A necessidade de capacitar agentes de segurança para atender PCD
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) representa um marco histórico na luta por uma sociedade mais justa e inclusiva
8 mins de leitura
em 18 de nov de 2024, às 09h37
Por Marcel Carone
A capacitação de profissionais de segurança emerge como um elemento fundamental para garantir a proteção e a inclusão das pessoas com deficiência.
Profissionais de segurança capacitados são capazes de identificar as necessidades específicas de cada pessoa com deficiência, oferecer um atendimento personalizado e garantir a segurança de todos.
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) representa um marco histórico na luta por uma sociedade mais justa e inclusiva. Ao garantir os direitos das pessoas com deficiência, a LBI impulsiona a construção de um país onde todos tenham as mesmas oportunidades e possam participar plenamente da vida social. No entanto, a efetivação desses direitos depende não apenas da legislação, mas também da mudança de atitudes e práticas. Neste contexto, a capacitação de profissionais de segurança emerge como um elemento fundamental para garantir a proteção e a inclusão das pessoas com deficiência.
Imagine um jovem autista não verbal, com cerca de 15 anos, em meio a uma crise sensorial em um espaço público. A crise se manifesta em movimentos repetitivos, vocalizações e resistência ao contato físico. Um agente da Guarda Municipal, sem treinamento específico para lidar com pessoas com autismo, é chamado para a situação. Em vez de tentar compreender a crise e oferecer apoio, o agente interpreta o comportamento do jovem como agressivo ou desafiador. Ele se aproxima de forma abrupta, ordena que o jovem se acalme e utiliza força física para contê-lo, intensificando ainda mais a crise e causando sofrimento ao jovem.
A Maneira Inadequada de Lidar com um Jovem Autista Não Verbal Durante uma Crise
Falta de conhecimento sobre autismo: O agente da Guarda Municipal desconhece as características do autismo, como as dificuldades de comunicação, as sensibilidades sensoriais e as reações inesperadas a estímulos.
Falta de treinamento específico: A ausência de treinamento em abordagens sensíveis e adequadas para pessoas com autismo impede que o agente de segurança identifique a crise e responda de forma apropriada.
Preconceito e estereótipos: O agente da Guarda Municipal pode ter preconceitos em relação ao autismo, interpretando o comportamento do jovem como falta de disciplina ou má conduta.
Falta de empatia: A incapacidade de se colocar no lugar do jovem e compreender sua perspectiva contribui para uma abordagem mais rígida e pouco compassiva.
Uso excessivo da força: A utilização da força física, mesmo que com a melhor das intenções, pode agravar a situação e causar traumas psicológicos ao jovem.
A Maneira Apropriada de Lidar com um Jovem Autista Não Verbal Durante uma Crise
Manter a calma: É fundamental que o agente da Guarda Municipal mantenha a calma e evite reações impulsivas. A ansiedade do agente pode intensificar a crise do jovem.
Criar um ambiente seguro: O agente deve procurar um local tranquilo e seguro para que o jovem possa se acalmar. Evitar aglomerações e ruídos excessivos é essencial.
Manter distância: O agente de segurança deve manter uma distância segura do jovem, evitando movimentos bruscos e contato físico não desejado.
Comunicação não verbal: Utilizar gestos suaves, expressões faciais amigáveis e contato visual moderado pode ajudar a estabelecer uma comunicação não verbal.
Utilizar ferramentas visuais: Se possível, utilizar imagens ou objetos para auxiliar na comunicação. Por exemplo, mostrar um desenho de uma pessoa calma pode ajudar o jovem a entender a expectativa.
Buscar informações sobre o jovem: Se possível, procurar informações sobre o jovem com seus cuidadores ou familiares. Essa informação pode fornecer pistas sobre seus gatilhos e como melhor ajudá-lo.
Trabalhar em equipe: Se outros profissionais estiverem presentes, como terapeutas ou educadores, o agente da Guarda Municipal deve trabalhar em conjunto com eles para oferecer o melhor apoio ao jovem.
Priorizar a segurança: A segurança do jovem e de todos os envolvidos deve ser sempre a principal preocupação. No entanto, a força física deve ser utilizada como último recurso e de forma controlada.
