Economia

Copom deve manter juros em 15% em meio a tensão com os EUA

Entretanto, o recente anúncio do ex-presidente Donald Trump sobre a aplicação de tarifas de 50% a produtos brasileiros reacendeu incertezas quanto ao rumo da política monetária.

Diorgenes Ribeiro Diorgenes Ribeiro

Banco Central batalhas inúteis
Foto: Divulgação

Em meio ao agravamento das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira (29) sua quinta reunião de 2025, com ampla expectativa de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. A decisão será anunciada na quarta-feira (30) e deverá reforçar a postura conservadora da autoridade monetária diante do cenário de instabilidade externa.

A última elevação da Selic ocorreu em junho, quando o BC consolidou sua estratégia de manter a política monetária em patamar significativamente contracionista, com o objetivo de conter a inflação e assegurar o cumprimento da meta de 3% ao ano.

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Para analistas do mercado financeiro, como os do JP Morgan e da XP Investimentos, qualquer mudança na taxa nesta reunião seria “uma surpresa”, uma vez que o BC já havia sinalizado a interrupção do ciclo de alta. “Os dados desde a última reunião foram, em geral, benignos para a inflação”, aponta relatório da XP, citando desaceleração da atividade econômica e deflação no atacado como fatores que favorecem a manutenção da Selic.

Entretanto, o recente anúncio do ex-presidente Donald Trump sobre a aplicação de tarifas de 50% a produtos brasileiros reacendeu incertezas quanto ao rumo da política monetária. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, tem potencial de enfraquecer o crescimento do PIB e ampliar a pressão sobre o real, podendo afetar os preços domésticos e, consequentemente, as decisões do Copom.

Embora técnicos do Banco Central avaliem que o impacto imediato seja limitado e insuficiente para alterar a trajetória da Selic no curto prazo, a possibilidade de escalada nas tensões — com eventuais retaliações do governo brasileiro — acende o alerta.

Segundo a economista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, uma resposta tarifária por parte do Brasil pode ser interpretada como um fator inflacionário, forçando o BC a adotar uma postura ainda mais rígida. “Isso afastaria a perspectiva de cortes de juros e reforçaria o tom hawkish do Comitê”, analisa.

O economista Leonardo Costa, da ASA Investments, vê no tarifaço a principal incerteza do momento. Para ele, o comunicado do Copom deve manter o discurso de vigilância e resiliência, destacando a necessidade de juros altos por um período prolongado.

A expectativa é que a autoridade monetária só volte a cortar a Selic em março de 2026, reduzindo a taxa para 14,5%, conforme aponta o Boletim Focus mais recente.

A conjuntura internacional também pesa. O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, também anuncia decisão sobre juros nesta quarta. Embora o cenário americano exija atenção redobrada — com sinais de retomada da atividade e inflação sob viés de alta —, há expectativa de manutenção da taxa por lá também.

“Nos EUA, o quadro é mais delicado. A inflação ainda preocupa e a confiança do consumidor continua instável. O Fed, assim como o BC, terá de calibrar bem sua comunicação”, avalia o professor José Francisco de Lima Gonçalves, da FEA-USP.

Diante desse cenário de pressão geopolítica e incertezas econômicas, o Copom se vê desafiado a manter o equilíbrio entre controle inflacionário e estímulo ao crescimento, sem abrir mão da credibilidade institucional conquistada nos últimos anos.

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Diorgenes Ribeiro
Diorgenes Ribeiro

Formado em Licenciatura em Geografia, é Pós-graduação em Educação Ambiental e Jornalismo. Atualmente estuda Administração. Com vasta experiência na área, já atuou na gestão privada e pública.