Amor em forma de pratos lavados
Era dia das Mães, missa das oito horas da manhã. Igreja cheia, cheirinho de flores, clima de festa misturado com oração
3 mins de leitura
em 16 de maio de 2025, às 10h02

Por Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Era dia das Mães, missa das oito horas da manhã. Igreja cheia, cheirinho de flores, clima de festa misturado com oração. A liturgia correu bonita, as crianças mais inquietas que o normal — o que já era esperado. No momento dos avisos, antes da bênção final, resolvi fazer algo simples, desses gestos que não constam no missal, mas moram na memória: chamei as crianças ao presbitério.
Vieram correndo, tropeçando umas nas outras, como sempre. Em vez de ficar de pé diante delas, sentei com calma nos degraus do presbitério. Quis ficar perto, no mesmo nível, como Jesus faria. Elas se sentaram ao redor, curiosas. E eu comecei a conversa:
— O que vocês deram de presente para mamãe hoje?
Vieram as respostas, rápidas e honestas:
“Uma cartinha!”
“Um sapato novo!”
“Um desenho!”
“Uma panela!” — essa arrancou risadas sinceras dos fiéis, com aquele riso cúmplice de quem conhece o gosto simples das mães.
Foi então que uma menina, miudinha, de voz tranquila, disse:
— Eu dei amor. Em forma de carinho.
Silêncio. Não um silêncio de espanto, mas de reverência. Aquelas palavras tinham peso — e leveza.
Aproveitei o momento:
— Que bonito. O amor é o maior presente. E ele pode vir em várias formas: carinho, abraço, um gesto, até um presente comprado, quando é dado com o coração.
E quando pensei que já tínhamos ouvido a melhor resposta da manhã, uma outra criança, com a espontaneidade que só os pequenos têm, completou:
— O meu amor pela minha mãe é lavar os pratos.
Foi impossível conter o riso — o meu e o da assembleia inteira. Mas não foi riso de deboche. Foi aquele riso limpo, que nasce do espanto diante da verdade dita sem rodeios. Lavar pratos, por amor. Eis a definição mais concreta de caridade doméstica que ouvi em tempos.
Naquele instante, ali sentado com elas nos degraus do presbitério, entendi mais uma vez o que o Evangelho sempre tenta nos ensinar: o amor não precisa ser grandioso, só precisa ser sincero. Pode vir embrulhado em papel de presente, mas também pode estar escondido entre espuma e louça suja.
Na bênção final, dei graças por todas as mães. Mas no fundo, agradeci especialmente por aquela pequena catequese improvisada. Porque ali, com as crianças ao meu lado, mais uma vez fui lembrado que amar é servir. E que, para uma mãe, o presente mais bonito não vem de uma loja, mas do coração pequeno que aprende a cuidar, mesmo com as mãos ainda cheias de sabão.
** José Carlos Ferreira da Silva é Vigário Episcopal para Comunicação da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, Pároco da Paróquia Nosso Senhor dos Passos, bairro Independência, Cachoeiro de Itapemirim, Mestre em Ciências da Religião, Jornalista e Psicólogo.
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM
Receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta clicar aqui