Especial
Cachoeirenses quebram tabus e se destacam em profissões femininas
Os cachoeirenses também ajudam a desafiar a ideia de que essas profissões são exclusivamente para mulheres e provam que qualquer pessoa
Por Rafaela Thompson
Que as mulheres ocupam cada vez mais profissões predominantemente masculinas, todo mundo já sabe. Mas e quando o espaço delas, também, é deles? Não é muito comum ver homens com habilidades mais “delicadas”, no entanto, esses profissionais que quebram tabus e decidem seguir essas profissões mostram que têm coragem e competência. Eles também ajudam a desafiar a ideia de que essas profissões são exclusivamente para mulheres e provam que qualquer pessoa, independentemente do gênero, pode ser bem-sucedida nelas. Como é o caso do cachoeirense Eduardo Brison, de 30 anos, que trabalha como nail designer.
Segundo Eduardo, ele foi o primeiro homem de Cachoeiro de Itapemirim a atuar no ramo. Antes de se tornar designer de unhas ele atuava como motorista terceirizado da Secretaria Estadual de Justiça e tudo começou com uma brincadeira. O primeiro contato dele com essa área foi por meio da ex-companheira, que também é nail designer.
“Fiz uma unha em gel, de brincadeira, e vi que me saí melhor do que eu imaginava. Daí fui pesquisar sobre homens que trabalhavam com isso e vi que muitos se destacaram no mercado. Procurei especialização e decidi entrar no ramo em novembro de 2021”, disse.
Atualmente, toda a renda de Eduardo é obtida com as unhas e, segundo ele, está muito satisfeito com a nova profissão. Entretanto, ele conta que enfrentou muita resistência da família, além do preconceito dos amigos.
“Meus pais achavam que era apenas uma fase e que logo eu esqueceria isso, mas hoje eles me apoiam e entendem que eu sou feliz exercendo a profissão de nail designer. Infelizmente, meu casamento acabou, mas minhas filhas, de 7 e 3 anos, adoram que eu pinte as unhas delas”, contou.
Já os amigos, não existem mais. Isso porque Eduardo decidiu se afastar das pessoas com quem tinha amizade depois de ser alvo de piadas de mal gosto e, embora seja heterossexual, as “brincadeiras” tinham conotações homofóbicas, o que o deixava bastante incomodado.
A profissão deu tão certo para Eduardo que hoje ele não só atende dezenas de mulheres por semana como, também, é instrutor de nail designer. Ou seja, ele ajuda homens e mulheres que querem entrar na área a se profissionalizar.
Por que não fazer unhas?
William Campos Alves, de 32 anos, mais conhecido como Will, atualmente trabalha como operador de multi-fio, mas antes disso, era proprietário de uma marmoraria. A decisão de fechar a empresa e se empregar como operador era, justamente, ter mais tempo para a família.
Entretanto, ele percebeu que o novo emprego lhe proporcionava trabalhar em escalas, mas opostas ao horário de trabalho da esposa que é nail designer e, por isso, acabavam se desencontrando.
Will, que sempre admirou o trabalho da companheira, teve a ideia de atuar junto com ela no ramo das unhas. “Sempre achei o trabalho dela fascinante, achava incrível o trabalho manual, a delicadeza, as clientes com as unhas desenhadas, saindo do salão felizes, com a autoestima alta. E pensei “por que não fazer unhas, ficar mais perto da esposa e ainda ganhar um dinheiro extra para nossa família?”.
Ele conta que algumas pessoas de seu convívio debocharam e zombaram de sua escolha, mas, isso não o abalou. Isso porque teve total apoio de amigos e familiares. “Tentaram fazer chacota, mas eu encarei minha decisão como um desafio. Eu sou movido por desafios, a opinião dos outros não interferiu”, disse.
Will conta que a mulher ficou feliz com a decisão dele, mas que para trabalhar com ela, antes, ele teria que se profissionalizar. Curiosamente, o instrutor de nail design dele foi Eduardo Brison.
“Minha esposa também é instrutora, mas na época que decidi fazer unhas ela estava com a agenda cheia [risos]. Ela me indicou o Eduardo e foi com ele que fiz meu primeiro curso. Hoje, as atualizações que faço são todas com ela. Ela também achou que seria melhor para mim aprender com ele e, de fato, está sendo uma experiência muito bacana”. O operador de multi-fio e, agora, nail designer, está no mercado há três meses.
E, para os homens que querem se inserir numa área diferente ou arriscada, aí vai o conselho de quem enfrentou os desafios e, agora, está feliz com a decisão tomada.
“Não se apegue ao preconceito, existem pessoas que não têm certeza da sua masculinidade ou capacidade de aprender algo novo e não aceitam aqueles que quebram essa barreira e vencem. O sucesso é um prêmio individual. Vence quem quer. Ninguém nasceu capacitado, só que alguns decidiram vencer”, finalizou Eduardo Brison.
Do mundo nail designer para a confeitaria
E não é só no mundo das unhas, na confeitaria artística também tem homens ocupando lugares, como é o caso do cachoeirense Thiago Muniz, 35 anos. Formado em tecnologia da informação.
Segundo ele, embora atue numa profissão onde as mulheres são maioria, não percebeu atitudes ou comentários preconceituosos, entretanto, trabalhar com a confeitaria ainda causa espanto em algumas pessoas.
“Quando digo que sou confeiteiro e faço bolos decorados, algumas pessoas fazem cara de espanto, outras se assustam ainda mais quando falo que deixei a profissão de desenvolvedor para me dedicar aos bolos”.
Ainda de acordo com Thiago, ele tem o apoio da família, mas no início de sua jornada na confeitaria a decisão causou um pouco de preocupação. Ele conta, ainda, que está sempre empenhado em fazer seu trabalho com dedicação e zelo, justamente por ser uma profissão que, em sua maioria, é ocupada por mulheres.
“Por ser um trabalho predominantemente feminino, me vi na obrigação de fazer sempre o meu melhor para ter mais credibilidade”, destacou.
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