Silêncio de Sexta-feira

Na Sexta-feira Santa, o mundo deveria parar. Não por tradição, mas por respeito.

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em 18 de abr de 2025, às 10h33

Foto: Reprodução | Diocese de Cachoeiro
Foto: Reprodução | Diocese de Cachoeiro

Na Sexta-feira Santa, o mundo deveria parar. Não por tradição, mas por respeito. Foi
nesse dia que o céu escureceu no meio da tarde, não por causa do clima, mas porque
algo muito errado aconteceu: mataram o Justo.

Jesus não morreu por acidente. Foi entregue. Julgado às pressas, condenado com
apoio popular, executado como um criminoso qualquer. Ele sabia o que vinha — sentiu
medo, suou sangue, pediu ao Pai que, se possível, afastasse o cálice. Mas não fugiu.
Não se defendeu. Entregou-se.

E aqui está o escândalo: Deus se deixou matar. Não foi vencido pela força, mas pelo
amor. Jesus se entregou, não porque perdeu, mas porque decidiu vencer de outro
jeito: pela cruz; não pela espada!

A Sexta-feira Santa é desconfortável porque mostra até aonde vai o amor de Deus — e
até aonde pode chegar a maldade humana. E, pior, não a maldade “dos outros”, mas a
nossa. A multidão que gritava “crucifica-o” não sumiu com o tempo. Ela continua viva,
cada vez que escolhemos a indiferença. Cada vez que preferimos Pilatos, lavando as
mãos, em vez de se comprometer com a justiça.

Na cruz, Jesus não disse “está tudo acabado”. Ele disse: “está consumado”. Foi o fim da
violência como resposta, o fim da culpa como dívida eterna. O amor foi até o limite e
permaneceu ali, firme, de braços abertos, entre dois ladrões.

Sexta-feira Santa é um convite ao silêncio. Não à tristeza vazia, mas à consciência.
Porque não dá pra olhar para a cruz e seguir a vida como se fosse só mais um feriado.
Alguém morreu por amor. E isso muda tudo — ou deveria.

*** Pe. José Carlos Ferreira da Silva é Mestre em Ciências da Religião, Psicólogo, Escritor e Jornalista, Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Atualmente é Vigário Episcopal para Comunicação e Pároco da Paróquia Nosso Senhor dos Passos na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

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