Barbie e o fato social

Poder-se-ia dizer que todos somos livres para usarmos o look que quisermos, mas isso é mentira.

Foto: Pixabay

Recentemente minhas redes sociais foram inundadas com conteúdos acerca do filme da Barbie. A cor de rosa, antes só mais uma dentre várias, finalmente voltou ao protagonismo. Não vou entrar nos méritos da produção, simplesmente por não ter visto, pois a coluna será sobre as pessoas estarem vestidas de rosa.

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Antes de mais nada, não tenho objeções contra usar rosa, afinal possuo várias camisetas dessa cor (inclusive, três cópias idênticas, por 3 euros cada durante meu último intercâmbio). Sendo assim, cabe a mim lançar um olhar social relativo ao comportamento de manada do ser humano.

O rosa, símbolo da docilidade feminina e da Barbie, tornou-se um pré-requisito. Por conta disso, as roupas mofadas no guarda-roupa voltaram a ser utilizadas e, enquanto isso, os lojistas também fizeram a festa com a repentina explosão de consumidores ávidos por um traje adequado.

Felizmente ou não, as normas sociais obrigaram as mulheres e alguns homens a adotarem a vestimenta “apropriada” para apreciar a obra cinematográfica. Poder-se-ia dizer que todos somos livres para usarmos o look que quisermos, mas isso é mentira.

Já dizia o célebre Durkheim, o fato social, vestir rosa, é coercitivo (exerce poder em relação aos indivíduos), exterior (não depende do indivíduo) e geral (vale para todos os indivíduos). Todos esses elementos são mais do que suficientes para impelir um comportamento de manada.

Baseado no fato social, pode-se ver claramente a influência da Barbie. Não utilizar rosa, pelo menos por enquanto e principalmente durante o filme, é uma transgressão passível de punição pela sociedade. Se as vestimentas não atenderem aos padrões momentâneos, a pessoa pode ser rotulada de “fora da moda” ou até mesmo de não ser “mulher”.

Caro leitor, você também poderia me chamar de chato, afinal estou a racionalizar um fato banal do cotidiano. Contudo, essa crítica também prova meu ponto principal: é difícil lutar contra o fato social, haja vista sua coercitividade. Justamente pela dificuldade, cederei às pressões e também terei de adaptar minhas aulas para o conceito Barbie, de modo a atrair a atenção dos alunos.

Não se preocupem, a moda da Barbie vai passar e o rosa vai voltar ao normal, readaptando o fato social para a realidade anterior. Ou seja, vamos dar tempo ao tempo.

Rafael Altoé Frossard é professor do Centro Universitário São Camilo – ES e mestrando em Administração pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM