Denúncias de assédio e perseguição política abalam SRE de Cachoeiro
As denúncias foram formalizadas ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e à Corregedoria da Sedu.

A exoneração do professor Ériton Bernardes Berçaco da direção da Escola Estadual Marcondes de Souza, em Muqui, reacendeu uma série de denúncias graves contra a Superintendência Regional de Educação (SRE) de Cachoeiro de Itapemirim e colocou a gestão da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) sob pressão política e institucional.
Berçaco, que comandava uma das escolas com maior crescimento no IDEB da regional e cuja unidade teve a única redação nota 1000 do Enem na rede estadual em 2023, acusa a superintendente Fernanda Ferreira Villela Vieira de perseguição institucional. Desde a posse da gestora, em dezembro daquele ano, o professor afirma ter sido alvo de retaliações que culminaram em sua destituição do cargo na véspera do centenário da escola.
As denúncias foram formalizadas ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e à Corregedoria da Sedu. Um procedimento já foi aberto pelo promotor Fábio Baptista de Souza para apurar possíveis práticas de assédio moral, abuso de poder, improbidade administrativa e violação aos princípios da administração pública. A SRE deverá apresentar explicações sobre mudanças na estrutura escolar, critérios de avaliação e registros de gestão.
Acusações envolvem tráfico de influência e intimidação
Um dos pontos mais delicados envolve supostas tentativas de tráfico de influência. Em uma reunião com diretores escolares, Fernanda Villela teria reagido de forma exaltada a denúncias relacionadas ao seu marido, que seria fornecedor de produtos e serviços para escolas estaduais. Na ocasião, segundo relatos, a superintendente ameaçou “ir até o inferno” por sua família e disse ter rastreado o número telefônico do autor da denúncia, prometendo identificá-lo com ajuda da operadora.
“Todos os presentes se sentiram constrangidos com o tom da fala e as ameaças veladas”, relatou Berçaco. Até hoje, segundo ele, o suposto CPF nunca foi revelado.
Outros relatos obtidos pela reportagem apontam para um ambiente de medo e repressão dentro da regional, com tentativas de silenciar críticas internas, pressão sobre gestores, manipulação de reuniões escolares e tratamento hostil a servidores que se destacavam fora da estrutura da SRE.
“Me senti vigiado o tempo inteiro”, diz ex-diretor
Berçaco afirma que sua exclusão de atividades, como a candidatura a um programa de intercâmbio, e a baixa pontuação em avaliações, segundo ele, manipulada, fizeram parte de uma estratégia para desmobilizar sua equipe e apagar os avanços da escola.
Em uma reunião de “feedback”, a superintendente teria afirmado diretamente que não desejava mais sua permanência na gestão. Ele foi convidado a pedir exoneração, o que recusou. Dias depois, foi oficialmente destituído pelo secretário de Educação, Vitor de Angelo, conforme publicação no Diário Oficial do Estado.
Além disso, Berçaco relata ter sido submetido a uma sabatina por supervisoras, uma psicóloga e um assistente social. As perguntas, segundo ele, foram lidas de forma artificial e pareciam encomendadas, com intenção de desestabilizá-lo emocionalmente. “Os olhares eram inquisitórios. O sentimento era de julgamento, não de escuta pedagógica”, afirmou.
Caso chega à Assembleia Legislativa
O caso ganhou repercussão política na Assembleia Legislativa na segunda-feira (23), quando a deputada estadual Camila Valadão (PSOL) levou o tema à tribuna. A parlamentar afirmou que está cobrando explicações da Sedu e acompanhando o desdobramento das denúncias.
“Não podemos permitir que a perseguição política e o assédio institucional tomem o lugar da gestão democrática e do reconhecimento do trabalho nas escolas públicas”, afirmou Valadão.
O que dizem a SEDU e a superintendente
Procurada pela reportagem do portal AQUINOTICIAS.COM, a superintendente Fernanda Villela afirmou que não se manifestará no momento.
Já a Secretaria de Estado da Educação confirmou que recebeu a denúncia envolvendo a SRE de Cachoeiro e que o processo está sendo apurado em conjunto com os órgãos competentes. Em nota, a Sedu ressaltou que os procedimentos seguem sob sigilo, conforme determina a legislação, e que está acompanhando os trâmites legais.
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