Especial
Mulheres que protegem mulheres
No dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional das Mulheres. Durante todo o mês, empresas, instituições e demais departamentos prestam homenagens
Por Rafaela Thompson
No dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional das Mulheres. Durante todo o mês, empresas, instituições e demais departamentos prestam homenagens às mulheres. Mas, há muito a se fazer por elas ainda, principalmente, quando se trata daquelas que são vítimas de violência doméstica.
Sair de um relacionamento tóxico e conseguir se livrar do agressor não é tão fácil como imaginamos. E é por esse motivo que existem as mulheres que protegem mulheres. Hoje, em especial, falaremos de três delas, embora existam muitas outras super-heroínas empenhadas em assegurar os direitos dessas vítimas.
A delegada Edilma Oliveira, à frente da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) de Cachoeiro de Itapemirim, conta que quando entrou na polícia, trabalhou em diversos departamentos e que em 2014 foi transferida para a Deam de Cachoeiro, onde passou a atuar exclusivamente em crimes contra mulheres.
“Trabalhar com violência doméstica não é uma tarefa fácil. É difícil ver tantas mulheres sendo agredidas fisicamente, sendo perseguidas e mortas por seus companheiros, sofrendo violência psicológica ao ponto de tentar suicídio, doí muito o coração. Por isso, a cada dia tenho a certeza que preciso lutar por elas, defendê-las e tentar protegê-las com meu trabalho fazendo justiça”, destacou.
Edilma, como a maioria das mulheres, tem jornada dupla. Além de se dedicar à proteção das vítimas de violência doméstica, ela se desdobra para, também, cuidar da casa e de sua família.
A delegada conta que o trabalho na Deam é cansativo, principalmente, emocionalmente. No entanto, com um filho pequeno, ela precisa dar atenção ao menino e ao marido, que também atua na área da segurança pública. Mesmo com a rotina puxada, entre o trabalho e a casa, a delegada destaca que sua missão é proteger mulheres. “Sou grata por tudo, tenho certeza que Deus me deu essa missão: ser delegada e proteger mulheres vítimas de violência”.
Para a sargento Kotasek, há 28 anos na PM, entrar para a Polícia Militar era um sonho de criança. No entanto, em quase três décadas atuando na linha de combate, se redescobriu quando foi escolhida pelo comandante do 9º BPM, em Cachoeiro, para coordenar a Patrulha Maria da Penha.
“Ser policial militar exige muito mais do que coragem e disciplina. É se entregar àqueles que anseiam por socorro, mesmo que você esteja num dia ruim, existem pessoas que estão enfrentando seu pior dia. Pessoas que precisam de você mais do que qualquer outra pessoa. E trabalhar na Patrulha Maria da Penha me fez entender ainda mais sobre doação, principalmente, por eu ser mulher”, disse.
Ela conta que a profissão lhe exigiu durante esses 28 anos muita abdicação, sacrifícios e coragem, mas que atuando na proteção das mulheres vítimas de violência, descobriu um novo caminho. “Atuar diretamente com essas mulheres, vítimas de violência, me fez ter ainda mais empatia. Ouvir, aconselhar, dividir um pouco de si com aquelas que, por causa de um relacionamento maldito, se perderam. Não veem rumo e ficam reféns da sombra do agressor. Nosso papel é protegê-las, mas também ser luz no caminho dessas mulheres”.
Ainda de acordo com Kotasek, ver o brilho no olhar dessas mulheres retornando, é a maior recompensa. “Ver essas mulheres sem medo, encarando a vida, buscando seus direitos e recomeçando é gratificante. O brilho no olhar dessas vítimas retomando suas vidas, nada paga”, contou.
Há 22 anos na Guarda Civil Municipal (GCM) de Cachoeiro de Itapemirim, Denise Koppe, mãe de dois filhos, começou a atuar em grupo de mulheres na igreja, com ações sociais. No entanto, em 2016, ela fez um curso de visitas tranquilizadoras a mulheres vítimas de violência doméstica e sentiu vontade de levar para fora da igreja o trabalho que já realizava. Foi aí que nasceu o grupo Ellas.
Ela também atuou por um tempo no projeto Rafa (Ronda de Apoio à Família), da GCM. E, com o desejo de mudar a vida dessas mulheres que sofriam violência dentro da própria casa, começou a organizar passeios para locais turísticos no Espírito Santo, e, até mesmo, para fora do Estado.
E muito mais do que passeios e trilhas, o núcleo criado por Denise também oferece direcionamento para o mercado de trabalho, palestras, confraternizações e até mesmo alimentos para essas famílias, caso estejam em situação de vulnerabilidade.
Além disso, ela possui acordos com profissionais da Educação que, ao perceber comportamentos incomuns em crianças que podem estar presenciando agressões, ela mesmo se encarrega de procurar a família, junto ao Conselho Tutelar. O grupo também promove palestras de conscientização nas escolas.
“Eu me sinto realizada. Perceber o quanto a gente ajuda essas mulheres a encontrarem o seu caminho é gratificante. Nas trilhas e na vida, elas entendem que podem ultrapassar qualquer limite. É fantástico ver o renascimento de uma mulher”.
Um dos maiores sonhos de vida da guarda municipal é criar a Casa Lilás em Cachoeiro, local onde as mulheres, principalmente, as vítimas de violência doméstica, podem se reunir, conversar, fazer amizades e buscar um recomeço.
“Agradeço a Deus, a minha família e a cada mulher que hoje participa do projeto Ellas. Juntas somos mais fortes”, finalizou.
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