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A ausência que ecoa na política capixaba: 11 anos sem Glauber Coelho

O legado de Glauber Coelho permanece até os dias de hoje, e ele segue sendo lembrado por seus feitos na política capixaba

Alissandra Mendes Alissandra Mendes

Foto: Arquivo pessoal

Há 11 anos, Cachoeiro de Itapemirim e o Espírito Santo se despediam de um dos políticos mais lembrados de sua geração: o ex-deputado estadual Glauber Coelho (PSB), que morreu em 20 de agosto de 2014, aos 40 anos, após um grave acidente de carro na rodovia ES-482, em Pacotuba.

Diagnosticado com edema cerebral, Glauber não resistiu após dez dias de internação no Hospital Evangélico. Sua morte deixou um vazio entre familiares, amigos e eleitores, mas também consolidou um legado de proximidade com a população e defesa de políticas públicas.

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Formado em Direito e pós-graduado em Gestão Pública, Glauber dedicou 15 dos seus 40 anos à política. Foi eleito vereador em Cachoeiro de Itapemirim por três mandatos consecutivos (2000, 2004 e 2008), sempre ampliando sua votação. Em 2010, conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa, com mais de 23 mil votos, e logo assumiu papéis de destaque, como a 2ª vice-presidência e a 2ª secretaria da Mesa Diretora.

Além disso, também atuou em CPIs e em frentes parlamentares, como a Saúde para Todos, que percorreu o Estado fiscalizando hospitais. Uma de suas iniciativas mais conhecidas foi o projeto de lei que tornou obrigatória a identificação de pacientes com pulseiras nas redes hospitalares filantrópicas e privadas do Espírito Santo.

Trajetória política

O governador Renato Casagrande, Glauber Coelho e o prefeito de Cachoeiro, Theodorico Ferraço (Foto: Arquivo pessoal)

O legado de Glauber Coelho permanece até os dias de hoje, e ele segue sendo lembrado por seus feitos na política capixaba.

“Um deputado muito parceiro do meu primeiro Governo entre 2011 e 2014 e muito ativo na Região Sul. Se destacava pela atuação firme e importante na área da Educação e da Assistência Social e foi uma enorme perda para todo o Espírito Santo. Deixou um legado para toda Região Sul com seu trabalho destacado. Hoje ficam as boas lembranças da parceria e amizade que tivemos”, disse o governador Renato Casagrande.

Colegas da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), como o atual presidente Marcelo Santos, destacam sua autenticidade e capacidade de diálogo, mesmo em tempos de divergências políticas.

“Me lembro de Glauber não só como um político atuante, mas também como um bom amigo. Tivemos a oportunidade de trabalhar lado a lado em projetos que acreditávamos, sempre guiados pela seriedade e pelo compromisso de gerar mudanças para o Espírito Santo. Glauber faz muita falta, especialmente agora, enquanto lidero a Assembleia. Tenho certeza de que sua atuação seria marcada pelo bom debate e pelo trabalho voltado para quem mais precisa. Sua dedicação à política como instrumento de transformação continua nos inspirando, e seu exemplo seguirá vivo mesmo com o passar dos anos”, explicou.

Reconhecimento e memória

Na política local, Glauber foi secretário em diferentes áreas da Prefeitura de Cachoeiro, como Saúde, Agricultura, Meio Ambiente, Juventude e Defesa Civil.

“O Glauber começou a política na nossa gestão, como secretário da Criança. Era um rapaz muito ativo, brigador, lutador e tenho saudade dele até hoje. Que Deus tenha sempre piedade da sua alma e a nossa saudade eterna por um jovem, que realmente ainda tinha muita coisa para oferecer para Cachoeiro”, destaca o prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, Theodorico Ferraço.

Para o presidente da Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim, Alexandre Maitan, o legado de Glauber permanece.

“Glauber Coelho deixou uma marca muito forte no Legislativo de Cachoeiro. Como vereador, foi um parlamentar atuante, comprometido e sempre muito próximo da população. Tinha um olhar especial para as causas sociais e sabia dialogar com todos, independentemente de partidos ou posições políticas e, justamente por isso, sempre foi e continua sendo muito querido em nossa cidade”, disse.

Para ele: “no convívio com os colegas vereadores, se destacava pelo espírito conciliador e pela capacidade de construir consensos em prol da cidade. O período em que ele esteve na Câmara foi de grande contribuição para o desenvolvimento do município e até hoje suas ideias e sua forma de fazer política continuam sendo lembradas e servem de inspiração. Glauber foi, sem dúvidas, uma das grandes lideranças que Cachoeiro já teve, um nome promissor da nossa política que, infelizmente, partiu cedo demais”, continuou.

