Ela supera limites para ajudar os filhos a conquistarem seu espaço
Se não todas, podemos afirmar que a maioria das mulheres sonha em ser mãe. Junto com a gestação vem uma enorme expectativa em torno do novo ser que fará parte da família


Por Pammela Volpato
Receba as principais notícias no seu WhatsApp! clique aquiSe não todas, podemos afirmar que a maioria das mulheres sonha em ser mãe. Junto com a gestação vem uma enorme expectativa em torno do novo ser que fará parte da família. É um turbilhão de sensações que envolvem ansiedade, alegria, medos e incertezas. São muitas perguntas, mas nenhuma mulher engravida achando que sua gestação poderá passar por algum problema, até que acontece o que ninguém imaginava…
Dizer que mãe é especial é redundante, é claro que todas elas são especiais! Porém, algumas recebem de Deus a nobre missão de cuidar de pequenos seres que vêm ao mundo para nos ensinar o amor incondicional e despretensioso, para nos ensinar a ser melhores.
Apresentamos em seguida a história de Maria Cristina Rui Amorim, uma mãe que trocou as lágrimas pela coragem de ir em frente e encontrou no amor por seus filhos, a razão para continuar lutando pela independência deles em meio à multidão. Uma mulher que recebeu a missão de ser mãe de uma criança que tem limitações, ainda sofre tantos preconceitos e, algumas vezes, acaba sendo excluída por falta de oportunidade e acompanhamento adequado.
Mãe que luta diariamente pela felicidade de seu filho especial. Mãe que decidiu encarar a vida e os desafios que ela impõe com coragem, resiliência, fé, dedicação e muito amor. Ela sonha e tenta, diariamente, transformar sua criança em adulto independente.
O filho especial
Cristina tem 42 anos e dedica seus dias aos dois grandes amores de sua vida, Daniel de 14 anos e Davi, de 10.
Já com um filho, a segunda gravidez foi bem planejada e teve todos os cuidados necessários. A gestação correu bem, mas Davi nasceu com insuficiência respiratória e problemas neurológicos e foi para a UTI. No início foi um choque para Cristina. Ela não teve tempo nem de se recuperar do parto, Davi veio ao mundo em meio a uma luta dura pela vida, cada minuto era imprescindível.
“Com três meses ele passou por uma cirurgia cardíaca. O diagnóstico foi sendo aos poucos, cada hora aparecia uma coisa diferente. Entre outras coisas, o Davi tem autismo, epilepsia e uma doença rara: deleção do cromossomo 1. Eu não tive tempo de me preocupar com limitações, porque precisava me preocupar com a vida dele. Precisava manter meu filho vivo, apesar das sequelas”.
Davi é um menino encantador e sorridente, suas patologias são caracterizadas por provocar limitações tanto no desenvolvimento intelectual, quando motor e adaptativo. Outra característica dessa criança certamente é a valentia. Ele já esteve mais de 13 vezes internado na UTI em situação grave, enfrenta todas as batalhas e segue vencendo. Hoje o menino faz acompanhamento com uma equipe multidisciplinar (terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicopedagogo, musicoterapeuta, psicoterapias na abordagem ABA), tratamento voltado especificamente para o autismo, além de fisioterapia e hidroterapia. Está matriculado em uma escola regular, mas por conta da carga horária das terapias, são 36 horas semanais, e da baixa imunidade, não está conseguindo frequentar as aulas.
Assim como as outras mães, Cristina pode ser definida por uma palavra: dedicação. “Sou abençoada por ter meus dois filhos. Daniel é inteligente e tem um grande potencial, mas o Davi tem inúmeras limitações e se supera a cada dia. É um aprendizado constante. Infelizmente ainda existe muito preconceito. Ver o olhar de pena ou ouvir alguém dizer ´coitadindo´, dói muito, mas é preciso aprender a lidar com a rejeição”.
Ela supera os próprios limites
Com duas graduações, pedagogia e psicologia, e quatro pós-graduações, Cristina decidiu abrir mão da carreira profissional para se dedicar integralmente aos filhos. Ela chegou a abrir um consultório, mas não conseguiu conciliar. “Eu precisei passar pelo processo para poder tomar uma decisão e seguir em paz. Quando abri o consultório vi que não daria conta de tudo e está tudo bem. Estou na fase de aceitação total, sei que terei um bebê grandão a vida inteira, pois Davi tem dez anos com cognitivo de dez meses. Além disso tenho um adolescente que precisa de atenção, cuidado e carinho. Eu busquei a realização profissional mas não vale a pena! A gente que é mãe abre mão de tudo da nossa vida para viver em função dos filhos, pois é o mais importante”, relata.
A rotina de Cristina é puxada e além dos cuidados dentro de casa com os filhos, engloba a realização de muitas terapias. Mas ela encara os compromissos sempre com um sorriso no rosto. Sua força e resiliência serve de inspiração para outras mulheres. “Quando a gente aceita nosso filho como ele realmente é, a gente vive em paz. Eu luto todos os dias e nem sempre sou forte, mas não deixo a peteca cair e não tiro o sorriso do rosto. Eu escolhi ser feliz e aceitar o meu filho. Eu não enxergo a deficiência dele, penso que Deus me deu um anjo pra cuidar estou fazendo o meu melhor. É isso que tento passar para as outras mães, afinal são dez anos de experiência e lutas. Saber que posso estar inspirando outras mulheres me dá mais força para seguir”.
Para finalizar, Cristina reconhece que ser mulher é ser forte. “Davi me ensinou a ser forte, realista e viver um dia de cada vez. Ele depende totalmente de mim, eu sou sua voz, seu olhar e suas pernas. Passo o dia todo cuidando dele e recebo um amor puro e encantador. É difícil explicar porque é um sentimento que excede todo entendimento. Eu sei que meu filho não vai para a faculdade, nem terá uma profissão, mas eu dedicarei a minha vida a fazer com que ele seja feliz, e isso basta pra mim”.