Documentar a ocorrência: É importante documentar toda a interação com o jovem, incluindo as ações realizadas e a reação do jovem. Essa documentação pode ser útil para futuras intervenções e para a avaliação da eficácia das estratégias utilizadas.
Buscar capacitação: Os profissionais de segurança devem passar por um treinamento especializado para lidar com pessoas no espectro autista. Esse treinamento deve incluir aspectos fundamentais como técnicas de comunicação não verbal, estratégias para gestão de crises e a valorização da empatia.
Ao lidar com um jovem autista não verbal em crise, a abordagem deve ser pautada pela empatia, pela compreensão e pela busca por soluções pacíficas. Em vez de reagir à crise com força, o agente de segurança deve buscar entender as necessidades do jovem e oferecer um ambiente seguro e acolhedor. A comunicação não verbal, a utilização de ferramentas visuais e a colaboração com outros profissionais são essenciais para garantir a segurança e o bem-estar do jovem. A capacitação dos profissionais de segurança é fundamental para que eles possam atuar de forma eficaz e respeitosa, contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva.
Os profissionais de segurança desempenham um papel crucial na sociedade, sendo responsáveis por garantir a ordem, a tranquilidade e a proteção das pessoas. No entanto, para atuarem de forma eficaz e respeitosa com pessoas com deficiência, é necessário que esses profissionais sejam devidamente capacitados. A capacitação deve ir além do conhecimento teórico sobre a legislação e os diferentes tipos de deficiência. É preciso que os profissionais desenvolvam habilidades práticas para lidar com situações específicas, como a comunicação com pessoas com deficiência intelectual, auditiva ou visual, a condução de abordagens em crises e a garantia da acessibilidade em diferentes ambientes.
Ao investir na capacitação de seus profissionais, as instituições demonstram seu compromisso com a diversidade e a inclusão. Profissionais de segurança capacitados são capazes de identificar as necessidades específicas de cada pessoa com deficiência, oferecer um atendimento personalizado e garantir a segurança de todos. Além disso, a capacitação contribui para a construção de uma cultura organizacional mais inclusiva, na qual todos se sintam valorizados e respeitados.
Os benefícios da capacitação dos profissionais de segurança transcendem a esfera individual, impactando positivamente a sociedade como um todo. Um profissional de segurança capacitado é capaz de:
Garantir a segurança de todos: Ao atender as necessidades específicas das pessoas com deficiência, o profissional de segurança contribui para um ambiente mais seguro para todos.
Promover a inclusão social: Ao interagir de forma respeitosa e eficaz com pessoas com deficiência, o profissional de segurança contribui para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Resolver conflitos de forma pacífica: A capacitação proporciona aos profissionais as ferramentas necessárias para lidar com situações complexas e evitar conflitos.
Melhorar a imagem da instituição: Instituições que investem na capacitação de seus profissionais demonstram seu compromisso com a qualidade e a ética.
A capacitação dos profissionais de segurança não se limita à transmissão de conhecimentos teóricos. É fundamental que os treinamentos sejam práticos e ofereçam aos participantes a oportunidade de vivenciar situações reais e desenvolver habilidades de comunicação, empatia e resolução de problemas. Além disso, é importante que os programas de capacitação sejam contínuos e adaptados às novas demandas da sociedade.
Investir na capacitação de profissionais de segurança é essencial para assegurar a inclusão das pessoas com deficiência. Durante o VII CONGREVES, Congresso Estadual de Vereadores do Espírito Santo, a ASCAMVES (Associação das Câmaras de Vereadores do Espírito Santo) lançará uma cartilha com propostas inovadoras voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência. Tenho a honra de assinar esta cartilha, que inclui diversos projetos, entre os quais destaco um projeto de lei voltado à qualificação dos agentes da Guarda Civil Municipal para atender de forma adequada e respeitosa as pessoas com deficiência. Esta iniciativa, apresentada no principal evento dos vereadores capixabas, reafirma nosso compromisso com a construção de uma sociedade mais justa, humana, segura e inclusiva.
Marcel Carone é jornalista, apresentador de tv, empresário, ativista social comprometido com a inclusão, Embaixador da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Síndrome de Down do Espírito Santo Vitória Down, Idealizador da “Brigada 21” e do “Pelotão 21”. É diplomado pela ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra e Comendador do 38° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
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