A educação como refém de interesses pessoais
A escola deveria ser o espaço onde a ética e a justiça prevalecem, onde decisões são tomadas com base no bem comum, e não em interesses particulares
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em 11 de fev de 2025, às 09h25

Por Eduardo Machado
Essa coluna é dedicada a todos os profissionais da educação que já sofreram injustiças por parte de suas administrações diretas e indiretas.
A escola deveria ser o espaço onde a ética e a justiça prevalecem, onde decisões são tomadas com base no bem comum, e não em interesses particulares. No entanto, a realidade muitas vezes se distancia desse ideal. Em diversos ambientes educacionais, as gestões se transformam em um jogo de poder, onde quem deveria zelar pela imparcialidade e pela qualidade do ensino se entrega a um sistema de favorecimentos, perseguições e agendas pessoais.
O que acontece quando a escola, que deveria ser um refúgio de aprendizado e desenvolvimento, se torna palco de disputas silenciosas, onde o mérito dá lugar ao compadrio? Quando as oportunidades são distribuídas não pelo esforço, mas pelo círculo de amizades? Quando a ética cede espaço para a conveniência? O resultado é um ambiente tóxico, onde professores e alunos pagam o preço da corrupção velada.
Os professores temporários, por exemplo, vivem sob um sistema de incertezas que não deveria ser agravado pela má administração. Em vez de serem avaliados pelo seu compromisso com o ensino, são frequentemente usados como peças descartáveis, expostos a perseguições e arbitrariedades. Se não fazem parte do grupo certo, se não se curvam às vontades de quem detém o poder, tornam-se alvos fáceis de injustiças e represálias. Esse tipo de prática, além de desrespeitosa, mina a qualidade do ensino, pois profissionais capacitados são silenciados ou removidos por razões que nada têm a ver com seu desempenho.
E os alunos? Esses são as maiores vítimas de um sistema corrompido. Em um ambiente onde o ódio gratuito e as intrigas ocupam o espaço da ética e do compromisso educacional, a aprendizagem se torna secundária. Professores desmotivados não conseguem ensinar com a mesma paixão. A saúde mental de toda a comunidade escolar é afetada. A escola, que deveria inspirar, se torna um fardo.
O que dizer de gestores que, em vez de promover um ambiente de respeito e crescimento, permitem – e até incentivam – práticas antiéticas? Que protegem aqueles que compactuam com seu jogo de interesses e marginalizam os que ousam questionar? Essa é uma realidade comum na administração pública, onde o poder se sobrepõe ao compromisso com o coletivo. A educação, que deveria ser um pilar de transformação, é convertida em moeda de troca para quem quer manter sua influência a qualquer custo.
Mas o problema não para aí. Há uma estrutura maior que permite e alimenta essas distorções. Os governantes, secretários e demais autoridades educacionais, muitas vezes, parecem distantes da realidade das escolas. Do conforto de seus gabinetes, tomam decisões que ignoram a precariedade do cotidiano escolar, perpetuam nomeações políticas sem critério técnico e fecham os olhos para as práticas abusivas que ocorrem em suas gestões. Quando visitam as escolas – se é que visitam –, veem apenas o que lhes é apresentado de forma conveniente.
A falta de fiscalização e transparência nas superintendências regionais de ensino é um reflexo direto dessa ausência de compromisso. Quantas denúncias são arquivadas sem resposta? Quantas perseguições ocorrem sob o olhar cúmplice dos que deveriam intervir? Quantos professores, essenciais para a formação de novas gerações, são descartados porque ousaram questionar?
A responsabilidade sobre o que acontece dentro das escolas não pode ser jogada apenas sobre diretores e coordenadores. Se há favorecimentos, perseguições e desmandos, é porque existe uma estrutura hierárquica que os permite e os sustenta. Os governantes e secretários que ignoram essas práticas são tão culpados quanto aqueles que as executam. O silêncio e a omissão de quem ocupa cargos de poder são, na prática, uma autorização para que a corrupção continue corroendo a educação pública.
O problema não é novo, mas a omissão nunca pode ser a resposta. Enquanto a educação for refém de interesses pessoais e mesquinharias políticas, estaremos perpetuando um ciclo que sufoca o potencial transformador da escola. O professor que se vê acuado por esse sistema precisa de suporte e voz. O aluno que percebe a falta de compromisso da gestão merece um ambiente melhor. E a sociedade, como um todo, precisa entender que a corrupção no ambiente escolar não é um problema isolado — é o reflexo de uma estrutura que precisa ser urgentemente reformulada.
Se a educação é realmente prioridade, como tantos discursos políticos fazem parecer, então que se prove isso na prática. Que se acabem os apadrinhamentos, que se estabeleçam critérios justos e transparentes para contratações e progressões, que se escutem os professores que estão na linha de frente e que se combata, com a seriedade necessária, qualquer forma de abuso de poder. O futuro da educação não pode continuar sendo comprometido pela covardia e conivência de quem deveria protegê-la.
** Eduardo Machado é filósofo e professor especialista de Filosofia, licenciado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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