O legado que segue vivo

Após a morte do irmão, Victor Coelho seguiu a vida pública, foi prefeito de Cachoeiro por dois mandatos e hoje é secretário de Estado de Turismo. Para ele, Glauber permanece como inspiração: “Meu irmão Glauber deixou uma marca incomparável no Espírito Santo de um político diferente. Sua trágica morte interrompeu uma trajetória promissora na vida pública. Glauber era admirado por sua simplicidade e proximidade com as pessoas. Era um político acessível, que fazia questão de ouvir a população e entender suas necessidades. Mais do que isso. As pessoas o tinham como amigo. Às vezes, como alguém da família. Estava sempre presente”, conta.

Ele cita ainda que mantém vivo o legado do irmão. “Hoje eu estou tendo a oportunidade de manter vivo seu legado. Como prefeito de Cachoeiro por dois mandatos, consegui realizar o que ele mais prezava na política: ajudar a melhorar a vida das pessoas”, continua.

Victor, que sempre teve o irmão como melhor amigo, citou ainda seu desejo: “O sonho de Glauber era ser prefeito de Cachoeiro. Tentamos em 2012, mas mesmo estando à frente nas pesquisas inicialmente, perdemos por 3.666 votos para o Casteglione. Quatro anos depois eu estaria realizando o sonho dele”, reflete.

“A morte prematura de Glauber foi uma grande perda para o Espírito Santo, mas sua memória e seu trabalho permanecem como inspiração para todos que acreditam na política como ferramenta de transformação social. Seu legado é um lembrete de que a dedicação, a ética e a proximidade com o povo são qualidades essenciais para quem está na vida pública”, completa Victor.

Fenômeno eleitoral

Em seus 15 anos de vida pública, Glauber Coelho estava se tornando um fenômeno político no Estado do Espírito Santo. A cada eleição que participava, o reconhecimento da população nas urnas só aumentava.

Nas eleições em que participou como vereador, no ano 2000, foi eleito com 1.252 votos. Já em 2004, voltou ao Poder Legislativo cachoeirense com 2.011 votos.

Portanto, em 2008, teve destacada votação, se tornando o vereador mais votado da história de Cachoeiro, com 4.060 votos.

Aliás, nas eleições para deputado estadual, em 2010, Glauber Coelho, também surpreendeu e foi eleito com 23.040 votos.

“Glauber não buscava performar, mas estar presente”

Quem conviveu de perto com Glauber Coelho o define como um político diferente. Ao longo de 15 anos de vida pública, sua prioridade sempre foi melhorar a vida das pessoas.

A jornalista e escritora Cláudia Sabadini, que trabalhou como assessora de comunicação do deputado, recorda com emoção a experiência profissional:

“Estive ao lado de Glauber por quatro anos, durante seu mandato na Assembleia. Foi um aprendizado enorme, porque ele era, antes de tudo, um líder — de sua vida e de sua trajetória política. Grandes lideranças transformam os que estão por perto, e com ele não foi diferente. Trabalhar com Glauber foi um divisor de águas para mim, tanto pelas oportunidades quanto pelo amadurecimento que tive. É um orgulho dizer que fiz parte dessa história”, afirma.

Cláudia destaca ainda a intensidade do trabalho. “O nível de exigência era altíssimo. Glauber dormia e acordava pensando no trabalho, acompanhava tudo de perto e cobrava resultados. Essa postura, que por vezes nos consumia, também nos formava. Aprendi a desenvolver minha liderança, meu foco e meu posicionamento. Era o tipo de inspiração que marca para sempre”, relembra Cláudia.

Passada mais de uma década, ela observa mudanças na política e reforça o que tornava Glauber especial. “Hoje percebo como a política perdeu parte de sua autenticidade. Glauber tinha carisma, presença e uma história forte, mas o que o diferenciava era a simplicidade e a coerência entre o que dizia e o que fazia. Não se preocupava em ‘performar’, mas em estar presente e entregar resultados reais”, destaca.

“Glauber sabia unir onde muitos dividem”

Para Cláudia, o legado de Glauber vai além das leis, projetos e recursos destinados. “Ele deixou também um ensinamento silencioso, mas essencial: o da temperança. Em tempos de polarização e intolerância, lembro como ele enfrentava adversidades com equilíbrio e serenidade. Essa habilidade de manter o propósito e respeitar as diferenças era rara”, continua a jornalista

Ela conclui ressaltando a falta que ele faz na política capixaba: “Glauber construiu pontes em vez de muros. Essa disposição para o diálogo e para unir as pessoas é o que o torna ainda tão lembrado. Por isso, sua ausência ainda ecoa e seu legado continua inspirando”, completa.

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Alissandra Mendes
Alissandra Mendes

Com mais de 23 anos de experiência na área, e passagens por diversos veículos de comunicação do Estado, atua no portal AQUINOTICIAS.COM desde 2021, e está em sua segunda passagem pelo veículo, somando mais de 11 anos de empresa. Formada em História e pós-graduada em Jornalismo Político, atuou também em assessoria de imprensa por mais de 15 anos, além de passagem por emissoras de rádio, TV e revistas em Cachoeiro de Itapemirim.