Primeira mulher a liderar 900 policiais, Emília marca a história da PM no Sul do ES
Casada com um coronel da PM, que conheceu ainda na Academia de Polícia, Emília é também mãe de duas filhas, que herdaram da mãe o senso de determinação e orgulho pela farda.

A coronel Emília Alves, 53 anos, carrega em sua farda três décadas marcadas por coragem, disciplina e superação. São 30 anos de dedicação à Polícia Militar do Espírito Santo, em uma trajetória que começou por necessidade, mas se transformou em vocação. Hoje, ela ocupa um dos cargos mais altos da corporação: Comandante do Policiamento Ostensivo Regional Sul (3º CPOR), responsável por 22 municípios e cerca de 900 policiais militares. Um marco histórico, já que Emília é a primeira mulher a assumir o comando regional no Sul capixaba.
Receba as principais notícias no seu WhatsApp! clique aquiCasada com um coronel da PM, que conheceu ainda na Academia de Polícia, e mãe de duas filhas, Emília construiu uma história que foge dos padrões da carreira militar. “Venho de uma família simples, sem nenhum parente na polícia. As circunstâncias e a necessidade me conduziram até aqui”, relembra.
Formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), ela soube transformar uma oportunidade em um novo destino. Em 1994, ao descobrir que o Curso de Formação de Oficiais (CFO) abriria, pela primeira vez, vagas para mulheres, decidiu se inscrever. “Eu era professora, ganhava pouco e tinha uma filha bebê. Não sabia exatamente o que significava ser oficial, mas enxerguei ali uma chance de crescer e mudar de vida”, conta.
Foram três anos de formação intensa, dividindo o tempo entre os estudos e a maternidade. A rotina exigia força e resiliência, características que moldaram sua trajetória. “Não foi fácil, mas faria tudo de novo”, afirma. Com o tempo, o que começou como uma busca por estabilidade se transformou em missão.












Ao longo da carreira, Emília construiu um legado de dedicação à educação e à valorização humana dentro da PMES. Pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação, atuou por duas décadas na Diretoria de Educação da corporação, onde contribuiu para a formação de inúmeras gerações de policiais. Também passou pelo Batalhão de Polícia Ambiental, pela Diretoria de Direitos Humanos e pela Diretoria de Saúde, sempre com o mesmo propósito: fortalecer o compromisso ético e social da instituição.
Hoje, no mais alto posto da carreira, ela reconhece o simbolismo da própria conquista. “Chegar ao último posto de uma instituição tradicionalmente masculina foi uma vitória. Ser a primeira mulher a comandar o Regional Sul e presidir uma solenidade de passagem de comando é simbólico. Mas o mais gratificante é ser reconhecida pela minha família, ser exemplo para minhas filhas e sobrinhas e poder honrar todas as mulheres da minha história”, destaca.
Os desafios, segundo ela, são constantes. “A segurança pública exige muito. As demandas da sociedade são cada vez mais complexas, e, para a mulher, o olhar é sempre mais rigoroso. É preciso redobrar o esforço e provar a capacidade todos os dias”, reflete.
Entre as conquistas que mais marcaram sua trajetória, Emília se orgulha de ter participado da transformação da Academia de Polícia em uma instituição de ensino superior, uma das três faculdades estaduais do Espírito Santo. “Poder contribuir para que os oficiais conquistassem o título de bacharel em Ciências Policiais e Segurança Pública, e para que os soldados alcançassem a formação de tecnólogo, é algo que me enche de orgulho. Foi a forma que encontrei de retribuir tudo o que a instituição me proporcionou.”
De professora a coronel, Emília Alves não apenas alcançou o topo da hierarquia militar: ela abriu caminhos para outras mulheres sonharem mais alto. Sua trajetória é símbolo de força, competência e inspiração, mostrando que o comando também pode ter voz feminina, firme e sensível, guiando com respeito e humanidade.