além de chamar atenção para a importância da preservação ambiental.

Wally diz que a experiência de intercâmbio com os outros artistas tem trazido grandes aprendizados e ideias. “Fiquei surpreso com as histórias das pessoas mais antigas do bairro, foi uma coisa surpreendente”, conta o artista de 22 anos. “Me sinto realizado e honrado com esse mural, que para mim está sendo impactante, uma coisa que me representa”.

A ação de pintura, realizada na rua principal do bairro, no caminho da escola, é de grande importância tendo em vista a urbanização acelerada do entorno do local, que há cerca de uma década atrás vivia um clima semi-rural. Localizado entre a praia e a Lagoa Mãe-Bá, com população ribeirinha de fortes laços parentais, Porto Grande é um lugar de muita beleza natural mas também de forte cobiça imobiliária, que vem acelerando o processo de destruição da mata e poluição das águas.

Capixaba que viveu a maior parte de sua carreira artística em Nova York, Chris Barreto voltou ao Brasil depois de 25 anos nos Estados Unidos durante a pandemia de Covid-19. Como sua família é de Guarapari, buscou um lugar tranquilo para criar um ateliê, e assim se instalou em Porto Grande, onde conheceu Wally de Almeida e começaram a planejar projetos juntos, incluindo também Starley Bonfim, que já vinha desenvolvendo parcerias no local. “Nós criamos uma sincronia muito forte entre nós com nossa força de trabalho, uma convivência afetuosa e nossa afinidade em criar arte urbana para trazer consciência social valorizando nossas raízes afro- indígenas no cenário capixaba”, comenta Chris, que foi proponente do projeto, realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo e Funcultura, por meio da Secretaria da Cultura do Espírito Santo e Ministério da Cultura, com apoio da Real Empreendimentos e Linconvix Alpinismo e Serviços Industriais.

Starley classifica a experiência de imersão como uma honra, destacando o talento de seus colegas, uma artista com trajetória internacional e um jovem com uma personalidade cativante. Mas o trabalho não foi nada fácil de ser realizado. “Entre muito sol e muito chuva, a experiência têm sido enriquecedora, com desafios singulares que exigem muita concentração e esforço físico de nossa parte, mas nada que roube o brilho e a importância do que estamos materializando na comunidade, que por sinal têm nos dado uma resposta muito positiva em relação à obra. É legal ver a reação das crianças diante dos desenhos, tudo isso é muito inspirador”, relata.

Mas a ideia não é parar por aí, muito pelo contrário. O mural em Porto Grande é apenas o início do projeto Origens. A ideia é realizar outros trabalhos, inicialmente em outras comunidades da região da Lagoa de Mãe-Bá e logo expandir a atuação, tendo entre os objetivos realizar intercâmbios em outros países, como os Estados Unidos, onde Chris Barreto desenvolveu boa parte de sua trajetória nas artes.

Saiba mais sobre o projeto Origens em sua página oficial no Instagram.

Biografias dos artistas

Wally Almeida é um jovem artista autista de 22 anos, nascido em Meaípe e criado em Porto Grande. Autodidata, começou a desenhar na areia aos 4 anos e hoje transforma muros e telas em verdadeiras obras de arte.  Em 2020, pintou seu primeiro mural durante a pandemia na casa da designer Tânia Vivacqua, que reconheceu seu talento e passou a apoiar e gerir sua carreira artística. Desde então, Wally espalhou cor por várias cidades do Espírito Santo, teve obras expostas e vendidas em Portugal e hoje é um dos artistas do projeto Origens, selecionado pela Lei Paulo Gustavo, criando um mural coletivo ao lado de Starley Graffiti e Chris Barreto, celebrando as raízes de Porto Grande.

Capixaba que viveu mais de 20 anos em Nova York (Estados Unidos), Chris Barreto é uma artista multimídia que mistura sua raiz indígena com Pop Art e Graffiti. Já teve obras expostas no Museu Guggenheim e no Museu de História Natural, participou da NYFW, e até Madonna vestiu uma de suas criações!  Com exposições em museus internacionais e um trabalho marcante com os povos originários, Chris une arte, ancestralidade e sustentabilidade de forma única. Em 2024, passou um ano com os Pataxós em Caraíva criando obras com materiais naturais. 

Starley Bonfim é artista urbano, fundador do coletivo FG Crew e diretor do iÁ Estúdio. Atua com graffiti desde 2010, trazendo rostos e histórias da afrodiáspora para os muros das cidades. Seus murais realistas disputam narrativas nas paisagens urbanas, representando a força e a beleza da população negra. Já levou sua arte para Dinamarca, Suécia e Noruega, além de criar obras marcantes no MUCANE, UFES e com a ONG Médicos Sem Fronteiras. Foi reconhecido por prêmios como a Comenda Rubem Braga e o Prêmio Trajetórias.

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