O Rio Grande do Sul é o Estado com maior proporção de idosos do País. De acordo com dados do Censo Demográfico divulgados nesta sexta-feira (27), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de envelhecimento no Estado chegou a 80,4. É essa a quantidade de idosos com 65 anos ou mais para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos. Na outra ponta da tabela, Roraima apresenta índice de 17,4, uma proporção quase cinco vezes menor em comparação com o Rio Grande do Sul.
Os dados atestam um envelhecimento acelerado da população gaúcha. No penúltimo censo, realizado em 2010, esse índice era de 44,6. O Estado também conta com o município com a maior proporção de idosos do Brasil, Coqueiro Baixo, onde o índice de envelhecimento chega a 277,1. Ainda segundo o IBGE, a mediana – número que separa pela metade a população mais jovem e a mais velha – ficou em 38 no Rio Grande do Sul, a mais alta entre todas no País.
Em maio, uma nota técnica produzida pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do governo gaúcho, já apontava um aumento no índice de envelhecimento do Estado. À época, o estudo se baseava em projeções do IBGE a partir do Censo 2010 e considerava os idosos a partir de 60 anos. Os dados projetados estimavam que quase 1/5 da população gaúcha estava nessa faixa etária.
Os números divulgados agora pelo IBGE trazem elementos mais precisos, mas que coincidem com a tendência que vinha sendo observada ao longo dos anos. O levantamento mostra que, atualmente, 14,1% da população gaúcha tem mais de 65 anos. O porcentual é exatamente três vezes maior do que o registrado em 1980.
“O envelhecimento populacional ocorre conforme a taxa de crescimento da população vai caindo. A taxa de crescimento da população brasileira ainda é positiva, mas é cada vez menor ao longo dos anos por conta do menor número de crianças que nascem”, explicou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de População do IBGE. “O Sul e o Sudeste têm as menores proporções de crianças.”
No Rio Grande do Sul, a proporção dos mais jovens caiu quase à metade considerando o recorte a partir de 1980. O IBGE divulgou nesta sexta-feira que os gaúchos entre 0 e 14 anos representam 17,5% da população do estado; há pouco mais de quatro décadas, esse número era de 32,4%.
A farmacêutica aposentada Cristina Bielko, de 66 anos, morou a vida inteira em Porto Alegre e considera que a capital gaúcha é parcialmente preparada para a população mais velha. Se por um lado o acesso à saúde merece elogios, por outro questões de transporte e acessibilidade deixam a desejar.
“Sempre que precisei fazer exames pelo SUS, alguns de sangue que na rede particular custariam muito, fui muito bem atendida. O posto de saúde da minha região oferece feng shui, meditação, acupuntura e aulas de educação física. Consigo marcar consultas pela internet, e se for por telefone há um número exclusivo para os idosos”, relata.
“Mas o trânsito aqui está saturado. Eu sempre dirigi, e hoje não tenho mais coragem de sair com meu carro. E a cidade não pensa em acessibilidade para os idosos. Boa parte das quedas acontecem por falta de melhores acessos ou buracos nas calçadas”, lamenta Cristina.
Ao pesar prós e contras em envelhecer em Porto Alegre, a aposentada não chega a uma conclusão definitiva. “Não é meu sonho de velhice morar para sempre em Porto Alegre. Eu gostaria de morar mais próxima ao mar, em um local mais calmo. Mas as praias aqui no Rio Grande do Sul têm a água muito fria… Por outro lado, conheço o Rio de Janeiro, acho lindo, mas não moraria lá. Se tivesse só essas opções, ficaria por aqui mesmo”, considera Cristina.
Segundo o IBGE, o envelhecimento da população gaúcha tem duas razões principais. “O Rio Grande do Sul ainda é um Estado com saldo migratório negativo. Não só dentro do próprio Estado, mas também para outros Estados. Então, são dois fatores que vão na mesma direção do envelhecimento populacional: fecundidade e migração”, ressalta Izabel Marri.
Com isso, a pirâmide populacional tem sofrido grande transformação no Estado – deixando, inclusive, de ser uma pirâmide. “(Elas) são um instrumento clássico para se analisar a alteração da estrutura etária de uma população por sexo, ao longo do tempo. A base da pirâmide representa as crianças, enquanto o seu topo é referente à população de idosos. O estreitamento da base da pirâmide e o alargamento do seu topo são fluxos que caracterizam uma população em envelhecimento”, explica o IBGE.
A grande discrepância em relação à Roraima tem a ver com um processo mais tardio na redução de taxas de fecundidade naquele Estado, mas também é impactada pelo grande fluxo migratório, destaca a gerente de População do IBGE.
“No Norte, a redução da fecundidade só começou a ocorrer bem depois. Roraima, especificamente, tem uma população indígena grande, que tem fecundidade maior. O Estado conta também com imigração da Venezuela, sobretudo para Pacaraima e Boa Vista, o que também contribui para a queda da idade mediana. Os jovens adultos são os mais envolvidos na imigração”, diz Izabel Marri. “O que faz essa população ser mais jovem é a maior fecundidade e o efeito da imigração.”
Estadao Conteudo
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