Senadores vão a Washington para tentar evitar tarifa de 50% dos EUA
A agenda dos parlamentares começou na residência oficial da embaixadora do Brasil em Washington.

Em um momento decisivo para as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, uma missão oficial composta por oito senadores iniciou nesta segunda-feira (28) uma série de reuniões em Washington para buscar o fim da tarifa de importação de 50% que os EUA pretendem impor sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida, apelidada de “tarifaço”, ameaça setores estratégicos da economia nacional e intensifica a guerra comercial entre os países.
A agenda dos parlamentares começou na residência oficial da embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, que participou do encontro ao lado de representantes do Itamaraty, ministros da embaixada e do ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), embaixador Roberto Azevêdo.
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Na sequência, os senadores se reuniram na Câmara Americana de Comércio para dialogar com lideranças empresariais e integrantes do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. A programação para terça-feira (29) inclui encontros estratégicos com autoridades norte-americanas, com pelo menos seis reuniões confirmadas com parlamentares dos dois partidos principais.
A missão conta com a participação dos senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jacques Wagner (PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), Nelsinho Trad (PSD-MS), Esperidião Amin (PP-SC), Teresa Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL), que realizaram um encontro preparatório no domingo (27).
Pragmatismo na agenda
O senador Nelsinho Trad, presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) e coordenador da missão, destacou que o foco é pragmático e baseado em dados concretos. “Vamos mostrar aos parlamentares americanos o impacto econômico para os estados que eles representam, evidenciando que essa sobretaxa será prejudicial para todos”, afirmou.
Trad ressaltou ainda a proximidade das eleições americanas em 2026, que renovam a Câmara dos Deputados e parte do Senado, e afirmou que a estratégia é demonstrar que o “tarifaço” representa uma situação de prejuízo bilateral. “Queremos distensionar as relações e fortalecer o diálogo entre os Executivos brasileiro e americano. A missão estará cumprida quando isso ocorrer”, concluiu.
No entanto, o senador lembrou que o processo é complexo e não terá solução imediata, prevendo um diálogo “equilibrado e sensato” ao longo do tempo.
Pressão política e judicial
Na sexta-feira (25), um grupo de 11 senadores democratas dos EUA enviou uma carta ao presidente Joe Biden solicitando o fim da sobretaxa, classificando-a como um “abuso de poder”. Paralelamente, ações judiciais nos Estados Unidos contestam a legalidade da medida.
A embaixadora Maria Luiza Viotti afirmou que o diálogo com Washington teve início em março, com a criação de um grupo técnico bilateral, e que o Brasil já havia apresentado dados que apontam para uma média efetiva de tarifas de importação brasileiras de apenas 2,7%.
A imposição da tarifa foi formalmente anunciada em carta enviada pelo governo Trump ao Brasil em 9 de julho, como retaliação a supostas interferências judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF) em processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, os EUA abriram investigação sobre práticas comerciais brasileiras no setor digital, incluindo serviços de pagamento eletrônico, como o Pix, alegando concorrência desleal contra empresas americanas como Visa e Mastercard.
Posição brasileira e desafios
Roberto Azevêdo, ex-diretor da OMC, classificou o momento como uma “janela estratégica” para o Brasil repensar sua relação comercial com os Estados Unidos e reforçar a mobilização em torno da questão.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, lidera esforços diplomáticos para buscar uma solução pacífica. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também está em Washington para a Assembleia Geral da ONU, mas mantém diálogo aberto para as negociações.
Estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que pelo menos 30 setores econômicos brasileiros podem ser impactados, com destaque para máquinas agrícolas, equipamentos de transporte e carnes de aves, que sofrerão quedas significativas na exportação e produção.
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