A força de Max Mauro
Faleceu recentemente o ex-governador Max de Freitas Mauro, que dirigiu o Espírito Santo entre 1987 e 1991. Foi um grande expoente da nossa política
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em 22 de nov de 2024, às 10h06
Por João Gualberto
Faleceu recentemente o ex-governador Max de Freitas Mauro, que dirigiu o Espírito Santo entre 1987 e 1991. Foi um grande expoente da nossa política. Democrata convicto e homem de expressivo valor moral, teve a trajetória de um grande capixaba. A ele dei meu primeiro voto, quando foi eleito prefeito de Vila Velha, em 1970. Era, na época, um médico humanitário com seu consultório aberto na Prainha, região central do município. A forma como lidava com as dores do povo chamou a minha atenção, por seu caráter assistencialista. Era já muito reconhecido pelos setores mais pobres da população.
Max Mauro não vinha apenas de uma vertente política de maior dedicação ao atendimento popular. Ele era filho de uma antiga liderança trabalhista e getulista, Saturnino Mauro, um dos fundadores do antigo PTB em nosso estado, que havia sido deputado estadual constituinte e sempre lutou em prol dos setores que o trabalhismo defendia: os sindicatos, os trabalhadores, as políticas sociais, sempre voltado às causas populares. Foi nesse berço político, portanto, que se forjaram as marcas do nosso ex-governador.
Max fez de seu mandato de estreia na política um período muito voltado para a construção das relações do poder público municipal com as comunidades, para além da afirmação de sua liderança política. Os movimentos comunitários dos bairros mais carentes de Vila Velha eram uma forma de dar voz a tantos que não tinham como se fazer ouvir. Havia uma política pública democrática e voltada para o fortalecimento dos movimentos de participação popular. É bom lembrar que estávamos no período de força dos governos militares, vivendo o que ficou conhecido como o milagre brasileiro, capitaneado pelo ministro da fazenda Antônio Delfim Neto, com várias vitórias no campo econômico.
Max Mauro foi um dos criadores do MDB – Movimento Democrático Brasileiro -, partido através do qual governou Vila Velha e fez uma política de oposição aos governos militares. Findo o seu período na gestão municipal e graças ao bom mandato que construiu, elegeu-se deputado estadual. Na Assembleia Legislativa lutou bravamente pelo fim do período de exceção em que vivíamos. Por conta da qualidade de sua participação na Assembleia Legislativa ele foi eleito logo depois deputado federal, ocasião em que também ajudou a criar o PMDB, novo formato do seu antigo partido.
Os seus anos de luta em Brasília contra o arbítrio o consagraram como político de aspirações regionais, pois seu mandato teve também forte repercussão entre os capixabas. Por essa razão disputou contra Gerson Camata, em 1982, a convenção do PMDB para a escolha do candidato do partido ao governo do estado. Camata venceu a convenção e Max foi mais uma vez candidato eleito a deputado federal. Em 1986 finalmente elegeu-se de forma consagradora para governador do nosso estado, tendo vencido o muito prestigiado ex-governador Élcio Alvares, passando assim a ocupar o mais alto cargo do poder político capixaba.
O período governamental de Max Mauro foi marcado por sua franqueza e honestidade, com uma postura ética que de fato muitas vezes o conduziu a medidas de centralização que lhe garantissem o controle dos gastos. Marcou o seu governo a instalação do Sistema Transcol, que impactou de forma muito positiva o transporte coletivo na região metropolitana. Além disso, criou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e o nosso sistema de defesa ambiental, além de nova legislação e órgãos descentralizados para a sua execução. O ex-prefeito de Guaçuí, Luiz Moulin, foi primeiro secretário da nova pasta.
A boa avaliação que teve ao final de seu governo o levou a eleger seu sucessor, o então Secretário de Planejamento Albuíno Azeredo. Candidato uma vez mais ao governo do estado em 1994, Max Mauro não obteve êxito, mas foi novamente eleito deputado federal em 1998. Por todos esses e ainda muitos outros motivos, que não cabem neste nosso espaço, devemos de fato homenagear o grande político que acaba de partir. Ele dignificou e honrou o nosso estado, inclusive nos pleitos em que não saiu vencedor, pois nunca se dedicou a desconstruir seus adversários fora da arena política, mantendo seus enfrentamentos sempre na lógica das lutas que se travam no espaço público. Foi, por certo, um homem honrado e merecidamente alcançou o panteão dos mais notáveis capixabas.
** João Gualberto é pesquisador e professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA), e já foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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