Ah, essas pessoas de cabelos brancos! Essas pessoas de cabelos brancos, rugas no rosto e até limitações não se limitam a isso. Muito pelo contrário. Na verdade, são depositárias de muita vida, muitas lutas, muitas dúvidas esclarecidas (ou não), muitos ensinamentos a serem passados. São apenas pessoas que trazem a juventude de quem viveu mais. No entanto, o jovem que sempre vem se esquece que tem tudo isso, muitas vezes, ao seu lado. Geralmente, só lembra disso, quando não está mais.

Essas pessoas chamadas de velhas, por muitos, não nasceram idosas. Foram recém-nascidos, crianças, adolescentes, jovens e adultos. São a fotografia do que todos, que não partem precocemente – por vários motivos, mas muitas vezes, por causa da própria ignorância, da inexperiência e falta de educação, se tornarão um dia. Todo jovem vai ficar velho um dia. Ninguém é jovem para sempre, ao contrário do que diz a música.

E toda essa vida vivida com tantas vias e desvios, vitórias e derrotas, deve ser vista como um tesouro imenso – que alguns jovens sábios reconhecem como sabedoria. Algo a ser aproveitado e lapidado para o progresso das novas gerações.

Idade avançada não significa deixar de pensar e analisar a vida, de ter opiniões. A diferença é que se pensa mais, se reflete mais – sem os arroubos da juventude. Logo, se chega a conclusões, às vezes, um pouco mais demoradas, com mais equilíbrio e com a clarividência de quem já passou por muitas situações que levaram a acertos e erros.

Essas pessoas chamadas de mais velhas não perderam a capacidade de serem homens e mulheres, de amarem, até se apaixonarem, porque a alma não envelhece e muitos continuam sendo jovens com a maturidade de suas idades, com o frescor do jovem idoso. Logo, aí está a diferença, porque os sentimentos não se confundem, já que se apaixonaram e amaram algumas vezes. Então, quando dizem que amam é porque amam.

Por trás dos cabelos brancos, das rugas, dos olhos cansados, existe toda uma história, uma vida de alguém que apenas já percorreu um pouco mais da estrada

Então, não rejeite o que julga ser mais velho, porque nada é ultrapassado até que algo demonstre isso. Não há medicamento ou vacina ou tecnologia, por exemplo, velha ou antiga, até que outra se mostre mais eficiente e a substitua. E, claro, que isso é só um exemplo, porque nenhum ser humano pode ser substituído. Justamente, porque sua história é única e insubstituível, perante aqueles que amou e se deixou amar.

Por trás dos cabelos brancos, das rugas, dos olhos cansados, existe toda uma história, uma vida de alguém que apenas já percorreu um pouco mais da estrada. Mas isso não quer dizer que está acabado ou morto, muito menos ultrapassado. Justamente, porque a única coisa ultrapassada foram os obstáculos dessa estrada da vida, levando em conta que também foi maior a quantidade de paisagens vistas, fossem admiráveis ou trágicas. Logo, merece respeito apenas por isso. Por conhecer mais a vida do que quem nasceu ontem e acha que já sabe tudo sobre o que é viver.

E quando vivemos numa sociedade em que é preciso existir um Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, algo errado não está nada certo. Aliás, vivemos numa sociedade em que muita coisa precisa de um dia de conscientização, porque as pessoas não se dão conta das violências que cometem todos os dias, quando são preconceituosas e cometem qualquer ato de discriminação.

Isso porque vemos novas gerações nas quais a maioria se perde na superficialidade da vida, a resumindo à diversão e à conquista de bens materiais, onde as raízes culturais são esquecidas e desrespeitadas, resumidas ao que chamam de “chato” e “mimimi”. E quem despreza raízes não enxerga que precisa respeitar o que é mais antigo, mais experiente, diferente. Não consegue enxergar que todos somos iguais e temos a mesma origem e fim, seja de que raça, cor, orientação sexual, nacionalidade formos. Ninguém leva o que tem para o túmulo. Apenas o que foi como ser humano nesta existência.